'Usar a cloroquina é tratar a emoção das pessoas e não a doença', diz professor da UFMG

Gustavo Menezes analisou a decisão do Ministério da Saúde que libera o medicamento até para casos leves de Covid-19

O Ministério da Saúde divulgou na última quarta-feira, 20 de maio, um documento que libera, no Sistema Único de Saúde (SUS), o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina mesmo para casos leves de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Até então, o protocolo previa o uso dos medicamentos apenas para pacientes com sintomas graves. O tema gerou desentendimentos entre o presidente Bolsonaro e os dois últimos ministros da Saúde, os médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

Pouco antes da liberação do documento, no dia 18 de maio a Sociedade Brasileira de Imunologia publicou um parecer científico segundo o qual “ainda é precoce a recomendação de uso desse medicamento na Covid-19, visto que diferentes estudos mostram não ter havido benefícios para os pacientes que utilizaram a hidroxicloroquina. Além disso, trata-se de um medicamento com efeitos adversos graves, que devem ser levados em consideração”. 

O professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG Gustavo Menezes, que é um dos especialistas que assinam o documento da Sociedade Brasileira de Imunologia, conversou com a Rádio UFMG Educativa sobre o uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 e a mudança de protocolo do Ministério da Saúde para o tratamento da doença.

Apesar de não se basear em comprovação científica, a ideia de que a cloroquina é eficaz contra o coronavírus ainda é defendida por uma parcela da sociedade. Gustavo Menezes entende que essa é uma reação compreensível. “O desentendimento sobre a doença gera um sentimento de desespero em várias camadas da sociedade", afirma o professor. O ceticismo da comunidade científica, em sua avaliação, não pode ser confundido com insensibilidade: “Quando se critica o uso do medicamento, não é um ato de insensibilidade. Mas, por pior que seja a doença, a verdade prevalece”. 

Segundo o professor, quando a cloroquina é levada ao teste clínico, não há sustentabilidade de sua eficácia. Ele explica que os relatos individuais envolvendo a melhora de pacientes com a doença não são controlados, ou seja, são frutos do acaso. De acordo com o professor, “o correto, na concepção científica, é continuar buscando alternativas”.

Gustavo Menezes ainda comentou a recente mudança de protocolo do Ministério da Saúde em relação ao uso do medicamento: “Quando se toma uma atitude dessas, fica claro que se está tratando a emoção das pessoas e não a doença. Mas esse efeito emocional pode ter um custo muito alto, porque a cloroquina pode piorar a condição do paciente”.

Alteração do ritmo cardíaco, que piora o quadro de pacientes com cardiopatia, alteração da visão e distúrbios na filtração renal são alguns dos efeitos colaterais observados em pacientes tratados com cloroquina e hidroxicloroquina. Gustavo Menezes explica que toda e qualquer medicação possui efeitos colaterais. Um medicamento é considerado eficiente quando os benefícios superam as consequências negativas. “Nos casos de doenças como lúpus e malária, em que a cloroquina tem eficácia comprovada, os riscos justificam o paciente ingerir a medicação. Mas, no caso da Covid-19, isso não ocorre. A ingestão é perigosa.”

Assessoria de Imprensa UFMG

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Assessoria de Imprensa UFMG