Pesquisas de graduação, mestrado e doutorado da UFMG vencem prêmio nacional de economia

Trabalhos contemplados tratam de teoria da demanda, agricultura sob mudanças climáticas e diversificação produtiva

Trabalhos de graduação, mestrado e doutorado defendidos na Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG nos últimos anos conquistaram, nas respectivas categorias, o Prêmio Brasil de Economia de 2020. A premiação é concedida pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon).

Arthur Ribeiro Queiroz venceu em Monografia de graduação, com o trabalho Estratégia de diversificação produtiva: uma proposta para aumentar a complexidade econômica dos estados brasileiros. Bruno Aguiar Carrara de Melo também foi primeiro colocado com a dissertação Elementos evolucionários para uma teoria da demanda. E Tárik Marques do Prado Tanure venceu na categoria tese de doutorado, com o trabalho Mudanças climáticas e agricultura no Brasil: impactos econômicos regionais e por cultivo familiar e patronal.

O diretor da Face, Hugo da Gama Cerqueira, comenta que o Prêmio Brasil de Economia é o mais abrangente da área e contemplam trabalhos de alunos, pesquisadores e profissionais. "O curso de graduação e o programa de pós-graduação em economia são bastante consolidados e têm sua qualidade reconhecida por meio de diferentes processos de avaliação, e essa premiação é um indicador a mais da qualidade da formação oferecida pela UFMG", diz o professor. Ele ressalta que os trabalhos premiados tratam de áreas distintas da economia e adotam diferentes abordagens teórico-metodológicas, "o que coroa a opção do Departamento e da Faculdade pela promoção de um ambiente de ensino e pesquisa plural, em que coexistem as mais diversas abordagens e tradições teóricas, como deve ser em uma instituição universitária".

Produtividade agrícola

Em sua pesquisa, Tárik Tanure estimou os efeitos das mudanças climáticas sobre a produtividade dos agricultores familiares e dos patronais (produção em larga escala) e projetou os impactos econômicos decorrentes do fenômeno. Para tanto, segundo ele, foi calibrado o primeiro modelo de Equilíbrio Geral Computável (EGC) do Brasil, com modelagem específica para a agricultura familiar.

“Projetamos os impactos sobre 21 cultivos de origem familiar e patronal, por estado. O estudo contribui ao indicar a magnitude e a direção dos efeitos sobre a produtividade agrícola e nível de atividade econômica, por cultivo e por unidade da federação”, explica o pesquisador. “Verificamos que a produtividade da agricultura familiar é mais sensível às mudanças climáticas e que cultivos vinculados à segurança alimentar seriam negativamente afetados. Portanto, o fenômeno poderia contribuir para o aumento da vulnerabilidade desses produtores.”

Segundo Tárik, que foi orientado pelo professor Edson Domingues (a coorientação foi de Aline Magalhães), a maioria das unidades da federação seriam negativamente afetadas; em contrapartida, importantes regiões produtoras (São Paulo e o Sul do país) seriam beneficiadas com aumento de produtividade e nível de atividade, amenizando o impacto negativo sobre o PIB. “Nesse sentido, as mudanças climáticas poderiam aumentar as disparidades regionais no país”, diz o pesquisador, que é graduado e mestre em Economia pela Universidade Federal de Uberlândia e realiza estágio pós-doutoral na Universidade Federal do Paraná.

Consumo familiar

Bruno Aguiar, que concluiu o mestrado em 2019, aplicou em seu estudo as abordagens evolucionária e de complexidade à análise do consumo familiar. Ele explica que, devido aos princípios de reducionismo, racionalidade com otimização e equilíbrio, a teoria neoclássica do consumidor tem sérias dificuldades para lidar com mudanças frequentes típicas do capitalismo. “Tal inadequação é ilustrada pela história econômica dos EUA desde 1870, marcada por mudanças qualitativas resultantes do processo coevolutivo entre tecnologia, organização de firmas, instituições, sociedade e consumo das famílias”, escreve o pesquisador, que é graduado em Economia e Física pela UFMG.

Após discutir as teorias evolucionária e da complexidade, Aguiar propôs elementos para uma visão alternativa da teoria do consumidor que considere agentes com racionalidade limitada, capazes de aprender de acordo com as experiências, próprias e de outros, em um contexto de interação social e com frequentes mudanças. “Consumidores são avaliados em termos de suas motivações e processos de tomada de decisão, com heurísticas para poupar esforços diante de incertezas. São analisadas as relações entre agentes e os processos de auto-organização que levam à emergência de agrupamentos e de padrões relacionais que conferem complexidade à agregação.” Bruno Aguiar foi orientado por Eduardo da Motta e Albuquerque, com coorientação de Leonardo da Costa Ribeiro.

Setores promissores

Por meio de uma proposta de diversificação produtiva, o trabalho final de graduação de Arthur Queiroz indicou os setores mais promissores para o desenvolvimento econômico de cada estado brasileiro. A pesquisa contém também avaliação do impacto da complexidade econômica sobre o volume de empregos e simulação do aumento de postos de trabalho ocasionado pela maior sofisticação na produção das atividades ditas promissoras para cada unidade federativa.

“A concepção cepalina, que defende o protagonismo da estrutura produtiva sobre o processo de desenvolvimento econômico, foi a sustentação teórica da pesquisa”, comenta Arthur Queiroz, orientado pelo professor João Romero. “A metodologia, fundamentada na abordagem da complexidade econômica – linha teórica recente e em constante crescimento –, foi adaptada para possibilitar o estudo para cada estado brasileiro. Os resultados obtidos evidenciaram a compreensão da Cepal, de centralidade da estrutura produtiva, e reafirmaram a importância da complexidade sobre o desempenho da atividade econômica – principalmente, sobre o volume de empregos existente.” O trabalho teve coorientação do Elton Freitas. Arthur inicia neste ano o mestrado em Economia na UFMG.

(Texto de Itamar Rigueira Jr.)

Assessoria de Imprensa UFMG

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