Laboratório com nível de biossegurança 3 começa a funcionar na UFMG

Espaço para pesquisas com microrganismos perigosos pode acelerar estudos com vírus, bactérias, fungos e outros agentes infecciosos

O Laboratório de Biossegurança Nível 3 (NB3) do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG entra em operação em fevereiro de 2022. Certificado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio – Link  http://ctnbio.mctic.gov.br/inicio), o NB3, ou laboratório de contenção, como também é chamado, destina-se a pesquisas com vírus, bactérias, fungos e outros microrganismos causadores de doenças transmitidas pelo ar. 

Segundo o subcoordenador do NB3 ICB, professor Renato Santana, do departamento de Genética, Ecologia e Evolução, uma das principais características desse tipo de laboratório é “o sistema de exaustão, que envolve pressão negativa e filtração de todo o ar potencialmente contaminado no interior, de forma que nenhum microrganismo escape para o ambiente externo”. Esse sistema oferece o nível de segurança necessário para acelerar estudos com microrganismos com potencial de ameaça para a sociedade, como o SARS-CoV-2, vírus da família dos coronavírus, causador da covid-19. 

Com área física de aproximadamente 100 m², além de uma sala principal e três laboratórios no mesmo espaço, o NB3 do ICB é o único de Minas Gerais que tem um biotério, espaço para manutenção de animais de experimentação. Esse diferencial é importante, especialmente num momento de enfrentamento do SARS-CoV-2. “Todos os projetos de vacina têm de ser desenvolvidos, primeiro em modelo animal. E os procedimentos necessários para isso precisam ser feitos usando um NB3”, explica Renato Santana, destacando que esta é a “primeira etapa do desenvolvimento de vacinas e antivirais para qualquer patógeno”. 

O coordenador do NB3, professor Luís Henrique Franco, do  departamento de Bioquímica e Imunologia, esclarece que ainda existem poucos laboratórios de contenção no Brasil. Em Belo Horizonte, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) possui um similar. Quanto ao espaço físico, ele informa dispor automatização de portas, pressão negativa, vestiário e autoclave para descontaminação de resíduos gerados durante os experimentos. 

Regulamentado pela CNTBio, que certifica seu funcionamento, a operação do NB3 é fiscalizada ainda pela Comissão de Biossegurança do ICB. Seguindo programas de boas práticas laboratoriais e de segurança, só pode trabalhar no local quem for aprovado em curso específico e usar dispositivos e equipamentos de proteção individual apropriados. Além disso, os cientistas serão supervisionados por especialistas em Microbiologia, com conhecimentos e experiência no manejo desse tipo de agente patogênico. 

Investimentos e uso compartilhado

Financiado com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação, o NB3 contou com investimentos iniciais na casa de R$1,5 milhão e teve sua estrutura física inaugurada em 2019.  

“Com a pandemia e a necessidade de mais laboratórios do tipo para pesquisas relacionadas a vacinas para a covid-19, foi retomada a busca por financiamento, desta vez para aquisição de equipamentos e para o sistema de pressão negativa”, relata Luís Franco. Na fase final, foram investidos R$2,5 milhões, a partir do projeto do professor Mauro Martins Teixeira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia, aprovado pela Finep. 

“O principal desafio para o NB3 agora é sua manutenção”, afirma Renato Santana, segundo o qual o custo do laboratório deve girar em torno de R$150 mil por ano. Por isso, seu uso precisa ser cofinanciado por seus usuários, por meio de taxas que possibilitarão garantir a continuidade das operações a longo prazo. 

Ganho para a saúde pública 

Mais do que um ganho para a saúde pública, o laboratório NB3 é muito importante para qualquer universidade, avalia Renato Santana. Ele baseia sua avaliação no fato de que a possibilidade de conter ou evitar um acidente biológico durante as pesquisas pode levar a respostas mais rápidas e mais eficientes no desenvolvimento de vacinas e de medicamentos para doenças que matam muitas pessoas no mundo.

“Hoje, com a covid-19, a gente vê que um laboratório com esse nível de segurança é extremamente necessário, mas ele foi concebido ainda no comecinho dos anos 2000”, lembra o professor Sérgio Costa Oliveira, idealizador e precursor do NB3. “Atualmente a UFMG tem várias iniciativas e projetos para teste de vacina contra covid-19. Não tem como avançar nossas pesquisas sem fazer ensaios-desafio com o vírus fora de um laboratório NB3”, afirma. Segundo o médico veterinário, os pesquisadores mineiros precisam pagar por estruturas, grande parte das vezes em outras cidades ou estados, e isso onera e atrasa o avanço do estudo.

Santana destaca também que, “uma vez que nossa sociedade está sempre sofrendo com patógenos emergentes e de difícil isolamento, como os que causam dengue, zika, chikungunya, ou a tuberculose, - ter uma estrutura como esta permite que estejamos preparados para lidar com doenças emergentes, não só no isolamento e identificação da doença, mas também para combatê-las”, comemora o cientista.

Níveis de biossegurança 

Os níveis de biossegurança vão de 1 a 4. Os dois primeiros estão relacionados a microrganismos não transmissíveis pelo ar. Já o 3 e o 4, relacionam-se aos que são dispersos por vias aéreas. A diferença é que no nível 3 não há risco para o pesquisador respirar o ar do ambiente, pois a amostra clínica em estudo é aberta dentro de um fluxo laminar que o protege de recebê-lo durante o trabalho. Já no nível máximo, o 4, o pesquisador não pode respirar o mesmo ar do ambiente, pois os microrganismos em estudo são muito mais letais e facilmente transmissíveis por vias aéreas. Um exemplo é o vírus ebola. 

Como agendar o uso 

O acesso ao NB3 ICB está disponível a todos os pesquisadores habilitados, da UFMG e de outros institutos de ensino e pesquisa, mediante cumprimento de uma série de etapas e compromissos. O primeiro passo, no entanto, é submeter o projeto de pesquisa à comissão gestora. Se aprovado, toda a equipe será treinada e os aprovados serão autorizados a agendar seus horários de uso. 
Solicitar acesso: https://sites.google.com/view/... 

Informações: Centro de Laboratórios Multiusuários do ICB (Celam) https://www2.icb.ufmg.br/celam/index.php/2-uncategorised/31-laboratorio-de-biosseguranca-nb3

Dayse Lacerda

Fonte

Assessoria de Comunicação Social e Divulgação Científica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG

(31) 99131-9115

www.icb.ufmg.br