Pandemia altera critérios de recomendação de vídeos do YouTube, explica pesquisador da UFMG

Plataforma passou a privilegiar conteúdos jornalísticos e restringiu a indicação de produções que provocam desinformação

Um dos temas de interesse no momento, relacionado à pandemia do novo coronavírus, é o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a Covid-19. O pesquisador Gregório Fonseca, doutorando do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da UFMG, que tem investigado as buscas e resultados encontrados a partir da pesquisa pelo termo vacina no Youtube, observou mudanças nos  critérios de recomendação de vídeos da plataforma, com alterações para privilegiar conteúdos jornalísticos e restrição a produções que possam provocar desinformação.

O interesse pelo tema surgiu antes da pandemia: a pesquisa de Fonseca tem como foco os problemas de desinformação gerados por conteúdos antivacina postados e acessados na plataforma. “A Covid-19 representou um ponto de virada muito grande no trabalho, porque mexeu completamente com os conteúdos sobre o tema no Youtube e com a forma das pessoas trabalharem informações sobre a vacinação”, explica o pesquisador.

Em entrevista à Rádio UFMG Educativa, Gregório Fonseca falou sobre os critérios utilizados pelo Youtube para recomendar vídeos para os usuários da plataforma e as mudanças observadas nesses parâmetros, em relação às buscas pelo termo vacina durante a pandemia. “A plataforma leva em conta vários fatores ao recomendar os vídeos: os tipos de conteúdo já assistidos antes pelo usuário, pesquisas feitas anteriormente e até o local geográfico de onde a pessoa faz a busca", exemplifica. 

Ao realizar buscas com o termo vacina, antes da pandemia da Covid-19, Fonseca aferiu que os vídeos mais recomendados sobre o tema eram conteúdos publicados há muitos anos, o que mudou radicalmente depois da pandemia: “Agora, observamos uma variedade muito maior de conteúdos sobre o tema, com uma atualização constante. Os vídeos que a plataforma considera mais relevantes são, em geral, publicados recentemente, no dia da busca ou um dia antes, e carregam teor jornalístico”, aponta Fonseca.

De acordo com os estudos do pesquisador, os vídeos sobre o tema que mais alcançaram visualizações, no contexto da pandemia, também tem caráter factual: “Observamos que os conteúdos com caráter jornalístico têm tido aporte significativo na plataforma, com alcance bem maior que os outros vídeos. Conteúdos de humor relacionados ao assunto são poucos, mas quando surgem também alcançam muitas pessoas. Isso ocorre principalmente com aquele tipo de humor que está de acordo com os princípios da OMS, e, que ao satirizar quem não cumpre as recomendações da Organização, acaba sendo educativo”, ressalta Fonseca. “Essa mudança revela uma postura proativa da plataforma, definindo vídeos que provocam desinformação como menos elencados”, acrescenta o pesquisador.

Combate à desinformação

A desinformação, caracterizada pela disseminação de notícias falsas e de informações imprecisas, é uma dor de cabeça para a plataformas digitais, incluindo o Youtube. Mesmo quando os conteúdos que trazem informações falsas sobre vacinas deixam de ser recomendados pelo site, muitas vezes eles continuam no ar e podem ser acessados por quem tiver interesse. 

De acordo com pesquisador Gregório Fonseca, o YouTube pode, sim, remover esses vídeos da rede. “Há relatos de vários canais que tiveram vídeos retirados do ar por promover a desinformação. Existe uma moderação do Youtube que verifica esses conteúdos, mas com o grande volume de postagens diárias, suas equipes não conseguem verificar tudo. Em algumas situações, o vídeo só é retirado depois de atingir centenas de milhares de pessoas”, lamenta Fonseca. 

Gregório Fonseca integra o grupo de pesquisa R-EST: estudos redes sociotécnicas, da UFMG, que neste mês publicou dois artigos sobre a atuação da plataforma no cenário no contexto da pandemia. Fonseca falou sobre o assunto e sobre as produções desenvolvidas pelo R-EST no programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa.

Os textos As mudanças na governança do YouTube em função da pandemi e Pesquisando ‘vacina’ no YouTube durante a pandemia, ambos de autoria de Gregório Fonseca, estão publicados na plataforma Medium.

Assessoria de Imprensa UFMG

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Assessoria de Imprensa UFMG