Pesquisa liderada por professor da UFMG mostra maior diversidade de linhagens de plantas na transição entre a Amazônia e o Cerrado

Artigo publicado na Scientific Reports aponta maior diversidade de linhagens de plantas em regiões sazonalmente secas, contrariando décadas de en

Resultados de um estudo publicado hoje, 24 de janeiro, na revista Scientific Reports, contrariam décadas de entendimento sobre como a diversidade de plantas é distribuída ao longo de gradientes de precipitação (chuva). Os pesquisadores esperavam encontrar maior diversidade de linhagens de plantas em áreas mais úmidas, como a Amazônia, mas encontraram um número maior de linhagens em regiões sazonalmente secas, na transição da Amazônia para o Cerrado no Brasil central.

A maior parte dos estudos foca na comparação da diversidade de linhagens, tanto de plantas como animais, entre regiões com clima mais frio e regiões com climas mais quentes. No entanto, dentro das regiões tropicais, existem várias outras condições ambientais que vinham sendo negligenciadas pelas pesquisas, como a distribuição a partir de diferentes condições de precipitação ou os impactos das mudanças climáticas globais. O novo estudo foi concebido para aumentar a compreensão específica sobre como as linhagens de plantas com flores, também conhecidas como angiospermas, estão distribuídas na América do Sul.

Para a realização do trabalho, foram reunidos mais de 20 pesquisadores de instituições da América do Sul e Reino Unido, entre eles Danilo Neves, professor do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG que lidera a pesquisa, e o professor aposentado Ary Oliveira-Filho, também do ICB.

“Foram mais de três anos de trabalho de campo com o objetivo de encontrar centenas de linhagens de plantas. As atividades de campo foram concentradas no Brasil, Bolívia e Peru. No Brasil, foram coletadas plantas em áreas de Mata Atlântica, nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro; áreas de Cerrado (savanas), nos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso do Sul, bem como áreas de Floresta Amazônica, nos estados do Amazonas e Pará”, explica Danilo Neves.

Descobertas

No artigo, os autores descrevem a descoberta inesperada de que a maior diversidade evolutiva nas florestas tropicais sul-americanas não se encontra nos ambientes mais úmidos, mas em comunidades arbóreas que ocorrem sob precipitação intermediária. Além disso, o trabalho gerou uma quantidade sem precedentes de sequências de DNA de linhagens de plantas da América do Sul, gerando, segundo os autores, a visão mais abrangente até o momento sobre a história macroevolutiva das plantas com flores encontradas na América do Sul.

A pesquisa é baseada em uma combinação única de dados de inventário florestal e filogenéticos (DNA). “Em primeiro lugar, trazemos uma base de dados inigualável em sua amplitude e detalhe ecológico, de 2.025 levantamentos de comunidades de árvores, abrangendo todo o espaço ambiental em terras baixas e tropicais da América do Sul, uma área que abrange grandes biomas, como a Amazônia e as florestas tropicais atlânticas e as savanas do Cerrado”, esclarece Danilo Neves.

Os dados levantados são combinados com uma nova filogenia molecular calibrada temporalmente, compreendendo quase todos os gêneros de angiospermas nas planícies tropicais da América do Sul. Foi possível, então, reconstruir uma árvore filogenética (árvore da vida), compreendendo 160 milhões de anos da história evolutiva dessas linhagens de plantas, e que foi disponibilizada para a comunidade científica como parte do estudo.

Desmatamento e riscos ambientais

A região de maior diversidade de linhagens coincide com o arco do desmatamento, onde a alteração do habitat tem sido intensa, rápida e ignorada. A descoberta exige maior atenção conservacionista para a zona de transição entre a Amazônia oriental e as savanas e florestas secas vizinhas. Essas comunidades arbóreas altamente ameaçadas ocorrem ao longo do arco do desmatamento, onde a alteração do habitat tem sido difundida, rápida e ignorada, uma vez que a maioria do público em geral e os tomadores de decisão desconhecem a importância dessas áreas para abrigar uma diversidade evolutiva única.

“Nossos resultados ressaltam a importância de implementar estratégias de conservação que sejam efetivas para preservar as florestas e savanas encontradas na transição entre o leste da Amazônia e o Cerrado brasileiro”, afirma Danilo Neves. Segundo o especialista, estudos recentes mostram que áreas com maior diversidade de linhagens de plantas, ou seja, maior diversidade evolutiva, apresentam maior produtividade primária, sendo mais eficientes em retirar gases de efeito estufa da atmosfera e incrementar em seus troncos, raízes e folhas.

“Proteger as poucas florestas e savanas que ainda existem no arco do desmatamento representaria uma estratégia mais eficiente para preservar a maior amplitude de linhagens de plantas da América do Sul, além de cumprir com as metas internacionais assinadas pelo governo brasileiro sobre ações que possam mitigar os efeitos das mudanças climáticas globais causadas pela alta concentração de gases de efeito estufa na atmosfera”, alerta o líder da pesquisa.

Artigo: Evolutionary diversity in tropical tree communities peaks at intermediate precipitation

Autores: Danilo M. Neves, Kyle G. Dexter, Timothy R. Baker, Fernanda Coelho de Souza, Ary T. Oliveira-Filho, Luciano P. Queiroz, Haroldo C. Lima, Marcelo F. Simon, Gwilym P. Lewis, Ricardo A. Segovia, Luzmila Arroyo, Carlos Reynel, José L. Marcelo-Peña, Isau Huamantupa-Chuquimaco, Daniel Villarroel, G. Alexander Parada, Aniceto Daza, Reynaldo Linares-Palomino, Leandro V. Ferreira, Rafael P. Salomão, Geovane S. Siqueira, Marcelo T. Nascimento, Claudio N. Fraga & R. T oby Pennington.

Publicação: Scientific Reports

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Imprensa UFMG