Artigo de professores da UFMG demonstra crescimento de coautorias em artigos científicos internacionais

Conexões internacionais na produção da ciência crescem mais que exponencialmente; pesquisadores mostram que rede manteve hierarquia e poucas inst

Em um período de 15 anos, a partir do ano 2000, as conexões entre países na forma de coautorias em artigos científicos cresceram quase 13 vezes – saíram de 545 mil, em 2000, para mais de 7 milhões, em 2015. E não se vislumbra sinal de limites para esse crescimento.

O dado impressionante encerra uma boa notícia – o aumento do fluxo global de conhecimento incrementa a inovação e gera soluções para diversos problemas, mais ou menos localizados –, mas chega acompanhado também de uma constatação negativa: o padrão de crescimento se mantém, ou seja, sobrevive o alto grau de hierarquização da rede internacional, em que poucas instituições e países continuam determinando a agenda de pesquisa.

A informação está relacionada a um dos resultados, mais relevantes de estudo, realizado por pesquisadores da UFMG e do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro), publicado no primeiro número de 2018 da revista Scientometrics. E as conclusões do trabalho foram tema de matéria publicada neste mês pela Nature Index, revista do grupo britânico Nature que avalia indicadores de produção científica.

No artigo Growth patterns of the network of international collaboration in science, o grupo da UFMG e Inmetro cumpre mais uma etapa de estudos sobre fluxos de conhecimento transfronteiras. Depois de trabalhar com citações de artigos e patentes, entre outros indicadores, eles mediram, com ajuda de algoritmos criados especialmente para esse fim, os vínculos formados pelas coautorias que envolvem países diferentes.

Comportamento da rede

O ineditismo do estudo está ancorado na grande amplitude da base de dados e na análise da estrutura do comportamento da rede. “A principal contribuição do estudo foi demonstrar, por meio da observação da rede, que ela se expande preservando uma hierarquia significativa. Em 2015, como em 2000, muitas instituições interagem com pouquíssimas outras, e muito poucas – como as universidades de Oxford e Cambridge, no Reino Unido – conectam-se com uma grande quantidade. Quase um terço das instituições que aparecem nas assinaturas de artigos, tem apenas um link, e apenas uma tem mais de 55 mil”, afirma o professor Eduardo Motta Albuquerque, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG (Face). Ele assina o trabalho com a também professora Marcia Siqueira Rapini, o pesquisador Leandro Alves Silva, ambos da Face, e o pesquisador do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro) Leonardo Costa Ribeiro, que tem formação em física pela UFMG até o pós-doutorado.

Ainda de acordo com Albuquerque, um dos problemas da rígida hierarquia é a dificuldade de crescimento dentro da rede. Exemplo disso é a Academia de Ciências da China, que foi a instituição com mais artigos publicados em 2015, mas aparece apenas em 13º lugar no ranking de conectividade. Na mesma linha de raciocínio, a China é o segundo país maior produtor de artigos, segundo os dados referentes a 2015, mas o quarto em número de conexões. Os Estados Unidos lideram o ranking, com 273 mil vínculos com 202 países, e a China teve apenas 108 mil conexões, com 173 países.

10 milhões de artigos

Os pesquisadores baixaram cerca de 10 milhões de artigos, de todas as áreas do conhecimento, integrantes do repositório Web of Science. Esses trabalhos foram publicados em 100 mil jornais e revistas, por autores de pouco mais de 163 mil instituições, entre universidades, centros de pesquisa e empresas.

“Os robôs (softwares) trabalharam por seis meses na extração dos dados, e os utilizamos também para análise de redes, por meio de ferramentas específicas”, conta Leonardo Costa Ribeiro, responsável pela concepção dos programas. O trabalho baseou-se também em informações e teorias relacionadas à natureza da produção e economia da ciência e ao papel das multinacionais na produção do fluxo internacional de conhecimento, entre outras áreas de estudos.

No que se refere à evolução da incidência de coautorias que extrapolam fronteiras, a pesquisa verificou que, no primeiro ano da série, foram publicados 1,2 milhão de artigos, 10% deles com autores de dois ou mais países; em 2015, foram 2 milhões de papers, e o índice de coautorias subiu para 21%. Ou seja, as coautorias cresceram mais que a produção de artigos. Os quase 420 mil artigos com fluxos transnacionais publicados em 2015 equivalem, em ordem de grandeza, ao número total de trabalhos de 1993.

“Nosso estudo confirma a hipótese da emergência de um sistema internacional de inovação, que afeta os sistemas nacionais”, diz Eduardo Albuquerque, ressaltando que estudos comprovam o alto valor das interações envolvidas na produção conjunta de artigos científicos, que são baseadas, em grande parte dos casos no contato face a face, e na confiança.

O professor da Face lembra também que os dados compilados para o estudo recém-publicado não refletem interações internacionais, como os encontros em congressos, que nem sempre se expressam na forma de coautorias. Por isso, os dados sistematizados no artigo aparentemente subestimam a dimensão real das colaborações internacionais.

Itamar Rigueira Jr. - Agência de Notícias UFMG

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