Coletânea apoiada na história oral será lançada na UFMG

Obra põe em perspectiva narrativas sobre o regime militar

Será lançado amanhã, dia 27 de setembro, às 10h, no hall do CAD 2, no campus Pampulha, o livro A ditadura aconteceu aqui: a história oral e as memórias do regime militar brasileiro, da Editora Letra & Voz e organizado por Carolina Dellamore, Gabriel Amato e Natália Batista. No dia 29 de setembro, sexta-feira, às 18h, será feito relançamento na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274). Mais informações pelo telefone (11) 3473-3053 ou pelo e-mail letraevoz@gmail.com

As três pesquisadores tinham um incômodo em comum: a memória hegemônica sobre a recente ditadura militar no Brasil – que opõe o Estado repressor e a sociedade, a um só tempo, vítima e resistente – nem sempre encontra respaldo na diversidade de memórias de pessoas e grupos. As lembranças de militantes, operários, militares, indígenas, estudantes não se encaixam necessariamente nessa dicotomia.

Para resolver o incômodo, Carolina Dellamore, Gabriel Amato, vinculados ao Núcleo de História Oral da UFMG, e Natália Batista, doutoranda em História Social na USP, puseram mãos à obra: leram a historiografia sobre o tema e produziram um texto motivador, levantando problemas e propondo caminhos. Reuniram pesquisadores de diferentes instituições e organizaram o livro ‘A ditadura aconteceu aqui: a história oral e as memórias do regime militar brasileiro’ (Letra & Voz).

“Pretendemos conformar uma história social das memórias da ditadura por meio da história oral. A coletânea revela pesquisas maduras contadas em textos inéditos, que abordam entrevistas em grande parte também inéditas”, afirma Gabriel Amato, mestre em História e Culturas Políticas pela UFMG.

Amato é autor de um dos capítulos da primeira parte da obra, dedicada exatamente ao que os organizadores chamam de polifonia das memórias. Ele analisa uma entrevista sua com uma ex-participante do Projeto Rondon, iniciativa dos governos militares que levava estudantes universitários aos recônditos do Brasil. “Essa entrevistada é um caso típico de memória oscilante, com lembranças contraditórias. Ao mesmo tempo que exalta o movimento estudantil e deixa de lado a conexão entre o Rondon e o projeto político dos militares, ela reproduz em vários aspectos o discurso da ditadura”, diz o pesquisador.

‘Operário padrão’

O trabalho de Carolina Dellamore, por sua vez, explora o depoimento de um homem que, nos anos de chumbo, foi eleito “operário padrão” na Cidade Industrial, região metropolitana de Belo Horizonte. “Ele foi premiado porque certamente representava de maneira conveniente a harmonia entre as classes, mas participou de todas as greves no final dos anos 1970”, conta a doutoranda do programa de Pós-graduação em História. “Isso mostra que as pessoas também não viveram aquele período da mesma forma, por todo o tempo.”

Outros autores abordam entrevistas com lideranças do movimento negro, com pessoas LGBT, indígenas, mulheres da Ação Popular e integrantes do Grupo Opinião. “Uma história de memórias exclusivamente positivas é a dos moradores de agrovilas instaladas na época da construção da Transamazônica, que se sentiram beneficiados pelos militares e abandonados pelos governos que vieram depois”, comenta Gabriel Amato. Outro capítulo da primeira parte relata como a população da Serra do Caparaó, na região Sudeste, assustada com a presença de guerrilheiros, foi conquistada pelo Exército, com ações cívico-sociais.

Na segunda parte da obra, pesquisadores abordam a construção de acervos baseados nas memórias, apoiados em pesquisas com militares, presos políticos e familiares de militantes desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, que encontraram na Comissão da Verdade um espaço de escuta na busca por justiça.

Os organizadores de ‘A ditadura aconteceu aqui’ destacam que a história oral é capaz de lançar outro olhar sobre temas tradicionais, como a ditadura militar. “Tem-se consolidado a convicção de que a história oral evoca não apenas as vozes do passado, mas principalmente as do presente”, diz Carolina Dellamore. Para Gabriel Amato, as memórias dialogam com o tempo de hoje, em que a política e as conversas cotidianas acionam lembranças e opiniões sobre a ditadura. “Nosso papel, como historiadores, é historicizar as memórias”, completa.

Itamar Rigueira Jr. - Boletim 1992

Fonte

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(31) 3409-4476 / 3409-4189

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Serviço

Coletânea apoiada na história oral será lançada na UFMG

Dia 27 de setembro de 2017

10h

Centro de Atividades Didáticas 2 (CAD2), hall - campus Pampulha - Av. Antônio Carlos, 6.627 - Belo Horizonte