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Estudos mostram que a desigualdade entre negros e brancos se aprofundou durante a pandemia

Economista e integrante da Rede de Economistas Pretas e Pretos comenta os impactos econômicos da pandemia sobre a população negra

José Henriques Junior é um dos coordenadores do Rede de Economistas Pretas e Pretos.
José Henriques Junior é um dos coordenadores do Rede de Economistas Pretas e Pretos. Foto disponível no Twitter pessoal do economista.

O mercado de trabalho é uma das instâncias onde se expressa a estrutura de desigualdades presente na dinâmica social. Dois estudos lançados recentemente mostraram que a persistente desigualdade entre negros e não negros no mercado de trabalho ficou ainda mais acentuada durante a pandemia. Homens e mulheres negros sentiram, com maior frequência, os danos do isolamento e da redução do nível de atividade econômica. O primeiro desses estudos é o “Trabalho, população negra e pandemia: notas sobre os primeiros resultados da PNAD covid-19”, produzido pela Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (Diest), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). O outro é o “Desigualdade entre negros e brancos se aprofunda durante a pandemia”, um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Esses dois estudos se baseiam em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Segundo o levantamento, mais de 6,4 milhões de homens e mulheres negros saíram da força de trabalho – como ocupados ou desempregados, entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, isto é, perderam ou deixaram de procurar emprego por acreditar não ser possível conseguir nova colocação. Entre os brancos, o número de pessoas nessa mesma situação chegou a 2,4 milhões. Para comentar esses dados, o Conexões recebeu José Henriques Junior, que é economista, doutorando em Economia na UnB e integrante da Rede de Economistas Pretas e Pretos.

As pessoas que se declararam pretas e pardas correspondiam, em junho de 2020, a 54,9% da força de trabalho, sendo 52,5% dos ocupados e 60,3% dos desocupados neste mês de referência. Quando as empresas precisaram enfrentar o distanciamento social, e o vínculo empregatício passou a depender do trabalho remoto em muitas delas, foram os cidadãos pretos e pardos que mais sofreram afastamento do trabalho e também os que menos se beneficiaram do novo regime a distância. Ainda assim, as perspectivas não eram muito diferentes fora da realidade da covid-19. A desigualdade de ocupações, salários e representatividade no mercado de trabalho está relacionada a todo o histórico racial do país.

“A gente tem que ter noção dessa desigualdade estrutural que existe no Brasil e tem que ter políticas que visem atacar esse problema estrutural. Se não, voltamos para a mesma situação, pode ter 2 ou 3% de crescimento, mas com a menor representatividade da população negra, sempre ganhando menos, sempre sendo mais violentada…”, reivindica o economista José Henriques Junior. 

Ouça a conversa com Luíza Glória

Para saber mais sobre os estudos baseados nos dados da PNAD Covid-19, acesse o “Trabalho, população negra e pandemia: notas sobre os primeiros resultados da PNAD covid-19” e o “Desigualdade entre negros e brancos se aprofunda durante a pandemia”.

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Produção: Arthur Bugre e Luiza Glória
Publicação: Isadora Oliveira, sob orientação de Luiza Glória