Novembro Negro: Marcus Deusdedit participa do novo episódio de podcast do Centro Cultural UFMG
O décimo nono episódio do Corredor Cultural 174 Podcast, produzido pelo Centro Cultural UFMG, traz um bate-papo com o jovem artista mineiro Marcus Deusdedit, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG e mestrando na referida área pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP). Atua como artista visual na interseção entre arte, arquitetura e design, explorando possíveis deslocamentos estéticos dos códigos desses campos, suas distorções e tensionamentos a partir do atravessamento por questões socioeconômicas e raciais.
Marcus Deusdedit participou da oitava edição do programa Bolsa Pampulha, residência artística do Museu de Arte da Pampulha e foi premiado pelo 4º Prêmio Décio Noviello de Artes Visuais. Colabora em importantes exposições, como o 38º Panorama da Arte Brasileira no Museu de Arte Contemporânea da USP e a mostra Dos Brasis - Arte e Pensamento Negro, no Sesc Belenzinho, em São Paulo. Atualmente, está em residência artística pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).
No podcast, Marcus explica o seu interesse pelas artes visuais, ainda que sua pesquisa esteja voltada para o campo da arquitetura e design. “Eu tenho muito interesse em desenvolver essa pesquisa que é sobre estética contemporânea na arquitetura e, em dado momento, o formato que essa pesquisa foi tomando acabou se esbarrando e se confundindo ali com as artes visuais”, diz. “Por mais que ela esteja concentrada dentro do campo da arquitetura e design, acho que ela acabou tendo mais espaço no campo das artes visuais, por uma questão de ter mais liberdade propositiva em termos de formatos”, relata. Ele acredita que nunca se tornou um artista de fato e expressa: “acho que eu nunca tive um interesse, especificamente, em me tornar artista, mas o consumo de outros campos sempre foi mais natural do que o consumo da própria arquitetura”.
Em suas obras, Deusdedit apresenta sua visão enquanto um homem negro e periférico que atua em uma profissão “de branco” e revela como essa realidade influencia em sua criação artística. “Todos os meus trabalhos e a minha pesquisa vêm tentar olhar para o campo da arquitetura e design a partir de uma forma menos romantizada e de uma forma que considera mais os padrões sociais que se repetem nesse campo. Então, todo o trabalho que eu produzo é muito honesto em relação a essa perspectiva, que é a perspectiva de um homem negro, cis e periférico”, pronuncia. Ele conta que, durante toda a sua vida, até mesmo antes da universidade, esteve permeado por esse ‘entre-lugar’: “eu venho de um bairro periférico aqui em Belo Horizonte, mas, ao mesmo tempo, estudei em escola particular, eu era bolsista na escola particular, então acho que, desde muito novo, eu tinha essa sensação de deslocamento e desse entre-lugar um pouco dentro do meu cotidiano, enfim, dentro da minha vida, e acho que isso sempre orienta o meu trabalho”.
Embora Marcus acesse espaços que “a princípio não são naturais a corpos negros e periféricos”, ele reitera que “ainda não vai pertencer a esses lugares”, como aponta na conversa. “Uma vez que eu me desloco, faço curso superior, passo a frequentar o centro da cidade, o centro-sul da cidade, o centro-sul de outras capitais e ver essas coisas que estão muito menos acessíveis aos meus familiares e ao meu bairro, então eu passo a habitar um lugar permanentemente, esse lugar de não pertencimento”, expõe. “Ele ainda vai ser um lugar que pode até ser confortável para mim, mas o desconforto está sempre em jogo, sabe?”, considera.
O artista afirma que é muito difícil pensar em pertencimento quando está se referindo ao seu trabalho, ainda que suas produções dialoguem com várias pessoas e o contexto econômico, político e social seja de mudanças. “Quando você pensa num contexto de Brasil, a gente teve um momento de ter uma política de esquerda, uma política progressista, que permitiu o ingresso de vários corpos dissidentes ao ensino superior. Isso muda o perfil, de fato, das universidades, isso muda o perfil social de quem consome arte no Brasil e de quem está ocupando esses lugares centrais. Então, acho que tem toda essa camada nos últimos anos, mas eu acho que ainda é muito difícil você assumir isso como um lugar de pertencimento, sabe, porque, no final das contas, eu acho que existe uma dissidência e existe um deslocamento”, declara.
Em suas obras, Deusdedit tem trabalhado gradativamente mais com uma forma de ‘violência passiva’, como denomina na conversa, e diz que o seu trabalho lida com o ‘tensiomento’. “Se existe um jogo de constranger e ser constrangido, eu quero ser a pessoa que constrange, eu quero mudar essa balança”, expõe. O artista manifesta que o intuito do seu trabalho é conseguir existir ao mesmo tempo que gere cada vez mais incômodo. “Às vezes, eu prefiro que o meu trabalho provoque um ruído maior do que uma grande aceitação”, demonstra.
Pelo fato de trabalhar em um campo muito ‘cifrado’ e ‘codificado’, termos que utiliza para explicar sua área de atuação e abordagem, Marcus diz que nem sempre suas obras são compreendidas ou bem recebidas por pessoas fora de sua realidade. “Essa incompreensão tem que existir, ela tem que ser natural, porque, de fato, esses lugares não se misturam. Às vezes, eu acho que a gente cria essa ilusão que negros estão acessando os lugares, e beleza, e cada vez mais manifestações negras sendo valorizadas etc., mas esses lugares não vão se misturar nunca, porque estruturalmente eles já foram diferenciados”, exprime.
Ouça o podcast na íntegra e conheça as diversas linguagens desenvolvidas pelo artista, que vão desde fotografias a objetos tridimensionais e instalações multimídias, sempre conectados pelo gesto de edição e remix.
Acompanhe o trabalho de Marcus Deusdedit no Instagram.
Corredor Cultural 174 Podcast é um projeto que disponibiliza, mensalmente, no Spotify, conversas com artistas, músicos, escritores, cineastas, agentes culturais e demais pessoas que pensam, respiram e produzem cultura. “Corredor”, pelo fato de o Centro Cultural UFMG estar situado no corredor cultural Praça da Estação e também no sentido de espaço de passagem, onde transitam ideias, movimentos e expressões artísticas em Belo Horizonte. “Cultural”, pois a temática será sempre cultura e “174” é o número de localização da instituição na Avenida Santos Dumont.
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