Campus UFMG Pampulha recebe Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha

A 17ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha acontece na Praça de Serviços do Campus UFMG Pampulha, de 2 a 6 de maio, das 9h às 18h, e dia 7 de maio, das 9 às 14h, com estandes de expositores vindos de 22 cidades do Vale e de 40 associações de artesãos. Com expectativa de público de 15 mil pessoas, o montante comercializado aumenta a cada ano, sendo que em 2015 ultrapassou R$ 220 mil. Segundo os artesãos, a feira realizada na UFMG tornou-se o melhor local de divulgação e venda de seus trabalhos, superando, em volume de vendas, outras feiras que acontecem em Belo Horizonte.

Além de programação cultural diária (ver programação abaixo), a feira terá cerimônia de homenagem às mestras Dona Vitalina, 106 anos, ceramista, e Dona Lia (Maria Vieira de Araújo Borges), 86 anos, apanhadora de sempre-vivas, residente no distrito de Galheiros, próximo a Diamantina (ver textos ao final), será na segunda-feira, 2 de maio, às 12 horas, na Praça de Serviços/Campus Pampulha, momento em que serão lançados e exibidos os DVDs sobre a vida e a obra dos respectivos mestres. Por questões de saúde, mestra Dona Vitalina não poderá comparecer. 

De acordo com Terezinha Furiati, responsável pela organização, a Feira da UFMG, além de oportunizar aos artesãos divulgarem e comercializarem seus trabalhos, efetiva, ao mesmo tempo, uma parceria dialógica da UFMG com os municípios e os próprios artesãos. “A Feira concentra os melhores, mais tradicionais e famosos artesãos do Vale e lhes permite apresentar as técnicas, materiais e fazeres tradicionais, além da troca entre professores, alunos e público externo à Universidade. Também  traz muitos lojistas e colecionadores, inclusive do circuito Rio/São Paulo, pois é mais fácil e vantajoso comprar aqui do que ter que andar pelo Vale todo”, pontua.

A bordadeira de roupas com poemas, Maguidá Freitas Souza Botelho, que participa da Feira desde 2001, se diz preparada para o evento e promete trazer diversidade de produtos que variam de R$15 a R$250. Presidenta da Associação dos Artesãos de Palmópolis (AAPA-MG), cidade com pouco mais de sete mil habitantes que fica quase mil quilômetros de distância de Belo Horizonte, ela vem à Feira representando a Associação, que no ano passado vendeu cerca de 300 itens.

O artesanato dos povos indígenas também estará representado na Feira. Uma das etnias participantes é a Aranã, da mesma família dos Krenak, representada por Maria Luiza Moreira Santos Souza, de Araçuaí. Aos 43 anos e trabalhando desde os 12, ela aprendeu o ofício como manda a tradição: com os mais velhos e passou para as duas filhas de 18 e 23 anos. “Participamos da Feira há quatro anos, fazemos questão de nos caracterizar, com pinturas corporais, vestes e cocar. Da mesma forma que nas edições anteriores, traremos peças menores como brincos de pena, de cascas, colares de sementes e maracás de coco, também chamados de maracaxá e xuatê, um chocalho indígena utilizado em festas e cerimônias religiosas e guerreiras. Traremos produtos no valor R$1 a R$15 e a expectativa é vender acima das 250 peças, repetindo o sucesso do ano passado”, espera. 

Homenageadas
Mestra Dona Vitalina 
Vitalina – nome de força, de saúde, de vida. Nascida no dia 02 de janeiro, no início do ano, Dona Vitalina Pereira Xavier transmite vida do alto dos seus 106 anos. A pele enrugada mostra o passar do tempo, mas os olhos e a conversa calma e lúcida expressam uma lição de vida plena de ensinamentos.
Dona Vitalina é uma das pioneiras na produção de cerâmica do importante polo produtor de Campo Alegre, município de Turmalina. Perguntada sobre suas contemporâneas no ofício, lembra-se de mais 5 mulheres – todas já falecidas - que, como ela, aprenderam com suas mães a fabricar potes, botijas e panelas. Ela nos conta que seu ofício lhe dava asas à imaginação. Lembra-se de criações que agradaram seus amigos e clientela, como uma velha andando apoiada na bengala – ela conta que teve que repetir esta peça muitas vezes, para atender a tantas pessoas que lhe encomendaram.

A Mestra nos ensina que, com o tempo, o desejo se torna mais sublime e menos terreno. Desejo simples de trabalhar o barro com as mãos, que aos 106 anos ainda se manifesta. Dona Vitalina trabalhou com o barro até seus 98 anos... Com a maior humildade do mundo, Dona Vitalina deixa escapar que também foi parteira. “Panhou” muitos meninos... mas preferia trabalhar com barro, porque enquanto parteira tinha que, muitas vezes, atravessar um córrego cheio no escuro da noite, acompanhar as mulheres e junto com elas esperar.

