Biólogos da UFMG encontram rã desaparecida desde 1957 no Parque do Itatiaia

Descoberta é a segunda em quatro meses de pesquisa na região

Com o charmoso nome de Holoaden luederwaldti (pronuncia-se olanden ludervalti), a rãzinha-verrugosa-da-serra-de-Luederwaldt ou Luderwaldt's Highland Frog, em inglês, foi reencontrada, depois de mais de 60 anos desaparecida, por uma equipe de pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. O último registro dela era de 1957, na localidade de Brejo da Lapa, no Parque Nacional do Itatiaia.

O registro foi realizado em fevereiro, pela equipe de Herpetologia (ciência que estuda os anfíbios e os répteis) do departamento de Zoologia do ICB UFMG, que integra o projeto Diversidade Desaparecida – Procura de espécies de anfíbios consideradas desaparecidas no Parque Nacional do Itatiaia. O projeto é coordenado pelo professor Paulo Christiano de Anchietta Garcia (http://lattes.cnpq.br/9012848714931009) e pela pós-doc Bárbara Fernandes Zaidan (http://lattes.cnpq.br/9666913598888147).

Segundo a literatura científica, a Holoaden pode medir de três a cinco centímetros de comprimento, e sua reprodução ocorre entre os meses de outubro e dezembro. Seu nome faz referência à sua pele cheia de glândulas. Esta rã tem desenvolvimento direto, ou seja, não passa pelo estágio larval, a de girino.

Devido à sua raridade e baixo número de registros, aparece como Em Perigo na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas (https://rede.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/estado-de-conservacao/7503-anfibios-holoaden-luederwaldt). Descrita no Parque Estadual de Campos do Jordão, no Estado de São Paulo, esta pequena rã também habita o Parque Nacional de Itatiaia, ambas as áreas compostas de floresta úmida da serra da Mantiqueira, em altitudes entre 1500m e 2100m.

Diversidade desaparecida

"Este encontro é ainda um resultado parcial de uma pesquisa mais ampla, que visa descobrir o máximo possível de espécies que sumiram do Parque há mais de 30 anos. Porém, como tudo no momento, ainda estamos muito limitados pela pandemia”, esclarece o professor Paulo Garcia, que também integra os programas de pós-graduação em Zoologia e de Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre do ICB UFMG.

Ele relata que desde novembro de 2020 já foram realizadas três campanhas no Parque e esta é a segunda espécie localizada. “Mas esse encontro nos deixa muito animados, especialmente porque, além de ser considerada desaparecida na região, este é o segundo registro de espécie de anfíbio que fizemos em um período relativamente curto”, afirma, na expectativa de brevemente fazer novas descobertas.

O projeto busca organizar o conhecimento sobre as espécies do Parque, como forma de conscientizar os processos de tomada de decisão e de avaliação de políticas públicas direcionadas ao manejo e conservação da biodiversidade nesta área protegida. A principal justificativa do trabalho se baseia no aumento das pressões sobre as áreas protegidas e sobre as espécies. “Precisamos do máximo possível de informações sobre a nossa fauna e flora, para que se possa manejar os recursos naturais com mais consciência de modos de garantir a diversidade biológica da região”, diz o pesquisador.

O encontro anterior foi a da rã Hylodes regius ("Ilodes régius"), outra espécie endêmica, ou seja, que só é encontrada no local. "Desde 1979 não havia registro da localização da Hylodes", conta. A redescoberta foi feita tanto pelo grupo da UFMG como também por pesquisadores da Unesp de Rio Claro, de forma independente, em áreas distintas do mesmo Parque.

“Isso mostra o impacto e a importância da preservação da área do Parque para a conservação da fauna, inclusive de espécies hoje consideradas em Perigo de Extinção, mas que nossos resultados podem levar à revisão futura dessa classificação, assim como da adoção de políticas públicas adequadas”, conclui Bárbara Zaidan.

Além do apoio do Parque e do Instituto Alto Montana, o Diversidade desaparecida tem financiamento do CNPq e da organização The Mahamed bin Zayed Species Conservation Fund (https://www.speciesconservation.org/, dos Emirados Àrabes.

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Comunicação Social e Divulgação Científica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG

(31) 99131-9115

http://www.icb.ufmg.br/