Estudo UFMG: desmonte ambiental fez dobrar emissões de carbono na Amazônia nos primeiros anos do governo Bolsonaro

Pesquisadores do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG atuaram com equipe do Inpe em estudo que quantificou impactos desastrosos de gestão em 2019 e 2020

Um estudo realizado pela equipe do Laboratório de Gases de Efeito Estufa (LaGEE) do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), liderado pela cientista Luciana Gatti, em parceria com outros pesquisadores do instituto, colaboradores internacionais e um grupo da UFMG, constatou impactos desastrosos do desmonte das políticas de proteção ambiental durante os dois primeiros anos do governo Bolsonaro.

Publicado na quarta-feira, dia 23 de agosto, na revista Nature, o trabalho mediu o efeito do desmantelamento especificamente na Amazônia e atestou que, nos anos de 2019 e 2020, quando o Ministério do Meio Ambiente foi chefiado por Ricardo Salles, cresceram 89% e 122%, respectivamente, as emissões de CO2 em comparação com a média dos anos de 2010 a 2018.

Os pesquisadores também constataram aumento do desmatamento nos dois anos em relação à média dos nove anos anteriores: 82% em 2019 e 77% em 2020. As áreas queimadas, por sua vez, aumentaram 14% no primeiro ano sob Bolsonaro e Salles e 42% no segundo.

A equipe da UFMG constatou que as multas pelo desmatamento ilegal reduziram-se em 30% e 54%, em 2019 e 2020, enquanto os pagamentos dessas multas diminuíram de forma ainda mais drástica: 74% em 2019 e 89% em 2020. Coassinam o artigo os professores Britaldo Soares Filho e Raoni Rajão e os pesquisadores Felipe Nunes e Jair Schmitt, todos vinculados ao Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) da UFMG.

Efeitos deletérios

Segundo os pesquisadores, a exportação de madeira bruta, a expansão da área plantada de soja e milho e do rebanho bovino foram as principais atividades responsáveis pela perda florestal. No período analisado, elevou-se em 693% a exportação de madeira bruta extraída da Amazônia.

As áreas plantadas de soja e milho aumentaram 68% e 58%, respectivamente. O rebanho bovino, que no restante do país diminuiu de tamanho, na Amazônia cresceu 13%.

O grupo da UFMG tem parceria antiga com o Inpe – nos últimos anos parte dos esforços têm sido para monitorar riscos de incêndios no Cerrado. A parte do CSR no estudo publicado dia 23 foi a análise do histórico de fiscalização e cobranças de multas ambientais. “A cobrança das multas foi muito dificultada, o que fez diminuir muito a punição e o estímulo à criminalidade”, afirma o professor Britaldo Soares Filho, do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG, um dos autores do artigo. “Nosso trabalho atesta de forma inequívoca que a política pode ter efeitos deletérios para a conservação ambiental.”

Artigo: Increased Amazon carbon emissions mainly from decline in law enforcement

Publicação: Nature, em 23 de agosto de 2023.

Autores: Luciana V. Gatti, Camilla L. Cunha, Luciano Marani, Henrique L. G. Cassol, Cassiano Gustavo Messias, Egidio Arai, A. Scott Denning, Luciana Soler, Claudio Almeida, Alberto Setzer, Lucas Gatti Domingues, Luana S. Basso, John B. Miller, Manuel Gloor, Caio S. C. Correia, Graciela Tejada, Raiane A. L. Neves, Raoni Rajao, Felipe Nunes, Britaldo S.S. Filho, Jair Schmitt, Carlos Nobre, Sergio M. Corrêa, Alber H. Sanches, Luiz E. O. C. Aragão, Liana Anderson, Celso Von Randow, Stephane P. Crispim, Francine M. Silva, Guilherme B.M. Machado.

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Comunicação do Centro de Sensoriamento Remoto

31993670242

https://csr.ufmg.br/