Pesquisadores da UFMG descrevem novas espeìcies de tipo raro de tamanduaì

Tamanduaís foram identificados em regiões de Mata Atlântica e na Amazônia brasileira

Uma equipe de pesquisadores da UFMG descreveu, em artigo publicado recentemente, três novas espécies de tamanduaí, tipo raro de tamanduá, com cerca de 50 centímetros, que vive em árvores das regiões da Mata Atlântica e da Amazônia brasileira. A pesquisa –  cujos resultados constam do artigo Taxonomic review of the genus Cyclopes Gray, 1821 (Xenarthra, Pilosa), with the revalidation and description of new species, publicado no Zoological Journal of the Linnean Society – também eleva à categoria de espécie três subespécies de tamanduaí.

A descoberta, abordada na reportagem de capa da edição 2.005 do Boletim UFMG, é fruto da pesquisa de doutorado da veterinária Flávia Miranda, que foi orientada pelo professor Fabrício Santos, do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (ICB). A investigação teve início em 2007, no âmbito da ONG Projeto Tamanduá, que conta com a participação de Flávia em atividades de conservação animal.

As descobertas foram feitas ao longo desses 10 anos, em 19 expedições à procura de amostras de sangue do Cyclopes didactylus, única espécie até então conhecida de tamanduaí, no norte da Amazônia, entre as Guianas e o Maranhão, e na região da Mata Atlântica, no Nordeste do Brasil.

“Queríamos saber se as espécies encontradas na Amazônia eram as mesmas que habitavam a região da Mata Atlântica, mas encontramos três espécies até então desconhecidas. Além disso, por meio de análises, conseguimos reclassificar alguns animais, elevando outras três subespécies à categoria de espécie”, explica Flávia.

A pesquisa foi realizada em várias etapas. Amostras de sangue dos animais foram submetidas à análise de DNA no Laboratório de Genética do ICB. Foi desenvolvido também extenso estudo morfológico, que buscava observar características físicas dos animais.

“Comparamos cerca de 300 animais guardados em coleções de diversos museus espalhados pelo mundo. Observamos a coloração do dorso, membros anteriores e posteriores, a coloração da cauda e o tamanho e formato do crânio. Encontramos cerca de 10 características morfológicas que, aliadas às características genéticas verificadas em laboratório, possibilitaram a descrição das novas espécies”, afirma Flávia Miranda.

Doutorando em Zoologia do ICB e um dos autores do artigo, Daniel Casali acrescenta que também foram realizados testes de delimitação de espécies, feitos no computador. “Usamos uma série de programas comuns na área da taxonomia, que avaliavam os possíveis limites entre as espécies. O estudo foi muito bem recebido na área por se tratar de uma pesquisa integrada, que usou elementos da morfologia, da zoologia e da genética, entre outros campos. Todas essas frentes de estudo nos forneceram elementos que levaram às novas descobertas sobre o tamanduaí.”

Mais proteção

As três espécies descritas são a Cyclopes xinguensis, encontrada próximo à região do Rio Xingu, na Amazônia, a Cyclopes rufus, presente na região de Rondônia e nomeada assim devido à sua cor avermelhada, e a Cyclopes thomasi, que vive na margem direita do Rio Amazonas, entre o estado do Acre e o Peru. O nome desta última espécie homenageia Michael Rogers Oldfield Thomas, famoso zoólogo britânico.

As três subespécies elevadas à categoria de espécie são a Cyclopes ida, cuja presença está restrita ao norte do Rio Amazonas e à margem direita do Rio Negro, a Cyclopes dorsalis, que habita florestas da América Central, do México, da Colômbia e do Equador, e a Cyclopes catellus, restrita ao sopé dos Andes, na Bolívia.

Para Daniel Casali, a pesquisa propicia maior conhecimento da biodiversidade brasileira, considerada uma das mais ricas do mundo. “Tememos que a biodiversidade seja perdida antes de ser conhecida. Alguns animais, para serem incluídos em programas de conservação, precisam ser conhecidos e elevados à categoria de espécie. Trabalhos como o nosso possibilitam que mais animais sejam protegidos”, diz.

Flávia Miranda acrescenta que os esforços de conservação beneficiavam a única espécie de tamanduaí então conhecida, a Cyclopes didactylus. Agora, a proteção poderá se estender aos novos animais descritos. “Já conversamos com o governo brasileiro e com as organizações internacionais de conservação da natureza, pleiteando que seja iniciado um processo de pesquisa que nos mostre o status de ameaça a essas novas espécies. Precisamos investigar a distribuição geográfica desses tamanduaís, coletar mais material para análise e elaborar estratégias de conservação para aqueles que estejam ameaçados”, conclui.

Os tamanduás brasileiros

Até o início da pesquisa, eram reconhecidas apenas três ­espécies de tamanduás no Brasil: bandeira, mirim e tamanduaí. Todos os tamanduás pertencem ao grupo dos Xenarthra, que inclui outros mamíferos como os tatus e o bicho-preguiça. O tamanduaí é um mamífero pequeno, de hábitos noturnos, que vive nas copas das árvores e se alimenta de formigas. Com a conclusão do estudo realizado pelo grupo de pesquisadores brasileiros, agora estão descritas sete espécies de tamanduaís. Por enquanto, as novas espécies receberam apenas nomes científicos.

Artigo: Taxonomic review of the genus Cyclopes Gray, 1821 (Xenarthra, Pilosa), with the revalidation and description of new species, publicado no Zoological Journal of the Linnean Society, em dezembro de 2017

Autores: Flávia Miranda, Daniel Casali, Fernando Perini, Fábio Machado e Fabrício Santos.

Agência de Notícias UFMG - Texto de Luana Macieira - Boletim nº 2005

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