Grupo da UFMG cria teste inédito de covid-19 usando urina

Tecnologia é mais simples, barata e menos invasiva do que os testes realizados por meio da coleta de sangue

Tecnologia inédita para o diagnóstico da covid-19 acaba de ser patenteada pela UFMG: um teste de detecção de anticorpos específicos em amostras de urina de pacientes, que podem ser coletadas em qualquer período do dia. Baseado no método conhecido como Elisa – sigla, em inglês, para ensaio de imunoabsorção por ligação enzimática –, o processo se torna mais simples, barato e menos invasivo do que o exame usando sangue. A Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG segue em negociações com laboratórios das áreas de Saúde e Biotecnologia para que a criação seja ofertada à sociedade o quanto antes.

Atualmente existem diversas opções de testes sorológicos no mercado para identificação de anticorpos de Sars-CoV-2 com o uso do sangue. A tecnologia criada na UFMG, no entanto, destaca-se por seu pioneirismo mundial. “Não há nenhum teste disponível no mercado usando urina dos pacientes, bem como não encontramos nenhum relato na literatura que pudesse indicar o uso da urina para a pesquisa por anticorpos específicos ao vírus causador da covid-19”, ressalta Fernanda Ludolf Ribeiro de Melo, integrante do grupo de pesquisa. Ela explica que a existência de anticorpos na urina de pacientes foi pouco estudada de maneira geral, motivo provável pelo qual as pesquisas para diagnóstico da covid-19 não tenham optado pelo uso dessa amostra biológica.

“Poucas pessoas acreditam que tenham [anticorpos na urina], mas há relatos para outras doenças. E foi a partir daí que concebi esta ideia”, relembra a pesquisadora. Como pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde: Infectologia e Medicina Tropical (PPG-IMT) da UFMG, Fernanda decidiu levar sua hipótese ao supervisor, o professor Eduardo Antônio Ferraz Coelho, que acreditou no potencial da proposta e sugeriu que se formasse uma equipe e que dessem prosseguimento à pesquisa na Universidade. “Então, contatamos o professor Flávio Fonseca, que trabalha em projetos voltados para a covid-19 e o professor Vandack Nobre, que desenvolve também projetos na linha de covid-19 no Hospital das Clínicas. Eles prontamente acreditaram na ideia. Acharam bastante interessante e inovadora”.

Além de Eduardo Coelho, coordenador do PPG-IMT, o professor Flávio Fonseca, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas e membro do Centro de Tecnologia em Vacinas (CT-Vacinas) e o professor Vandack Alencar Nobre Júnior, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, uniram-se à equipe as professoras Cecilia Ravetti e Paula Vassallo (Faculdade de Medicina) e os doutorandos Fernanda Fonseca Ramos (PPG-IMT), João Augusto Oliveira da Silva (PPG-IMT) e Flávia Fonseca Bagno (ICB).

Urina x sangue

“Por ser um teste quantitativo/qualitativo do tipo Elisa, conseguimos excelentes valores de especificidade e sensibilidade. Nós encontramos com a nossa técnica de urine based-Elisa melhores resultados que o uso de Elisa empregando amostras de soro dos pacientes, anteriormente aprovada pelo FDA [Food and Drug Administration] e Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]”, celebra Fernanda Ludolf.

Parâmetros de sensibilidade e especificidade são utilizados na interpretação de um teste diagnóstico e definem as características e limitações dos mesmos. O primeiro indica a menor quantidade de anticorpos que o exame consegue detectar e o segundo corresponde à capacidade de identificar apenas anticorpos contra antígenos do Sars-CoV-2. De acordo com material produzido pelo Ministério da Saúde para definição da acurácia dos testes diagnósticos registrados na Anvisa para a covid-19, uma baixa sensibilidade pode, por exemplo, resultar em uma piora dos índices de identificação dos pacientes, causando aumento do número de resultados falso-negativos e a não detecção dos casos assintomáticos.

Eficácia comprovada, era então preciso verificar as vantagens do diagnóstico usando urina. O grupo conseguiu analisar diversas amostras de pacientes em poucas horas, o que indica que o teste possui um tempo de duração considerado curto. Os pesquisadores salientam ainda as capacidades próprias de um exame pouco invasivo, como o proposto. “Muitas pessoas não aceitam puncionar seu sangue por vários motivos, como físicos, psicológicos ou religiosos. Sendo menos invasivo, o teste poderia ser feito em toda a população, o que seria importante para os estudos epidemiológicos e as ações das autoridades governamentais”, sugere Ludolf.

“Por ser um material que pode ser expelido naturalmente por todos, [a urina] ainda elimina a necessidade de um flebotomista, de agulhas e seringas, barateando o processo!”, complementa a pesquisadora. “A urina com conservante é bastante estável e pode ficar por dias fora de uma geladeira comum ou anos dentro dela! Também, como pode ser coletada em qualquer período do dia, nos dá maior praticidade para sua obtenção!”. Por essa característica, o método também se destaca ao possibilitar que tanto a coleta quando o transporte para a análise sejam feitos com a máxima conveniência temporal para o paciente.

A patente da inovação foi depositada pela CTIT no final de abril. Agora, o grupo realiza contato com interessados, especialmente, com laboratórios de diagnóstico, para ofertar a tecnologia à sociedade. “Esperamos que chegue ao mercado o quanto antes para que a população possa se beneficiar desse método em um momento em que testes diagnósticos têm sido muito importantes para nortear as ações pessoais e governamentais”, afirma Ludolf.

Assessoria de Imprensa UFMG

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Assessoria de Imprensa UFMG