Pesquisa e Inovação

Calculadora pode auxiliar no tratamento da febre amarela

Modelo matemático proposto por pesquisadora da Faculdade de Medicina indica, por exemplo, o melhor momento para se fazer um transplante de fígado

Mosquitos Aedes Aegypti é um dos transmissores da febre amarela
Mosquitos 'Aedes aegypti' é um dos transmissores da febre amarela Foto: John Ragai | CC BY 2.0

Uma calculadora em desenvolvimento na Faculdade de Medicina da UFMG que estima a probabilidade de óbito para pacientes com febre amarela pode se transformar em trunfo para definir os tratamentos mais adequados para a doença, indica tese defendida no Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Cirurgia e Oftalmologia da UFMG.

Os cálculos auxiliam o médico na tomada de decisão sobre quais pacientes necessitam de tratamentos mais ou menos invasivos, como o transplante. “Precisamos de instrumentos para favorecer a tomada de decisão, indicando, por exemplo, o perfil do paciente e quando será realizado o transplante de fígado, se for esse o procedimento necessário”, explica a autora do estudo, Carolina Lins.

Por meio dos escores de risco, a calculadora utiliza um modelo matemático com as informações laboratoriais do paciente. “É necessário inserir idade, valor da creatinina, transaminase, oxalacética, bilirrubina direta e o lactato, exames fáceis de fazer, até mesmo em laboratório com poucos recursos”, explica a pesquisadora.

Com base no resultado dessas variáveis, a calculadora gera uma porcentagem com a probabilidade de óbito, alertando o médico responsável sobre o prognóstico. De acordo com Carolina, “transplantar um fígado pode não ser um tratamento para doença, mas, sim, uma medida salvadora, em último caso”.

No Brasil, aproximadamente 25 pessoas precisaram do transplante de fígado desde 2008, quando foi realizado o primeiro procedimento do tipo. No entanto, a sobrevida desses pacientes é muito baixa, pois, possivelmente, não estavam no melhor momento para a realização do procedimento.

Carolina Lins: foco em doenças negligenciadas
Carolina Lins: foco em doenças negligenciadas Foto: Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina

O trabalho foi feito em 2017, com base em análise dos prontuários de 273 pacientes do Hospital Eduardo de Menezes, com o objetivo de compreender os fatores compartilhados pelos doentes cujo quadro evoluiu mal. Os resultados da pesquisa serão publicados nas próximas semanas e constam da pesquisa de doutorado de Carolina Lins, orientada pela professora Wanessa Trindade Clemente.

O modelo matemático será testado em outras regiões para validação, uma vez que os dados utilizados são de casos exclusivamente de Minas Gerais.

Febre amarela
Doença viral aguda transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, a febre amarela atinge o fígado e causa insuficiência hepática. O vírus circula no ambiente silvestre. De dezembro de 2016 a junho de 2017, foram identificados 1.147 casos em Minas Gerais –446 confirmados para a doença e 209 mortes. Boa parte desse período coincide com a estação mais quente do ano, que favorece a propagação da febre. “A cobertura vacinal era muito baixa na época, e essa é a única forma de prevenir a doença, que, a princípio, não tem tratamento”, diz Carolina Lins.

A vacina, que é produzida no Brasil e aplicada de forma gratuita pelo SUS, é indicada para pessoas com mais de nove meses de idade. Segundo a pesquisadora, em vários casos as pessoas tomavam a vacina tardiamente, isto é, muitas vezes já estavam infectadas quando buscavam a primeira dose. “É necessário um tempo de 10 dias para que a pessoa fique imunizada após a vacinação. Depois do surto de 2017, a imunização aumentou, e milhares de doses foram aplicadas”, conta ela.

A pesquisa é o primeiro trabalho sobre febre amarela que reúne grande número de casos analisados em Minas Gerais. Isso ocorre principalmente porque a doença ocorre em países de baixa renda, que não conseguem conduzir estudos sobre o tema. “O trabalho cumpre um papel social, que trata de uma doença negligenciada e é uma ferramenta para quem está na linha de frente. Espero que ele ultrapasse as páginas de livros e de publicações e possa salvar a vida das pessoas”, conclui Carolina Lins.

Saúde com Ciência
A febre amarela e a pesquisa de Carolina Lins são tema do programa Saúde com ciência desta semana. No programa, a pesquisadora fala sobre a doença, vacinação e cobertura vacinal no território brasileiro, os tratamentos alternativos identificados para a febre amarela e os resultados do estudo.

O Saúde com ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. O programa vai ao ar na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM), de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa nas principais plataformas de podcast.

Vitor Pepino | Estagiário do Centro de Comunicação da Faculdade de Medicina