Pesquisa da História narra perseguição a docentes da UFMG e de universidade chilena durante as ditaduras

Nos três primeiros anos da ditadura instaurada pelos militares no Chile, em 1973, com a deposição do presidente Salvador Allende, só a Universidad Técnica del Estado (UTE) teve cinco professores assassinados, entre os quais dois brasileiros exilados. Houve demissão de elevado contingente de docentes, principalmente nos meses seguintes ao golpe, centenas de mestres foram presos, e dezenas deles chegaram a ser torturados. 

Na UFMG, foram mais de dez professores presos pela ditadura militar, e dois deles – Celson Diniz Pereira e Simon Schwartzman – relataram ter sofrido violência física na prisão. Aqui, a vigilância e a repressão contra os professores foram mais intensas com o aumento das manifestações estudantis e após o Ato Institucional nº 5, de 1968, quando 17 professores foram exonerados, incluindo o então reitor Gerson Boson e o reitor à época do golpe, Aluisio Pimenta.

Os dados são fornecidos pelo historiador Luan Aiuá Vasconcelos Fernandes, que, em março deste ano, apresentou, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, sua pesquisa de mestrado sobre a perseguição de professores nas duas universidades. Ele mergulhou em arquivos no Brasil e no Chile – chegou a morar em Santiago por cinco meses – e reuniu cerca de 20 relatos colhidos por ele próprio e por outros pesquisadores.

"Tanto no Brasil como no Chile, a repressão contra os professores esteve estreitamente relacionada às lutas do movimento estudantil em contexto de reforma universitária", diz o pesquisador. "A aproximação com os estudantes e o grau de apoio às reformas foram fatores relevantes, aliados, naturalmente, à identificação dos docentes com alguma cultura política de esquerda."

Modelo socialista
Luan Fernandes explica que a UTE – que em 1981 passaria a se chamar Universidade de Santiago de Chile (Usach) – era modelo de universidade do governo socialista de Salvador Allende e abrigava muitos militantes da esquerda. O prédio da reitoria foi bombardeado no dia do golpe – assim como o Palácio de La Moneda e a residência oficial do presidente –, e o reitor Enríque Kirberg chegou a fazer trabalhos forçados em campo de concentração no Sul do Chile. Uma das entrevistadas por Luan Fernandes foi a professora de História Neuda Aguilar Duhau, exonerada logo após o golpe.

"Na UTE, a repressão foi ainda maior que em outras universidades chilenas, porque foi reforçada por um viés classista e racista. A instituição abrigava filhos de trabalhadores e imigrantes pobres, estudantes indígenas e negros, que eram tratados com mais rigor. Muitos morreram nos meses pós-golpe, e a maioria foi expulsa da UTE", afirma Fernandes.

Habilidade
Luan Fernandes lembra que os professores da UFMG contaram, nos primeiros tempos pós-golpe, com a habilidade do então reitor Aluísio Pimenta, que morreu no mês passado.   Apesar de identificado com a esquerda – era ligado ao PTB –, ele soube usar suas boas relações com o ministro da Justiça, Milton Campos, com o governador de Minas, Magalhães Pinto, e com a imprensa conservadora.

"Era um reitor jovem, apoiado por professores também jovens e progressistas e pelos estudantes que defendiam reformas. Conseguiu reduzir a 48 horas uma intervenção na Reitoria que certamente foi planejada para durar muito mais", conta o pesquisador.
O trabalho mostra também que as reformas durante os regimes militares foram de naturezas opostas nas duas universidades. "Enquanto a UFMG foi modernizada, com o fim das cátedras e a criação dos departamentos, a UTE sofreu mudanças de teor neoliberal que resultaram no fechamento de muitos centros de pesquisa", diz Luan Fernandes.

Dissertação: Professores universitários na mira das ditaduras: a repressão contra os docentes da UFMG (Brasil, 1964-1969) e da UTE (Chile, 1973-1981)
Autor: Luan Aiuá Vasconcelos Fernandes
Orientador: Rodrigo Patto Sá Motta
Defesa em: 30 de março, no Programa de Pós-graduação em História

(Itamar Rigueira Jr. / Boletim 1.942)

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