Equipe da UFMG cria método barato e rápido para diagnóstico de leucemia

Seis patentes foram depositadas

Equipe da UFMG liderada pelo professor Rodrigo Resende, do Instituto de Ciências Biológicas, desenvolveu, ao longo dos últimos três anos, kits de diagnósticos vinculados às suas pesquisas sobre imunologia antitumoral e identificação de biomarcadores (proteínas, genes e moléculas) indicativos de diferentes doenças, inclusive o câncer. Os kits têm como vantagens, em relação ao método convencional, a possibilidade de distinguir a leucemia linfocítica crônica e outras doenças hematológicas e disponibilizar o resultado em apenas duas horas.

A leucemia linfocítica crônica (LLC) é o tipo de câncer sanguíneo mais comum em adultos a partir de 50 anos de idade. De causa ainda desconhecida, a doença tem como alerta inicial o aumento dos linfócitos (células de defesa) no sangue, acusado por meio de hemograma simples. “Esse é o sinal que normalmente demanda investigação clínica”, afirma Mariana Sousa Vieira, doutoranda em Bioquímica e Imunologia no ICB e integrante da equipe de Rodrigo Resende.

“O diagnóstico da leucemia normalmente é feito por meio da imunofenotipagem, que consiste na aplicação de anticorpo específico sobre a célula analisada e observação da reação. Além disso, em alguns casos, são necessários outros procedimentos, como biópsia da medula espinhal e análise de mutações. Eles são altamente invasivos, caros e complexos”, sustenta Mariana Vieira.

O teste convencional, acrescenta Rodrigo Resende, pode custar R$ 1,2 mil e demorar mais de uma semana para ficar pronto. Porém, há alguns casos em que a imunofenotipagem é inconclusiva ou que exigem exames mais complexos para auxílio no protocolo de tratamento clínico a ser adotado. Esses exames chegam a custar R$ 4 mil.

Segundo Resende, o método criado no ICB custa apenas R$ 50 por amostra avaliada e é capaz, inclusive, de sinalizar a predisposição do indivíduo para desenvolver a LCC. “Nosso método reduz os custos em cerca de 80 a 100 vezes”, estima o professor. “Diferenciar os tipos de leucemia é muito importante, pois torna o tratamento mais direcionado e efetivo”, acrescenta Resende.

Biomarcadores

Como explica Mariana Vieira, o desenvolvimento do método partiu do isolamento de pequenos RNAs, ácidos ribonucleicos responsáveis pela síntese de proteína no interior das células, presentes no sangue de pacientes já diagnosticados com a LCC. “O objetivo foi identificar possíveis biomarcadores. A partir do sequenciamento desses RNAs, conseguimos discriminar aqueles exclusivos de indivíduos com LCC”, detalha.

De acordo com a pesquisadora, os kits de diagnóstico são compostos de maquinaria e reagentes, usados em laboratório para se comparar a amostra de sangue que deve ser analisada com a de pacientes portadores de LCC. “Identificamos a presença de micro RNAs específicos e quantificamos o nível desse biomarcador no sangue do indivíduo. Assim, conseguimos caracterizar a amostra como positiva ou negativa para a doença e classificar o risco do paciente como alto ou baixo”, explica Mariana Vieira.

A doutoranda enfatiza que a correspondência entre os tipos de RNAs presentes no sangue e o risco de evolução da doença viabiliza seu acompanhamento ao longo do tempo. “O monitoramento deve começar com a detecção dos biomarcadores patogênicos. Se o indivíduo passar a ser positivo para os RNAs da doença, pode ser indicativo de que é necessário procurar um hematologista e diminuir os intervalos entre exames de rotina. Caso cresça a prevalência desses RNAs, pode-se tentar intervir farmacologicamente ou de outras formas para reverter o quadro ou impedir sua progressão”, discorre Mariana Vieira.

A nova técnica possibilitou relacionar a presença dos RNAs aos diferentes prognósticos clínicos da doença. Alguns desses pequenos RNAs, explica a pesquisadora, são exclusivos de pacientes com prognóstico ruim, caracterizado por sintomas como o aumento do baço e do fígado, podendo evoluir para a leucemia mielocítica aguda, o tipo mais grave. Outros RNAs são associados aos portadores de LCC com prognóstico bom, de baixo risco.

Já existem duas grandes empresas interessadas na produção e comercialização dos kits, que atualmente estão na chamada fase 3 de estudo clínico, em que o número de testes é aumentado a fim de assegurar sua confiabilidade. “Qualquer tipo de diagnóstico tem intervalo de confiança. Temos conseguido bons resultados e precisamos chegar a 95% de certeza para oferecer o produto de forma segura”, afirma Mariana Vieira. 

Encerrada essa etapa de testes, as empresas interessadas já podem produzir e disponibilizar os kits para a comunidade. “Nossa intenção é que chegue ao SUS, para que sejam minimizados os custos de diagnósticos”, informa a doutoranda do ICB.

Além de Rodrigo Resende e Mariana Vieira, são coautores das patentes os professores José Miguel Ortega, do mesmo Departamento, e Adriano Sabino, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Farmácia da UFMG, além de Rayson Carvalho Barbosa, egresso do Programa de Pós-graduação em Bioinformática do ICB.

(Texto com informações de Matheus Espíndola para o Boletim UFMG 2.089)

Assessoria de Imprensa UFMG

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