Mãe de 4 filhos, criados com a cerâmica, com a lida na lavoura e o trabalho nos engenhos da região, hoje ela vive com seu filho João, de 75 anos, que cuida dela e compartilha a imensa paz que sua mãe conquistou. A conversa com Dona Vitalina é serena. 
No ritmo; falas pausadas, olhares bem medidos. Nenhuma cobiça. Nenhuma vaidade. Nenhuma ansiedade; nem sofrimento, nem pesar, nem remorso; também, nenhum excesso, nenhuma manifestação de apego.
O que Dona Vitalina nos comunica é a serenidade, absoluta serenidade, e aceitação da vida como ela é, daquilo que aconteceu e que acontece. Da vontade de Deus, para alguns; do destino, para outros. Daquilo que não se pode mudar, daquilo que não se pode controlar. Da vida, enfim.

Mestra Dona Lia 
Dona Lia (Maria Vieira de Araújo Borges) é apanhadora de sempre-vivas, pequeninas flores naturais da vegetação de campos de altitude, do cerrado. As sempre-vivas permanecem muito tempo íntegras, depois de secas, e por isso são muito utilizadas para arranjos e enfeites. O distrito de Galheiros, próximo a Diamantina, tem longa tradição na coleta de sempre-vivas.  Dona Lia começou a atividade aos 10 anos, quando já aguentava sair e fazer grandes caminhadas, acompanhando a mãe, ajudando a “panhar” as pequenas flores. A coleta das flores exige longas caminhadas nos campos. É preciso se proteger do sol com grandes chapéus e roupas que protegem os braços e pernas e ter muito cuidado com as cobras. Naquela época, seu pai levava as flores, depois de secas, em grandes feixes para vender em Diamantina e lá comprava as coisas que precisava para a casa.

Dona Lia diz que, naquela época, o trabalho que havia era esse. “E é um serviço mais leve”, observa ela. Casou aos 25, teve oito filhos. O marido trabalhava em garimpo, na mata (extrativismo), e na roça (lavoura). Emprego não tinha. Ela ficava em casa cuidando dos filhos, e saía às vezes para “panhar” flores.

Em 1998, quando a comunidade começou a utilizar as flores para a confecção de artesanato foi formada a associação. Até então, a atividade era apenas a coleta e venda das flores para terceiros. Quando perguntada sobre as variedades de flores, ela sorri. Vai falando: tem a sempre-viva de abril, a de janeiro... e lista as muitas espécies: cacuera, espeta nariz, martelo, cascavel, dourado, jazida...

A flor que ela mais gosta é a sempre-viva pequena e branquinha. Não distingue a mais bela dentre as mais de 100 variedades existentes; sempre, em suas falas, expressa a beleza do campo florido. Hoje tem 86 anos reafirma sua felicidade, ao ver que o trabalho artesanal da comunidade deu muito certo e tem trazido renda para todos os que nele trabalham. Seus filhos seguem seu ofício e cuidam para que ela não vá para o campo, especialmente sozinha, para colher as flores... mas, longe das vistas deles, Dona Lia confessa que escapa e vai para o campo, dizendo que foi procurar uma vaca que sumiu, em meio aos campos floridos.
  
Programação Cultural 
Segunda-feira – 02/05
12h – Abertura da 17º feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha na UFMG  com homenagem às mestras Vitalina Pereira Xavier, 106 anos, ceramista, e dona Lia (Maria Vieira de Araújo Borges), 86 anos, apanhadora de sempre-vivas 
- Lançamento dos DVD´s sobre a vida e a obra de todos os mestres já homenageados e lançamento da coleção completa dos registros dos 16 Mestres de Ofício do Vale do Jequitinhonha realizada pelo Programa Saberes Plurais e pelo Projeto Artesanato Cooperativo, vinculado ao programa de extensão Polo de Integração da UFMG no Jequitinhonha (material estará a venda durante a Feira)
12h30 – apresentação musical com Nino Aras 'Canto de Trem' 
Terça-feira – 03/05
12h30 – apresentação musical com Meninas de Sinhá - Balaio de Sinhá
14h às 16h – oficina de bordados livre com voluntárias do Sesc/Floresta (gratuito por ordem de chegada com capacidade para 50 participantes)
Quarta-feira – 04/05
12h30 - Projeto Quarta Doze e Trinta com Quincas da Viola 'Trio Trem de Minas'
Quinta-feira – 05/05
12h30 – Coral OAP
17h30 – Projeto Ao Cair da Tarde encena teatro de bonecos com a 'Trupe A Torto e A Direito da UFMG' encenando A Queixa
Sexta-feira – 06/05 
12h30 – apresentação musical  'Seresta com Grupo Colônia Diamantina' 
 
 

Assessoria de Comunicação da Pró-reitoria de Extensão

Fonte

Assessoria de Comunicação da Pró-reitoria de Extensão

(31) 3409-5546

Serviço

17ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha

De 2 a 7 de maio de 2016

De 2 a 6 de maio, das 9h às 18h, e dia 7 de maio, das 9h às 14h

Praça de Serviços do Campus UFMG Pampulha - Av. Antônio Carlos, 6.627- Pampulha - Belo Horizonte