Projeto da UFMG promove assistência integral à saúde de adolescentes do Conjunto Santa Maria e Vila Antena

A cada ano, mais de 30 mil adolescentes morrem no Brasil por causas preveníveis como homicídios, suicídios e acidentes de trânsito ou sofrem por condições relacionadas à saúde mental, a lesões não fatais e outras causas, como a obesidade. Tantos outros vivenciam maus-tratos, abandono, desamparo e exploração do trabalho infantil, além de trajetórias de vidas nas ruas. Pensando nesse cenário, um projeto de extensão foi criado na Escola de Enfermagem da UFMG com intuito de contribuir para a promoção de uma assistência integral à saúde de adolescentes do Conjunto Santa Maria e Vila Antena, áreas de elevadas vulnerabilidades em Belo Horizonte.

Coordenado pelo professor Ed Wilson Rodrigues Vieira, do Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG, o projeto foi criado em 2019, e, desde então, centenas de jovens já foram atendidos. “Das necessidades apresentadas pelos adolescentes e acompanhadas pelo projeto, têm se destacado aquelas relacionadas à saúde mental, variando de baixa autoestima a ideação suicida, bem como obesidade, infecções sexualmente transmissíveis, como o HIV, e vítimas de abuso, incluindo abusos físicos, psicológicos e sexuais.”

A referência é o Centro de Saúde Conjunto Santa Maria (CSCSM) e as ações, realizadas de forma interdisciplinar e integradas com os profissionais do serviço de saúde e da Escola Municipal Mestre Paranhos, estão fundamentadas nas Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes. “As atividades estão estruturadas em avaliações regulares da condição de saúde dos adolescentes, em atendimentos à saúde dos adolescentes e famílias e na educação em saúde. O desenvolvimento do Projeto está em consonância com os compromissos estabelecidos pelas Nações Unidas na Agenda 2030 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e representa uma oportunidade para ratificar os direitos e melhorar o bem-estar de adolescentes, principalmente dos mais desfavorecidos”, explica o coordenador.

Atendimento

O professor ressalta que para abordar o adolescente é necessário disponibilidade, abster-se de autoritarismos, dedicar atenção, desenvolver capacidade de comunicação com o grupo, isentar-se de preconceitos ou de julgamentos e buscar, de forma contínua, atualização técnica. “A maior dificuldade no atendimento está relacionada a algo que podemos chamar de conceitual. Pois, o que é a adolescência? Neste ponto, muitos responderão sob a perspectiva da puberdade, e cometerão um grande equívoco. Essa, talvez, seja a dificuldade inicial. Adolescência é a etapa da vida compreendida entre a infância e a fase adulta, o que é muito vago. É uma etapa marcada por um complexo processo de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial. É um fenômeno singular, caracterizado por influências socioculturais que vão se concretizando por meio de reformulações constantes de caráter social, sexual e de gênero, ideológico e vocacional. E além do mais, o seu início e final não podem ser claramente delimitados e variam de acordo com os critérios físicos, sociais ou culturais que caracterizam a criança e o adulto em cada sociedade”, explica Ed Wilson.

Ele relata que recentemente, por uma demanda da escola parceira, o projeto tem recebido também crianças entre 5 e 10 anos de idade diagnosticadas, sob o ponto de vista pedagógico, com atrasos no desenvolvimento escolar e na socialização, situações essas que foram potencializadas pela pandemia da covid-19. “Nesse grupo, em especial, temos identificado, em parceria com as equipes de saúde da família e com profissionais especialistas de apoio à unidade (pediatra, psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional e assistente social), transtornos diversos, variando de transtornos do espectro autista e déficits de atenção e hiperatividade, bem como déficits motores na fala e na acuidade visual”.

O projeto de extensão é integrado ao ensino, e com isso tem a participação indireta de diversos estudantes. Ao ano, cerca de 30 alunos de graduação têm algum tipo de contato com o projeto, se beneficiando do aprendizado e ampliando os atendimentos. Além disso, indiretamente, todos os professores da disciplina “Enfermagem da Criança e do Adolescente” têm algum grau de contribuição com o projeto. Cabe destacar que o projeto recebe o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e que, desde que foi criado, conta com um estudante bolsista, via fomento pelo programa PBEXT. O próximo passo do para o Projeto será a inclusão de estudantes de Pós-Graduação.

Investimentos e resultados

Ed Wilson enfatiza que a falta de amparo, sob qualquer aspecto, poderá ter impactos a longo prazo na vida dos adolescentes. “A esse respeito, costumo defender que jovens saudáveis agora, representarão adultos saudáveis no futuro e gerações futuras saudáveis, ou seja, trata-se de um grupo crítico, mas que possibilita benefício triplo diante dos investimentos recebidos.”

Ele ressalta, ainda, que os resultados do projeto poderão ampliar o acesso dos adolescentes acompanhados a todos os níveis de atenção do Sistema Único de Saúde, por meio de ações integradas e articuladas com diversos setores, como a educação e proteção social. “Além disso, a interface do Projeto com o ensino e a pesquisa pode contribuir para a formação de pessoal para o SUS e para a geração de conhecimentos, ciência e tecnologia”, conclui o professor.

Assessoria de Imprensa UFMG

Fonte

Assessoria de Comunicação da Escola de Enfermagem da UFMG