Pesquisa e Inovação

Tese mostra mecanismos de criminalização de pessoas trans e travestis assassinadas

Relatos em boletins de ocorrência e matérias jornalísticas contribuem para alimentar a violência, alerta autora do estudo desenvolvido na pós-graduação em Comunicação

O Brasil é o país em que se registram mais assassinatos motivados por ódio a pessoas travestis e trans – quatro em cada dez no mundo ocorrem aqui –, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). E os relatos policiais e jornalísticos contribuem para alimentar a situação de violência, revela a pesquisadora Dayane Barretos, doutora em Comunicação Social pela UFMG, em tese reconhecida na edição 2022 do Prêmio ComPós.   

Os números recordes de homicídios de pessoas travestis e trans no Brasil não são suficientes para motivar a produção de dados censitários oficiais sobre essas pessoas. Para Dayane, a falta dessa informação não é por acaso, é mais uma forma de invisibilização dessa população.

A análise, sob o ângulo das textualidades, de boletins de ocorrência e notícias jornalísticas sobre os assassinatos identificou apagamento e opressão: com menções a drogas e à prostituição, por exemplo, a maior parte dos textos tenta culpar as vítimas. Segundo Dayane, faltam nas reportagens depoimentos de parentes das vítimas ou de movimentos sociais que se contraponham ao discurso de criminalização.

"Esses corpos, estigmatizados historicamente, escancaram a artificialidade da norma de gênero, mostrando que ela é questionável", afirma Dayane Barretos. "É preciso denunciar essa realidade para que se entenda o quanto ela é absurda, para que essas mortes passem a ser lamentadas e que se perceba o quanto essas vidas também são válidas."    

Tese: O que resta ao corpo: disputas de sentido em textualidades sobre assassinatos de travestis e transexuais
Autora: Dayane do Carmo Barretos
Programa: Pós-graduação em Comunicação Social da UFMG
Orientadora: Joana Ziller, professora do Departamento de Comunicação Social da Fafich
Coorientador: Marco Aurélio Máximo Prado, professor do Departamento de Psicologia da Fafich

Ficha técnica: Pablo Paixão (produção e reportagem), Ângelo Araújo (imagens), Márcia Botelho (edição de imagens), Ruleandson do Carmo e Olívia Resende (edição de conteúdo)

Ruleandson do Carmo