Podcast do Crisp UFMG entrevista sociólogo referência em violência e conflitos sociais
Fundador do Laboratório de Estudos da Violência, ele transformou “temas de polícia” em investigações sociológicas complexas
O podcast Crisp entrevista, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, tem novo episódio no ar. O segundo programa da série Pioneiros tem conversa com Cesar Barreira, doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e referência na sociologia da violência e dos conflitos sociais.
A equipe do podcast destaca que Barreira alia, como poucos, excelência intelectual a uma abordagem extremamente cativante. Professor aposentado da UFC e fundador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), ele é reconhecido por sua produção científica e, também, por sua forma única de se conectar com pesquisadores, gestores públicos e até mesmo pistoleiros.
Ainda estudante de sociologia, Barreira mergulhou nos conflitos agrários que então marcavam o Brasil nos anos 1980. Inspirado por eventos como os assassinatos de Chico Mendes e Margarida Alves, e munido de recortes de jornais, ele se dedicou a entender como crimes de pistolagem eram estruturados e legitimados por valores sociais como honra, vingança e coragem. Essa base se desdobrou em um doutorado na USP e um período de doutorado sanduíche em Paris, onde, sob a influência de Pierre Bourdieu, refinou sua abordagem metodológica. Ele transformou o que poderia ser tratado como meros “temas de polícia” em investigações sociológicas complexas, lançando luz sobre práticas e significados culturais associados à violência.
Em 1993, Barreira fundou o LEV, iniciativa pioneira para estudar a violência de forma coletiva e interdisciplinar. O nome “laboratório” não foi escolhido por acaso: a ideia era criar um espaço onde pesquisadores pudessem aprender, experimentar metodologias e compartilhar perspectivas. Mais de 30 anos depois, o LEV se mantém relevante. Hoje, sua atuação transcende o Ceará: o laboratório tornou-se o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Violência, Poder e Segurança Pública (INViPS), rede que reúne mais de 15 grupos de pesquisa em todo o Brasil.
Interdisciplinaridade e relevância social
De acordo com os pesquisadores que compõem a bancada do Crisp entrevista – Ludmila Ribeiro, Valeria Oliveira e Rafael Rocha –, César Barreira dedicou toda a sua carreira a aproximar a universidade da sociedade. Essa filosofia o levou a dirigir a Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará, experiência que uniu seu rigor acadêmico à formação prática de profissionais da segurança pública.
O professor e pesquisador ressalta a necessidade de formar novas gerações de pesquisadores comprometidos com a interdisciplinaridade e a relevância social. Ele acredita que a academia deve se esforçar para produzir conceitos e teorias que reflitam a realidade brasileira. Barreira destaca que, mesmo em tempos de análises automatizadas de dados, somente a abordagem qualitativa e artesanal possibilita capturar nuances e subjetividades que escapam aos números. “Entender os valores e narrativas por trás das práticas violentas é essencial para propor soluções realmente eficazes”, afirma.