UFMG inicia projeto para reconhecimento do patrimônio imaterial dos Maxakalis

Iniciativa atende a reivindicação histórica desses povos para proteger suas crenças, rituais, costumes e valores

Um passo histórico e carregado de simbolismo foi dado na terça-feira, dia 26 de setembro, no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, com o lançamento oficial do projeto de extensão Documentação e preservação do sistema de conhecimentos ancestrais do povo Tikmũ'ũn-Maxakali.

A iniciativa será conduzida pela UFMG com as comunidades indígenas nos próximos três anos e atende a uma reivindicação antiga desses povos. O objetivo principal é criar um inventário relativo às referências culturais da etnia e obter o reconhecimento desses conhecimentos como parte do Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais.

A Escola de Música da UFMG estará à frente do projeto, em parceria com a Pró-reitoria de Extensão (Proex), a Fundação de Apoio da UFMG (Fundep), a Formação Intercultural para Educadores Indígenas (Fiei), da Faculdade de Educação (FaE), a Formação Transversal em Saberes Tradicionais e outras instâncias da Universidade.

O projeto receberá R$915 mil, aporte aprovado, neste ano, no edital do Fundo dos Embaixadores dos EUA para a Preservação Cultural, do Departamento de Estado norte-americano. O projeto da UFMG foi o único contemplado no Brasil e um dos cinco na América Latina.

As ações passarão pelas etapas de pesquisa, de sensibilização em cidades próximas das aldeias e de produção de peças, como um filme sobre o patrimônio Tikmũ'ũn-Maxakali.

Luta e esperança

Emocionados, representantes das aldeias de Água Boa e Pradinho, que ficam em Santa Helena de Minas (MG), no Vale do Mucuri, celebraram apresentando alguns de seus bens imateriais: a língua e os cantos. Esses últimos encarnam seres que estão ligados ao território, à floresta, à memória e à saúde.

Sueli Maxakali ressaltou a importância da preservação dos conhecimentos ancestrais de seu povo. “Estou muito feliz. É meu sonho preservar a ‘memória viva’ dos nossos antepassados e transmiti-la às nossas crianças”, ela disse.

O sentimento de reparação foi compartilhado por Marilton Maxakali, que atua como professor de crianças e jovens na aldeia. “Ao longo dos anos, perdemos muitas coisas. Foram muitos assassinatos dos nossos parentes; levaram muitos conhecimentos e sabedoria. Temos agora a esperança de ter tudo de volta”, destacou.

Compromisso e resistência

O evento que marcou o lançamento da iniciativa teve participação de professores e gestores da UFMG. A reitora Sandra Goulart Almeida lembrou o conjunto de ações da Universidade em diálogo com os povos tradicionais. “Enche-nos de orgulho ser uma instituição pública a serviço desses povos, formando futuros profissionais, mas também comprometida com a reparação histórica pelos males que nós fizemos aos indígenas. Esse é, também, o nosso dever”, afirmou Sandra.

A pró-reitora de Extensão, Claudia Mayorga, ressaltou que a ação faz parte de um conjunto de outras inciativas extensionistas da Universidade, que visam ao fortalecimento de políticas públicas participativas.

Coordenador geral do projeto e professor da Escola de Música, Eduardo Pires Rosse ressaltou que a iniciativa enfrentará o “processo de ‘desertificação’ do povo Maxakali, desde a colonização do nosso país”. Ele acrescentou que, apesar do contexto histórico, “os povos Maxakalis resistem com seu vasto patrimônio. Nós temos muito a aprender com eles nesse diálogo”, afirmou.

Conhecimentos valorizados

A expectativa é que, até 2026, um estudo seja apresentado ao Conselho Estadual de Patrimônio Cultural (Conep), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), para o registro como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. “Há uma grande expectativa sobre a elaboração desse dossiê e do plano de salvaguarda, já que a UFMG detém expertise em pesquisas acerca desse sistema de conhecimentos”, frisou a diretora de Proteção e Memória do Iepha/MG, Debora Raiza Rocha Silva, que participou do lançamento.

O evento também contou com a participação da presidente do Iepha/MG, Marília Palhares, do coordenador técnico da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em Santa Helena de Minas, Rodrigo Arhuso Faria, do secretário de Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, da conselheira para Assuntos de Cultura, Educação e Imprensa da embaixada norte-americana, Elizabeth Detmeister, e da cônsul dos EUA em Belo Horizonte, Katherine Ordoñez. Também estiveram presentes o procurador da República em Belo Horizonte, Edmundo Antônio Dias Netto, e os promotores de Justiça do Ministério Público mineiro Allender Barreto Lima e Marcelo Maffra.

(Texto de Eduardo Maia | Assessoria de Comunicação da Proex)

Assessoria de Imprensa UFMG

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