Artigo científico de pesquisadores da UFMG sobre conservação dos campos rupestres é classificado como o mais influente da área de botânica

O artigo Ecologia e evolução da diversidade de plantas no campo rupestre em risco de extinção: uma prioridade de conservação negligenciada foi reconhecido como o mais influente trabalho na área de botânica de todos os publicados pela Editora Springer em 2016. A classificação ocorreu em julho de 2018 e a lista completa pode ser conferida em no site da editora. O artigo foi escrito por professores do Departamento de Botânica e de Biologia Geral do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, em parceria com pesquisadores estrangeiros e de outras partes do Brasil.

Para Fernando Silveira, professor da UFMG e um dos autores do artigo, a grande importância de seu trabalho se dá pelo fato de que ainda são poucos os cientistas familiarizados com os campos rupestres. “Este é um ecossistema de montanha, que ocorre nas partes mais elevadas da Cadeia do Espinhaço, no centro e no leste do Brasil, extremamente antigo, que ao mesmo tempo se constitui como museu de antigas linhagens e berço de diversificação contínua de linhagens endêmicas”, esclarece.

A partir de levantamento bibliográfico, foi possível comparar os dados brasileiros com o de vegetações similares existentes na chamada região florística do sudoeste da Austrália e da região do Cabo, da África do Sul. “Como os estudos no exterior estão mais avançados, podemos aprender com eles melhores formas de conservar e restaurar o nosso campo rupestre”, afirma Silveira.

Uma das principais conclusões do artigo é que as crescentes ameaças ao campo rupestre - devido principalmente ao extrativismo mineral e à especulação imobiliária -, estão comprometendo os serviços ecossistêmicos, ou seja, os benefícios que se pode obter da natureza. Um exemplo disso é o fato de que muitas áreas de campo rupestre são locais de recarga de água. “Em tempos de crise hídrica, conservar o campo rupestre é a estratégia ecológica e economicamente mais interessante e viável”, defende o pesquisador.

No artigo também ficou demonstrado que o campo rupestre é diferente do cerrado brasileiro e sua vegetação é mais parecida com a de outros locais do planeta. Para isso os pesquisadores usaram uma teoria que tenta explicar a evolução ecológica e guia as melhores práticas de conservação para a biota em paisagens inférteis e climaticamente protegidas.

A diversidade de algumas linhagens de plantas do campo rupestre, nas terras mais altas, é anterior à diversificação ocorrida no cerrado, nas terras baixas. “Isso sugere que a vegetação desse bioma pode ser a mais antiga do leste da América do Sul”, destaca o professor, que também integra o Programa de Pós-graduação em Botânica e Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre.

Ecossistema primordial

Campo rupestre é um bioma tropical que compreende mais de 5.000 espécies de plantas, quase 15% da diversidade de plantas do Brasil, em área correspondente a 0,78% do território nacional. “O mais grave é que 40% dessas plantas não ocorrem em nenhum outro lugar do mundo. Isto significa que, apenas de espécies exclusivas, esse ecossistema tem mais tipos de plantas do que toda a Europa ocidental. E em uma área um pouco maior do que a Holanda”,destaca Fernando Silveira.

Em Minas Gerais este bioma é ainda palco de algumas das principais atrações turísticas locais, incluindo cidades históricas como Ouro Preto, Tiradentes, São João Del Rey e Diamantina, e paraísos naturais como as serras do Cipó, da Canastra e do Caraça.

“Muita gente pensa que a Amazônia é a área mais biodiversa no planeta. Mas, se ponderamos a biodiversidade por unidade de área, a Serra do Espinhaço talvez seja a área mais biodiversa em todo planeta”, afirma o professor. Porém, a importância dos campos rupestres não se resume apenas a aspectos da biodiversidade.

A Serra do Espinhaço também possui importância histórica e econômica – devido à retirada de ouro e diamantes no período colonial, e, atualmente, de ferro. “Portanto, é justo dizer que a vegetação de campo rupestre detém um patrimônio geológico, biológico, cultural e econômico. Mas, todo este patrimônio continua fortemente ameaçado por diversas atividades, principalmente relacionadas à mineração”, alerta.

Leia o artigo: Ecology and evolution of plant diversity in the endangered campo rupestre: a neglected conservation priority

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