Professor da Escola de Engenharia da UFMG desenvolve algoritmos em projeto da Universidade de Tóquio para cirurgias feitas por robôs

Ideias para projetos em robótica surgem de modelos matemáticos

As cirurgias feitas por robôs vêm revolucionando a medicina, já que viabilizam procedimentos minimamente invasivos e proporcionam muito mais precisão e segurança. “Em alguns casos, as máquinas realizam operações cuja execução pelo ser humano é simplesmente impossível”, afirma o professor Bruno Vilhena Adorno, do Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG. Por meio de um acordo de colaboração entre a UFMG e a Universidade de Tóquio, Adorno participa, desde 2017, da pesquisa Estudo sobre controle de robôs para aplicações cirúrgicas, na qual é um dos responsáveis pela elaboração de modelos matemáticos e algoritmos que norteiam o funcionamento “inteligente” de robôs-cirurgiões.

Em maio deste ano, a equipe da Universidade de Tóquio apresentou, durante a International Conference on Robotics and Automation (ICRA/2018), realizada na Austrália pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), um sistema que possibilita, por exemplo, operar o interior do tórax de fetos sem risco de quebrar costelas ou danificar tecidos. Bruno Adorno participou do desenvolvimento do software para o robô montado pelos pesquisadores japoneses.

De acordo com o professor da UFMG, ideias para projetos em robótica surgem de modelos matemáticos, ou seja, conjuntos de equações que regem o funcionamento dos sistemas e se traduzem em um programa de computador. “Minha tarefa é conceber os modelos matemáticos e algoritmos que descrevem os movimentos dos robôs e possibilitam fazer o planejamento e controle de ações, levando em consideração restrições, desvio de obstáculos e prevenção de colisões”, afirma.

Bruno Adorno conta que ingressou na equipe japonesa depois da indicação de um ex-aluno que atualmente é pós-doutorando na Universidade de Tóquio. “No Japão, há um enorme parque industrial para a produção de robôs. Por isso, é muito ágil o processo de encomenda de peças customizadas. Mas foi preciso recorrer à UFMG para sanar suas limitações quanto à ‘expertise’ em controle de movimento, que leva em conta restrições como as impostas pela anatomia do corpo, ou à ocorrência de colisões entre os robôs e suas ferramentas. É uma parceria de sucesso”, detalha.

Vantagens

A destreza cirúrgica dos robôs, que têm hastes muito mais finas do que as mãos de um médico, assegura aos procedimentos maior precisão e mais segurança. Segundo Bruno Adorno, a cirurgia robotizada possibilita o uso de ferramentas que seriam inviáveis, por exemplo, no caso da laparoscopia, procedimento bastante usado no Brasil. Na laparoscopia, o médico faz uma pequena incisão por onde introduz um fino tubo de fibras óticas, através do qual visualiza os órgãos internos e faz intervenções diagnósticas ou terapêuticas. Por meio de outras pequenas incisões, ele introduz os instrumentos cirúrgicos. “Na laparoscopia, o cirurgião precisa introduzir hastes e manipular muitas coisas ao mesmo tempo dentro do abdome do paciente. Isso gera riscos de choques indesejáveis entre ferramentas e tecidos”, explica o pesquisador.

No caso da operação robotizada, o médico manuseia alavancas em uma plataforma à parte, que funciona como extensão de seu corpo. Esse sistema interpreta os movimentos do médico com bastante precisão, o que possibilita o uso de técnicas para anular ruídos, como os tremores naturais das mãos. “A imagem do organismo é projetada para o cirurgião de maneira muito ampliada. Como seu movimento na cabine é transmitido para o bisturi com amplitude várias vezes menor, fica muito mais fácil cortar o que é preciso sem afetar outros tecidos”, detalha Adorno.

Também é possível, por meio dessa interface, estabelecer um envelope de trabalho que limita a área de ação das ferramentas. Essa particularidade impossibilita que as hastes toquem ou perfurem áreas inconvenientes, ainda que o médico cometa um erro grotesco de movimento. “Não é um mecanismo simplesmente pré-programado. O robô sabe, de fato, onde o paciente está e é reativo diante de situações inesperadas. No momento em que uma haste se aproxima da outra, os robôs são capazes de antecipar e corrigir o curso. Tudo isso graças a uma precisa descrição matemática”, reforça Bruno Adorno.

A concepção de hardwares de robótica médica, segundo o professor, exige equipes numerosas, infraestruturas enormes e muito dinheiro. “Pesquisas nessa área, envolvendo hardware, só são possíveis por meio de consórcios com grandes institutos. Aqui no Brasil, geralmente só conseguimos fazer algumas coisas conceituais”, comenta Bruno Adorno.

O pesquisador conta que, desde a primeira apresentação da pesquisa, muitos avanços foram obtidos. O experimento está, atualmente, na fase de testes em maquetes do corpo humano com tamanho e anatomia reais. “A cirurgia endonasal [técnica de tratamento de tumores e outras lesões cranianas através do nariz] deverá ser a primeira das aplicações do nosso projeto”, anuncia.

Estudo sobre controle de robôs para aplicações cirúrgicas
Integrantes: Bruno Vilhena Adorno (UFMG); Murilo Marques Marinho, Mamoru Mitsuishi e Kanako Harada (Universidade de Tóquio).

Matheus Espíndola - Boletim UFMG 2.039

Fonte

Assessoria de Imprensa da UFMG