Relatório do Programa Polos de Cidadania, da UFMG, ajuda a corrigir plano de imunização da população de rua

Subestimado em projeção inicial, grupo tem 140 mil pessoas aptas a receber a vacina

A política de apagamento da população de rua no Brasil é histórica, e suas raízes estão fincadas no racismo estrutural. A falta de um censo demográfico capaz de contabilizar com precisão esse grupo social afeta seus direitos básicos, como o acesso à moradia, à alimentação, à saúde e até mesmo à vacinação. 

Em sua versão inicial, o plano nacional de vacinação contra a covid-19, por exemplo, minimizou o tamanho dessa população, estimada inicialmente em apenas 67 mil pessoas aptas a serem imunizadas. A correção foi feita graças ao trabalho do projeto Incontáveis, do Programa Transdisciplinar Polos de Cidadania da UFMG, que, a pedido da Defensoria Pública da União em Cuiabá, no Mato Grosso, colaborou com o Ministério da Saúde, coletando e fornecendo dados referentes à população de rua no Brasil. 

Relatório Técnico-científico produzido pelo Polos contabilizou 160 mil pessoas, das quais 140 mil – mais que o dobro da projeção inicial – são aptas a receber  a vacina. A equipe valeu-se da Plataforma Aberta de Atenção em Direitos Humanos (PADHu), com registros de pessoas em situação de rua fornecidos pelo Cadastro Único. Dados de março de 2021 revelam que 86% dessa população é formada por homens e 70%, por pessoas pretas ou pardas. Em alguns estados, como Minas Gerais e Bahia, a porcentagem de negros ultrapassa 80%.

Herança da escravidão

O fenômeno da população de rua no Brasil – e o seu apagamento – remonta ao século 19, quando documentos e registros possibilitavam contabilizar e conhecer a realidades desses grupos. Além disso, pessoas negras que não poderiam ser aproveitadas como força de trabalho eram eliminadas ou despejadas nas ruas das cidades. A situação de hoje é uma herança da escravidão e das violências sistêmicas sofridas pelos negros. 

Em entrevista à TV UFMG, o coordenador do projeto Incontáveis, professor André Dias, fala sobre o apagamento da população de rua e os direitos dessas pessoas. Assista:

  

Equipe: Vitória Fonseca (produção), Antônio Soares (imagens), Otávio Zonatto (edição de imagens) e Ruleandson Do Carmo (edição de conteúdo).

Assessoria de Imprensa UFMG

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