Grupo da UFMG desenvolve vacina para covid-19 baseada no uso de BCG recombinante

Pesquisadores esperam gerar processo de imunização dupla, eficaz contra tuberculose e coronavírus; testes preliminares em humanos são estimados p

Grupo do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG está desenvolvendo, em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, com o Instituto Butantan-SP e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Doenças Tropicais (INCT-DT), uma vacina contra a covid-19 baseada no uso de BCG recombinante. A ideia dos pesquisadores é criar uma variante do método de imunização utilizado para tuberculose expressando antígenos do vírus SARS-CoV-2.

O projeto foi iniciado em março com base nas pesquisas que o grupo realizava anteriormente com a vacina do bacilo Calmette–Guérin, a famosa BCG. Como explica o coordenador do estudo, professor Sergio Costa Oliveira, ela possui efeitos inespecíficos capazes de ajudar o sistema imunológico a combater algumas outras enfermidades, como é o caso do câncer de bexiga, esquistossomose e até o HIV.

“Nós pensamos em pegar essa plataforma da vacina existente contra tuberculose, que já é usada há vários anos e se mostrou extremamente segura, e fazer com que essa bactéria [bacilo Calmette–Guérin] produza importantes proteínas do vírus SARS-CoV-2, gerando uma vacina dupla. Ou seja, vai funcionar tanto para tuberculose quanto para a covid-19”, esclarece Costa.

Além do benefício de atuar concomitantemente em dois fatores, o potencial do estudo se destaca por se tratar de um método já constante no plano nacional de vacinação. Isso implica em certas facilidades na questão regulatória. “Quando estamos lidando com vírus você tem protocolos de segurança que devem ser realmente muito rígidos. Como a BCG já é utilizada no Brasil, essa etapa vai ser muito mais rápida para obter aprovação. Afinal, a única modificação será que a bactéria produzirá novas proteínas do vírus”, salienta o professor da UFMG.

O poder da BCG

O trabalho dos profissionais tem como foco a bactéria Mycobacterium bovis, alvo da vacina BCG. Ela possui um potente efeito adjuvante conhecido para indução da imunidade humoral e celular em animais e humanos, o que implica no aumento da eficiência de vacinas e tratamentos a partir de seu uso. Atualmente essa imunização é a mais utilizada no mundo, com acima de 4 bilhões de administrações registradas.

Segundo os pesquisadores, a vacina do bacilo Calmette–Guérin induz proteção em neonatos, apresenta alta estabilidade, fácil produção em massa e baixo custo. Considera-se que o BCG recombinante mantenha as vantagens do BCG, que é um organismo de crescimento lento e fornece uma exposição antigênica de baixo nível e persistente, favorecendo a indução de uma resposta imune celular e/ou humoral duradoura com apenas uma dose. É por estas características que ela se mostra tão promissora como base imunizante para a covid-19.

Na realidade, a BCG parece apresentar outros efeitos heterólogos que têm sido associados à diminuição da mortalidade e menor prevalência de outras infecções, e por isso especialistas levantam a possibilidade de que em países onde a vacinação é obrigatória existiria uma menor incidência de casos de coronavírus.

A estratégia vacinal do grupo é construir uma cepa de BCG expressando a proteína viral spike e do nucleocapsídeo, presente no SARS-CoV-2. Além disso, pretendem usar um adjuvante para ativar a produção de Interferon do tipo I, proteína que tem importante papel na resposta antiviral e no recrutamento de linfócitos.

Testes

Apesar das previsões positivas quanto à etapa de regulação, a estimativa de uma data para a disponibilização da vacina ainda não pode ser definida. O processo de desenvolvimento está em fase inicial. Por enquanto o grupo acredita que os testes com animais em laboratórios deverão ser concluídos até o final do ano, o que possibilitaria avançar para testagem preliminar em humanos em 2021.

Recentemente o grupo do Laboratório de Imunologia de Doenças Infecciosas da UFMG, junto com outras iniciativas do Programa de Pós-Graduação da Genética da UFMG, coordenado pelo professor Vasco Azevedo, foi aprovado na chamada da Capes 11/2020 em Fármacos e Imunologia. O programa, que foi criado para apoiar projetos de pesquisa científica e tecnológica voltados exclusivamente ao combate à pandemia da covid-19, vai auxiliar na celeridade do estudo através dos recursos concedidos para o trabalho.

Assessoria de Imprensa UFMG

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Assessoria de Imprensa UFMG