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Reabertura de parques inspira reflexões sobre espaços de convivência nas cidades

'Outra estação', da Rádio UFMG Educativa, aborda aspectos como a importância do lazer, das áreas verdes e ensinamentos da crise sobre o planejamento urbano

Clair Benfica (na parte central da foto), aos xxx anos, com a mãe e os irmãos, em 1982, na fazenda que deu origem ao Parque Lagoa do Nado, em BH. Nessa época, ele e a família lutaram para que a área virasse um parque,
Clair Benfica (de verde), aos 21 anos, em 1982, com a mãe e os irmãos, na fazenda que deu origem ao Parque Lagoa do Nado, em BH. Nessa época, a família se engajou na luta para que a área virasse um parque, o que só ocorreu em 1994
Arquivo pessoal

“A praça faz a gente lembrar que o comum é mais importante que o indivíduo.” Essa afirmação é do ambientalista Clair Benfica, de 58 anos. Desde a infância, ele é um frequentador de praças e parques de Belo Horizonte. As suas lembranças vão das brincadeiras com bolinha de gude na Praça da Paz, no bairro Planalto, até a militância pela preservação desses espaços. Com a pandemia do coronavírus e a recomendação pelo isolamento social, Clair sentiu, nos últimos meses, muita falta da convivência com a família e os amigos nos espaços ao ar livre.

O período de pandemia, no entanto, pode levar a uma reflexão sobre a importância e a necessidade de valorização dos espaços públicos de convivência na nossa sociedade, como as praças, os parques e até mesmo as ruas. Esse é o tema do Outra estação desta semana. O programa também discute como a falta de planejamento urbano e a priorização de um modelo de cidade centrado nos carros e no consumo limita as possibilidades de lazer nesses espaços e exclui as periferias. 

Além do ambientalista Clair Benfica, foram entrevistados o mestre em Geografia pela Unimontes Guilherme Araújo, os professores da Escola de Arquitetura da UFMG Rogério Palhares e Roberto Andrés, a  professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da UFMG Elaine Machado, a professora da Universidade Federal do Paraná e do Programa de Pós-graduação em Estudos Interdisciplinares do Lazer da UFMG Simone Rechia e o coordenador do Movimento das Associações de Moradores de Belo Horizonte, Fernando Santana.


O lazer como um direito

“Eu acredito que, quando isso tudo passar, vamos querer ocupar os espaços públicos, que são nossos. Nós percebemos a importância das pequenas coisas, que são os prazeres gratuitos da vida, como uma caminhada ao ar livre.” (Guilherme Araújo)

Com o aumento da verticalização das cidades devido à construção dos prédios e a impermeabilização dos solos pela pavimentação asfáltica, os parques e as praças se tornaram pontos de respiro, contribuindo para a melhoria da qualidade do ar e a diminuição da temperatura nos grandes centros urbanos. Mas sua importância vai além da questão ambiental. Esses locais também são necessários para fazer cumprir o direito dos cidadãos ao lazer, como previsto na Constituição.

Belo Horizonte tem atualmente 75 parques, que totalizam 14 milhões de metros quadrados de áreas verdes. Segundo a Prefeitura, os protocolos para reabertura dos parques da capital mineira estão sendo elaborados com a contribuição de especialistas e levando em conta a experiência de cidades que já reabriram esses espaços. A previsão é de que eles sejam abertos gradativamente a partir do dia 29 de agosto. A cidade também tem mais de 700 praças que já estão sendo reabertas.

O primeiro bloco do programa explica por que os espaços abertos de lazer, como as praças e os parques, oferecem menos riscos de infecção pelo coronavírus do que os espaços fechados, como os cinemas e teatros. Mas também alerta para as medidas que precisam ser tomadas mesmo nesses espaços abertos, como o distanciamento social e o uso de máscaras. Ainda nessa parte do programa, os especialistas falaram sobre os múltiplos benefícios das atividades de lazer. 

“O lazer é um direito social garantido na Constituição de 88. Ele é tão importante quanto todos os outros direitos sociais. É uma possibilidade de você ter experiências diferenciadas que contribuem para seu desenvolvimento, para sua sensibilidade, para sua criatividade, para o exercício da cidadania.” (Simone Rechia)

Sem sombra para todos
Em grandes centros urbanos, como Belo Horizonte, parques e praças enfrentam a concorrência de espaços de lazer com forte orientação para o consumo, como os shopping centers. Mas esse não é o único fator que contribuiu, nos últimos anos, para que as pessoas deixassem de frequentar os parques e praças de BH mesmo antes da chegada do coronavírus. Falta de manutenção, iluminação ruim e sensação de insegurança são alguns dos motivos que ajudam a explicar o esvaziamento desses lugares. 

“Áreas mais pobres são historicamente deixadas ao deus-dará. A ausência de arborização pública, de calçadas adequadas nas periferias da cidade é gritante. Como as pessoas vão caminhar sem árvores? O direito à sombra é fundamental, deveria ser um direito universal para a vida urbana cotidiana.”  (Roberto Andrés)

No segundo bloco do programa, os especialistas ouvidos pela Rádio UFMG Educativa expõem os problemas de planejamento urbano e de gestão de parques e praças. Outro ponto abordado é a desigualdade de acesso a esses espaços, que, em geral, se concentram nas regiões mais centrais das cidades, excluindo a população que mora nas periferias. Na parte final do programa, os especialistas falam ainda de estratégias para requalificação desses espaços.

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Rogério Palhares defende investimentos em pequenas praças, mais próximas das pessoas, que não impliquem em custos com deslocamentos.Arquivo pessoal

Para saber mais

"Memória e espaço público: reflexões sobre a praça Wandyck Dumont em Bocaiuva/MG e as suas reformas ao longo do tempo" – Artigo publicado por Guilherme Araújo

"O sistema clima urbano do município de Belo Horizonte na perspectiva têmporo-espacial" – Tese defendida no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFMG

Página do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer da Escola de Educação Física da UFMG

Página do Grupo de Estudos e Pesquisa em Lazer, Espaço e Cidade da UFPR

Em reportagem da TV UFMG, doutoranda em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG analisa relação entre praças, parques e a cidade


Ouça também versão estendida da entrevista com Clair Benfica, em que ele conta sua relação com os parques e praças de BH desde a infância até os dias atuais:

Ouça a entrevista com Clair Benfica

Produção
O episódio 55 do programa Outra estação é apresentado por Breno Benevides. A produção é de Camila Meira e Breno Benevides, e os trabalhos técnicos são de Breno Rodrigues. A edição desse episódio e a coordenação de jornalismo são de Paula Alkmim. 

O programa aborda, semanalmente, um tema de interesse social. Na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM), ele vai ao ar às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. O conteúdo também está disponível nos aplicativos de podcast, como o Spotify.