Meio Ambiente

Veredas no Norte de Minas serão recuperadas com técnica desenvolvida no campus Montes Claros

Realizado em parceria com o Ministério Público, projeto se baseia na construção de barragens subterrâneas

Barragens subterrâneas possibilitam recuperação de veredas mortas
Barragens subterrâneas possibilitam recuperação de veredas mortas Imagens: Flávio Pimenta (arquivo pessoal)

A Fundação de Apoio da UFMG, a Fundep, e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) assinaram, na semana passada, um contrato para a recuperação de até 100 veredas degradadas no Norte de Minas. A primeira etapa do trabalho, em que serão revitalizadas as primeiras 20 veredas, será financiada por um recurso de R$ 1,080 milhão já aportado pela plataforma Semente, do Ministério Público.

Construção de barragem subterrânea para recuperação de veredas
Construção de barragem subterrânea para recuperação de veredas Foto: Flávio Pimenta (arquivo pessoal)

O professor Flávio Pimenta de Figueiredo, do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFMG, em Montes Claros, coordena o projeto. Em 2005, o docente desenvolveu uma tecnologia de barragens subterrâneas. A técnica auxilia na elevação do lençol freático das veredas, o que, por sua vez, colabora com a sua recuperação.

“As primeiras dessas barragens foram feitas em São Romão, mas aquela que considero o projeto piloto, propriamente, é a de Januária, feita em 2017. Na ocasião, um incêndio atingiu a região de Pandeiros, zona rural do município, e alcançou uma vereda. Com a construção da barragem e a elevação do lençol freático, houve sua regeneração”, ele conta.

Segundo Flávio Pimenta, a ação humana é a principal responsável pela degradação das veredas. “Incêndios provocados e o uso de agricultura e pecuária sem acompanhamento correto estão entre as principais causas da redução das veredas na região”, afirma.

Revitalização das 'caixas d´água'
Veredas são terrenos brejosos, de vegetação rasteira, situados como várzeas, pertos dos rios. Na região dos cerrados, o termo refere-se mais especificamente aos cursos de água orlados por buritizais, pontos de convergência para a vida humana e animal. Ali, as veredas funcionam como verdadeiras caixas d’água, e, por isso, são áreas de preservação permanente.

Em razão disso, a situação das veredas brasileiras tem sido uma das preocupações de pesquisadores e autoridades ambientais por causa do risco de sua extinção. “Esse projeto é pioneiro no Brasil e chega como estratégia de revitalização das ‘caixas d’água’ do Norte de Minas Gerais”, conta o professor.

A escolha das veredas a serem recuperadas no projeto foi feita em parceria com os institutos Estadual de Florestas (IEF) e Mineiro de Gestão das Águas (Igam), que emitiram laudos para as veredas a serem restauradas. “Como a intervenção será feita em áreas de preservação permanente, os órgãos ambientais ajudaram a escolher veredas mortas para o projeto, isto é, terrenos que não se recuperariam sozinhos”, explica o professor. 

Cada barragem do projeto tem um custo médio de R$ 50 mil. A primeira etapa será realizada em Januária, em São Francisco e em São Romão. Nela serão revitalizadas vinte veredas, valendo-se do recurso aportado pela plataforma Semente. Segundo Flávio Pimenta, as atividades do projeto de recuperação devem começar já neste mês.

Ana Cláudia Mendes | Cedecom Montes Claros