Violência doméstica: tempo entre agressões diminui com repetição de casos, indica estudo da UFMG

Levantamento analisou 244 mil ocorrências em Belo Horizonte

Estudo realizado por pesquisadores da UFMG monitorou, durante cinco anos, os registros de violência doméstica em Belo Horizonte. Com base em dados das polícias Civil e Militar relativos ao período de 2013 a 2018, o trabalho chegou à seguinte conclusão: quanto mais vezes a vítima é agredida, menos tempo se passa entre uma ocorrência e outra. De acordo com a pesquisa realizada pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (Crisp), as mulheres representam 95% das vítimas. A maior incidência está entre mulheres de 35 a 44 anos de idade, grupo que abrange 23% das pessoas agredidas. 

A maioria dos casos registrados é de ameaça e lesão corporal. Coordenador da pesquisa, o professor Bráulio Figueiredo, do Departamento de Sociologia da UFMG, esclareceu, em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, que a violência doméstica compreende práticas que não se limitam à agressão física que deixa marcas visíveis.

"Muitas vezes as pessoas entendem que violência doméstica engloba apenas aqueles casos em que se tem um nível de lesão elevado infligido pelo autor na sua vítima. Mas a violência doméstica compreende um universo muito maior de comportamentos e ações que vão desde ameaças psicológicas, passando por ameaças utilizando o celular e violências sem nenhum tipo de lesão, até casos mais graves, como lesão corporal", detalhou.

De um total de 244 mil casos analisados pela equipe do Crisp, constatou-se que cerca de 50% envolvem pessoas cuja presença é recorrente na base de dados, sejam elas vítimas ou autores. Os pesquisadores buscaram avaliar o tempo médio entre as denúncias deses casos repetidos. Os dados do estudo indicam que, entre a primeira ocorrência de agressão e a segunda, o intervalo médio é de 361 dias, praticamente um ano. Da segunda para a terceira, o tempo cai para 258 dias. A quarta agressão demora 222 dias para ocorrer. Depois, o intervalo é de 201 dias até a quinta agressão. Da quinta para a sexta, são 167 dias. Da sexta em diante, 138, ou seja, menos de cinco meses.

Na opinião de Bráulio Figueiredo, não é possível atribuir essas repetições apenas a falhas do sistema judicial. Para ele, falta ainda uma cultura de denúncia da violência doméstica. "O que ocorre é que as pessoas precisam denunciar. Não podem tratar a violência doméstica como algo natural, que deve ser resolvido no âmbito do lar", pontuou.

Saiba mais na entrevista concedida à Rádio UFMG Educativa.

Assessoria de Imprensa UFMG

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Assessoria de Imprensa UFMG