Cientistas da UFMG descobrem espécie de levedura que cresce a temperatura mais alta

Primeira do gênero em clima tropical, espécie foi isolada em amostras de solo do Santuário do Caraça, em Minas Gerais

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e de três países, além do Brasil, descreveram uma espécie de levedura até então desconhecida pela ciência, produtora do pigmento carotenoide astaxantina. Esta é a primeira vez em que se registra uma espécie desse gênero em um ambiente de clima tropical. O trabalho foi publicado no início de novembro na revista científica International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, da Sociedade de Microbiologia da Inglaterra.

De acordo com a bióloga Ana Raquel de Oliveira Santos, do Centro de Coleções Taxonômicas do ICB, todas as outras espécies do gênero Phaffia são encontradas em regiões de clima temperado. Segundo a autora, “quando comparada às outras espécies de Phaffia, a levedura que descrevemos é a única capaz de crescer a 30°C. As outras não conseguem crescer em temperaturas maiores que 28°C”, explica. Na conclusão da doutoranda em Microbiologia, trata-se de uma possível adaptação desse microrganismo ao clima de regiões tropicais.

Mestre em Microbiologia, com ênfase em Taxonomia e biodiversidade de levedura, Ana Raquel Santos indica que além de contribuir para o conhecimento da biodiversidade de leveduras presentes em território brasileiro, a descoberta possibilita o uso industrial dessa levedura como produtora de astaxantina, pigmento comercialmente explorado por suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, e antiapoptóticas.

“Ela também é utilizada como suplemento alimentar para peixes (como o salmão) e crustáceos de aquacultura, para que adquiram coloração rósea característica destes animais na natureza”, informa. A maior parte da astaxantina produzida comercialmente é obtida a partir do cultivo da alga Haematococcus pluvialis. A produção deste pigmento por leveduras é considerada uma alternativa biotecnológica bastante promissora. Dentre as leveduras, somente as espécies do gênero Phaffia são capazes de produzir este pigmento.

Possível probiótico animal

De acordo com a pesquisadora, há também a possibilidade, ainda a ser testada, de uso como possível probiótico humano ou mesmo para alimentação de animais de cativeiro. “Um outro uso possível da astaxantina seria como corante alimentar natural”, indica. Os próximos passos, segundo informou Ana Raquel, seriam a caracterização da astaxantina produzida pela levedura e testes para a otimização da produção do composto. A cientista afirma que há uma grande biodiversidade microbiológica ainda desconhecida em território brasileiro, que pode gerar riqueza através da exploração comercial de microrganismos que podem produzir novas enzimas.

Ao todo, dez pesquisadores da área de microbiologia participaram do estudo, orientado pelo professor Carlos Augusto Rosa, titular do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Três dos coautores são da UFMG, cinco são de Portugal (Universidade Nova de Lisboa), um da Holanda (Instituto de Biodiversidade de Fungos Westerdijk) e um do Canadá (Universidade de Western Ontario). A pesquisa foi realizada com verbas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e do Conselho de Ciências Naturais e Engenharia do Canadá.

A espécie descrita no estudo, que teve início em 2017, foi isolada a partir de amostras de solo coletadas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Santuário do Caraça, em Minas Gerais, e encontra-se depositada em estado metabolicamente inativo (congelamento a -80 °C) na Coleção de Microrganismo e células da UFMG. Esta Coleção abriga cerca de 40 mil isolados de leveduras provenientes de ecossistemas tropicais brasileiros, e é a maior da América Latina. A partir dos isolados depositados na Coleção já foram descritas mais de 100 espécies de leveduras, novas para a ciência, provenientes da biodiversidade brasileira.

Artigo: Phaffia brasiliana sp. nov., a yeast species isolated from soil in a Cerrado–Atlantic Rain Forest ecotone site in BrazilPhaffia brasiliana sp. nov., a yeast species isolated from soil in a Cerrado–Atlantic Rain Forest ecotone site in Brazil

Autores: Ana Raquel Oliveira Santos, Andreia Aires, Ana Pontes, Margarida Silva, Patricia H Brito, Marizeth Groenewald, Cidiane G. S. Melo1, Marc-André Lachance, José Paulo Sampaio, Carlos A. Rosa

Publicado em 02/11/2021 | International Journal of Systematic And Evolutionary Microbiology

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