Pesquisa UFMG: Número de brasileiros com 50 anos ou mais em solidão na pandemia foi menor do que antes dela

Estudo também identificou benefício da conexão virtual para redução desse sentimento

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da UFMG fizeram a estimativa da prevalência da solidão em adultos com 50 anos ou mais, comparando o período pré-pandêmico e os primeiros meses do surto de covid-19. Além de encontrarem uma taxa menor nos relatos gerais de solidão durante a pandemia, também relacionaram o sentimento com a desconexão, seja a falta de contato presencial ou virtual, identificando potencial benefício das ligações telefônicas e conversas por redes sociais, por exemplo.

“Desde 2017, a solidão é considerada uma epidemia mundial entre adultos mais velhos. Ainda, durante o período de distanciamento imposto pela pandemia, muitas estratégias para incentivar o engajamento dessas pessoas, como exercício físico, atividades sociais e trabalho voluntário tiveram que ser suspensas”, comenta a professora e autora principal, Juliana Torres. Mas, “diferentemente do que se esperava, a prevalência de solidão diminuiu no período da pandemia. Ela foi de 32,8% no período pré-pandêmico para 23,9% no período da pandemia”.

Embora possa ser uma boa notícia, Torres destaca a necessidade de permanecer atentos à representatividade dessa taxa. “Isso é quase um quarto da população estudada. A proporção de pessoas que se sentiam sozinhas ‘sempre’ antes da pandemia ainda continua semelhante durante esse período. Ou seja, esta melhora na solidão foi vista apenas para a solidão mais leve”, alerta.

Outro resultado foi em relação às características que se destacaram na associação com o status de solidão: sexo, diagnóstico de depressão, local e região de residência, sendo que os grupos com maior frequência de solidão foram as mulheres; pessoas com depressão; residentes na área rural; e da região Nordeste do Brasil.

A conexão virtual de fala e a conexão fora de casa também tiveram destaque na associação com a frequência do sentimento de estar solitário. “Vimos que os idosos que sentem solidão em qualquer magnitude tendem a ter menos conexões virtuais, reforçando a importância de se manter esses contatos”, comenta Torres.

Entretanto, com base nos dados, a professora revela que o incentivo pelas conversas virtuais tem mais impacto para reduzir o sentimento daqueles que relataram solidão só algumas vezes. Isso, porque, mais um resultado chamou a atenção: o grupo de pessoas que tiveram contatos presencialmente com familiares e parentes fora do seu domicílio tiveram maior probabilidade de sentir sozinho sempre.

“Os resultados apontam que, para as pessoas com os maiores níveis de solidão, apenas os contatos sociais do tipo virtual podem não ser suficientes para afastar o sentimento percebido de isolamento, fazendo com que essas pessoas mantenham contatos pessoais mesmo durante as medidas de distanciamento social. Por isso, elas precisariam de outras estratégias de socialização”, Juliana Torres.

Dessa forma, a pesquisa reforça a importância de incentivar e manter os contatos sociais do tipo virtual durante o período de distanciamento social para pessoas com 50 anos ou mais. E ressalta que os profissionais de saúde se atentem àquelas pessoas que apresentam os maiores níveis de solidão, pois além de poderem piorar sua saúde mental durante o isolamento, podem se colocar em risco para a covid-19, já que não aderem fielmente às medidas de distanciamento social.

O estudo usou como dados as respostas dos questionários do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (Elsi Brasil), que contou com 4.431 participantes com 50 anos ou mais, de todas as regiões do país, sendo, por tanto, uma amostra probabilística de toda a população brasileira com essa idade.

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Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG

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