Carta-resposta UFMG: Estrutura etária é insuficiente para explicar diferenças de casos de covid-19 entre países

Professor da Faculdade de Ciências questiona estudo que atribui à velhice uma disparidade na projeção de óbitos; outros fatores podem compensar,

No início de maio, foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) o artigo Demografic sciense aids in understanding the spread and fatality rates of covid-19, em que se analisa as diferenças nacionais das taxas de letalidade da covid-19. Os autores do relatório investigaram o papel da estrutura etária das populações nacionais para a estimativa do número esperado de óbitos. No dia 23 de junho, contudo, um grupo de pesquisadores envolvendo a UFMG publicou uma carta-resposta ao estudo, a Besides population age structure, health and other demographic factors can contribute to understanding the covid-19 burden.

“Os autores [do estudo original] argumentaram que, em populações mais velhas, o potencial de óbitos é dramaticamente maior, em razão dos maiores riscos de mortalidade pela doença associados com a idade”, resume o professor Cássio Maldonado Turra, da Faculdade de Ciências Econômicas UFMG. Mas, como a carta-resposta destaca, é preciso observar a importância de variáveis como densidade populacional, tamanho e composição das famílias, condições sanitárias, acesso a serviços de saúde, sistemas de notificação de casos, padrões de migração e deslocamento, desigualdades inter-regionais, estrutura do mercado de trabalho e disparidades econômicas.

Segundo Turra, limitar a contribuição da demografia às variações na estrutura etária é fruto de visão reducionista do papel que os estudos populacionais têm desempenhado historicamente no entendimento de diferenças no número de óbitos em cada população. “Esse tipo de abordagem impede uma análise adequada das consequências da pandemia em diferentes contextos socioeconômicos”, afirma o demógrafo.

O peso do atraso

Na carta, os pesquisadores se aprofundaram nos casos de Brasil, Nigéria e Itália. Ao inserir nas análises dados relativos à saúde das populações desses países, eles perceberam que a maior prevalência de morbidades entre os adultos que vivem em países de renda mais baixa e mais desiguais tem potencial para compensar parte dos possíveis benefícios do menor nível de envelhecimento de suas populações.

“O número esperado de óbitos depende da distribuição por idade da população, mas, para explicar as variações observadas entre países, regiões e cidades, há que se considerar, também, as diferenças na distribuição de outras características demográficas e socioeconômicas”, afirma Turra.

 Além de Cássio Turra, a carta-resposta, que também foi publicada na PNAS, é assinada por Marília R. Nepomuceno, Enrique Acosta, Diego Alburez-Gutierrez, José Manuel Aburto e Alain Gagno.

(Texto adaptado de Ewerton Martins Ribeiro)

Assessoria de Imprensa UFMG

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Assessoria de Imprensa UFMG