Equipe da Faculdade de Medicina da UFMG desenvolve instrumento para rastrear dependência entre usuários do aparelho

Irritabilidade, inquietude e incômodos provocados pela falta de acesso ao smartphone podem ser sintomas de abstinência, um dos principais sinais de alerta para reconhecimento da dependência do aparelho, doença psiquiátrica cada vez mais frequente entre usuários, que, em casos mais graves, causa transtornos como depressão e ideias suicidas.

Para rastrear essa dependência, um grupo de professores, profissionais e estudantes de medicina e psicologia do Centro Regional de Referência em Drogas da UFMG (CRR) desenvolveu um instrumento inédito no Brasil, o Smartphone Addiction Inventory (SPAI-BR). Trata-se de um questionário com 26 questões, disponível gratuitamente na página do CRR.

Segundo uma das autoras do estudo, a professora Julia Khoury, do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina, o questionário já existia em outros países e foi adaptado para o Brasil. “O instrumento era mais extenso e possuía um formato diferente”, afirma ela, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Medicina Molecular sob a orientação do professor Frederico Garcia.  A pesquisa que resultou no SPAI-BR foi desenvolvida de 2014 a 2016. No último dia 17, os resultados do estudo foram publicados em artigo na revista PloS One, especializada nas áreas de ciências e medicina, e disponível para leitura na internet.

Julia Khoury esclarece que o questionário é um instrumento de rastreamento e não de diagnóstico. “Sete ou mais respostas positivas indicam um risco maior do desenvolvimento da dependência”, alerta a médica. Para ela, a partir desse resultado, a pessoa já deve procurar orientação médica. “Só o profissional pode diagnosticar o vício com precisão”, afirma.

Para a professora, o desenvolvimento do SPAI-BR possibilita a abertura de novas frentes de pesquisa na área. “Nos próximos meses, avaliaremos cerca de 300 pessoas, também alunos de graduação da UFMG, para compreender melhor as características de personalidade e os parâmetros fisiológicos que permitem caracterizar melhor as pessoas mais propensas a desenvolver a dependência de smartphone”, conta.

Aplicação do questionário

Durante o desenvolvimento da pesquisa, o questionário foi aplicado em 415 alunos de variados cursos de graduação da UFMG. De acordo com Khoury, o resultado indicou 43% de prevalência de rastreamento positivo, ou seja, em risco de dependência. Desse grupo, 33% tiveram a dependência diagnosticada posteriormente.

Dentre as pessoas detectadas com dependência de smartphones, 94,9% são de solteiros. A maioria, 56%, tem renda familiar mensal superior a três salários mínimos. A dependência é mais prevalente em mulheres, com 55% do total de alunos avaliados.

A pesquisadora conta ainda que a dependência de smartphone entre os alunos da UFMG foi associada à dependência de Facebook, abuso de álcool, depressão maior, fobia social, transtorno de ansiedade generalizada, baixa satisfação com suporte social, alta impulsividade e traço de personalidade de elevada busca de sensações.

Sintomas e tratamento

Segundo Julia Khoury, as doenças psiquiátricas podem ter vários sintomas. “O transtorno acontece quando começa a ser prejudicial no dia a dia. É preciso ficar atento a alguns sinais, como a ansiedade demonstrada por uma pessoa quando fica longe do aparelho e deixa de fazer outras atividades no âmbito do trabalho ou do lazer”, exemplifica. Ela afirma que o transtorno é mais comum em adolescentes e estudantes universitários, e pode comprometer o sono, a capacidade de concentração e a aprendizagem.

De acordo com a pesquisadora, a relação da dependência de smartphones com o vício em drogas carece de mais investigação. “Os sintomas são muito semelhantes, mas há necessidade de mais estudos para determinar um possível tratamento”, explica. Algumas terapias podem ser utilizadas para tratar os sintomas do vício. “Existem remédios, por exemplo, para a ansiedade e depressão”, observa a pesquisadora. Ela conta que esses sinais podem ser, inclusive, a causa do vício. “Ao identificar e tratar essas doenças a chance de tratamento da dependência é potencializada”, afirma.

Serviço

O Ambulatório de Dependências Químicas e Comportamentais do Hospital das Clínicas da UFMG atende pacientes com dependências sem necessidade de encaminhamento do posto de saúde. Os atendimentos são às segundas-feiras, das 8h às 12h, e podem ser marcados no local. O Ambulatório fica no 6º andar do Hospital Bias Fortes, na Alameda Álvaro Maciel, 175, bairro Santa Efigênia.

Outras Informações:

O questionário está disponível na página crr.medicina.ufmg.br/spai.
Confira algumas questões:
- Já me disseram mais de uma vez que eu passo tempo demais no smartphone.
- Em mais de uma ocasião, dormi menos que quatro horas porque fiquei usando o smartphone.
- Eu não consigo controlar o impulso de utilizar o smartphone.
- Minha interação com meus familiares diminuiu por causa do meu uso de smartphone.
- Minhas atividades de lazer diminuíram por causa do uso do smartphone.
- Eu não consigo fazer uma refeição sem utilizar o smartphone.

Mariana Pires - Boletim 1979

Fonte

Assessoria de Imprensa da UFMG

(31) 3409-4476 / 3409-4189

www.ufmg.br

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