Estudo da UFMG mapeia a prática de atividades físicas por meio de inteligência artificial em áreas de Belo Horizonte
Estudo publicado neste mês na revista Public Health, por pesquisadores do Observatório de Doenças e Agravos não Transmissíveis (ObDant) da Escola de Enfermagem da UFMG, estimou a prevalência de atividade física (AF) no tempo livre em pequenas áreas da cidade de Belo Horizonte e analisou as desigualdades entre áreas e em dois períodos distintos.
Coordenada pela professora Deborah Carvalho Malta, a pesquisa foi realizada com dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel) e com técnicas de inteligência artificial, por meio de métodos de aprendizado de máquina (machine learning), que são incentivados a fornecer informações para intervenções mais personalizadas em nível local.
Thania Mara Teixeira Rezende Faria, primeira autora do estudo, enfatiza que os resultados apontaram prevalências mais baixas da prática de atividade física no tempo livre em áreas periféricas, enquanto as mais altas se encontravam no centro da cidade. Dentre as nove pequenas áreas encontradas, a atividade física no tempo livre, no período de 2009 e 2013, variou de 23,70% nas regiões de maior vulnerabilidade até 45,55% nas regiões de menor vulnerabilidade. Entre 2014 e 2018, a prevalência de AF no tempo livre variou de 31,44% nas regiões de maior risco até 52,81% nas regiões de menor risco.
“As prevalências de AF no lazer vêm aumentando em toda cidade desde 2008. Entretanto, apesar deste aumento geral, o aumento nos níveis populacionais foi mais pronunciado nas áreas menos vulneráveis, ou seja, nas áreas mais socioeconomicamente favorecidas”, afirma Thania.
A pesquisadora destaca que a atividade física é de suma importância para a saúde pública e tem sido associada a um risco reduzido de mortalidade e ao aumento da expectativa de vida, assim como a uma menor incidência de doenças crônicas, depressão, ansiedade e diversos transtornos mentais. “Assim, a estimação das prevalências em pequenas áreas na cidade de Belo Horizonte possibilitou desvendar iniquidades em diversas regiões, oferecendo subsídio para o desenvolvimento de políticas públicas mais assertivas que visem promover saúde e enfrentar o aumento dos números de doenças crônicas por meio do estímulo a um estilo de vida mais saudável”.
Ela ressalta que, de forma geral, a prática de atividade física está mais concentrada nas regiões mais ricas, onde existe uma maior disponibilidade de equipamentos para prática e melhor infraestrutura. “Fatores ambientais, tais como a disponibilidade de equipamentos esportivos, transporte, conectividade e segurança, são fundamentais ao estímulo de modos de vida mais saudáveis, sendo necessária uma distribuição mais equânime nos diversos pontos da cidade. Além disso, espaços públicos abertos, como parques e praças, requerem maior desenvolvimento, de modo com que se desenvolva um ambiente propício à prática de esportes e lazer”.
O estudo revelou que existem desigualdades territoriais para alcançar os níveis recomendados de atividade física segundo os critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo ela, essas desigualdades territoriais ficam escondidas em prevalências populacionais genéricas nas grandes cidades e, por isso, estimar em pequenas áreas é tão importante. “Além disso, fatores como idade, gênero e nível socioeconômico são grandes determinantes da prática de atividade física no tempo livre, e o que queremos é reduzir as lacunas de acesso para que as pessoas possam viver mais e melhor”, enfatiza Thania.