Saúde

HC é pioneiro em Minas no transplante de fígado intervivos pediátrico

A garota Valentina, de 1 ano, recebeu parte do órgão do pai

Valentina com o pai, Alexandre, e a mãe:
Valentina com o pai, Alexandre, e a mãe: transplante era a única alternativa possível de tratamentoArquivo Hospital das Clínicas / UFMG

Um bebê de um ano de idade, com seis quilos e diagnóstico de cirrose hepática por deficiência de alfa-1-antitripsina (AATD), doença genética que pode gerar implicações graves no fígado e necessidade de transplante, ganhou uma nova chance de vida graças a um procedimento inédito em Minas Gerais, o transplante hepático intervivos pediátrico, realizado pelo Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh. A pequena Valentina, que recebeu parte do fígado do pai há cerca de dois meses, ganhou alta hospitalar na última sexta-feira, dia 10, e pode passar o seu primeiro fim de semana em família. Pai e filha estão bem.

Nesse tipo de transplante de alta complexidade, uma pessoa saudável é a doadora. Se o seu tipo sanguíneo for compatível com o do receptor, ela tem uma parte do fígado retirada, por meio de cirurgia, e colocada no lugar do fígado da criança doente. Não é necessário aguardar em fila de espera pela doação do órgão.

“A Valentina chegou ao HC há cerca de dois meses com apenas 6 quilos e em estado de saúde grave. O transplante de fígado era o único tratamento possível. Tínhamos três possibilidades: encontrar um doador falecido do tamanho dela, o que é muito raro, reduzir o fígado de um doador adulto falecido, em boas condições clínicas, ou realizar o transplante intervivos. Com a pandemia, o número de doações de órgãos caiu muito, e a Valentina não podia esperar. Diante desse cenário, o transplante intervivos acabou sendo o mais indicado", afirma o cirurgião Leandro Navarro Amado, coordenador do Grupo de Transplante Hepático do HC-UFMG.

Uma pequena parte do fígado do pai de Valentina, o empreiteiro Alexandre Lopes Pereira, de 39 anos, foi retirada e, quase que simultaneamente, implantada no bebê. Pai e filha ficaram juntos o tempo todo no bloco cirúrgico. “Foram aproximadamente oito horas de cirurgia. O curto espaço de tempo em que o órgão fica fora da circulação (cerca de 50 minutos) é o maior diferencial do transplante hepático intervivos, pois o funcionamento do fígado é imediato e o resultado é muito melhor”, destaca Leandro Amado.

Equipe médica durante o transplante
Equipe médica durante o transplante Arquivo Hospital das Clínicas / UFMG

Assim como ocorre no transplante hepático intervivos adulto, o fígado vai se regenerar tanto no doador quanto no receptor.

Processo
A equipe responsável pelo transplante foi composta de 15 profissionais, entre médicos e enfermeiros. Por causa da pandemia do novo coronavírus, os protocolos de segurança foram redobrados, visando à saúde de pacientes e equipe. Alexandre foi testado negativo para a covid-19 dois dias antes do transplante.

Pioneirismo
O transplante hepático intervivos pediátrico é mais uma conquista do Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh, hospital universitário que é 100% mantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e foi pioneiro em Minas Gerais no transplante hepático intervivos adulto – a primeira operação foi realizada em 2003. Assim, a instituição também tornou-se referência do estado para esse tipo de transplante.

Luna Normand / Hospital das Clínicas