Pesquisa e Inovação

Campus de Montes Claros participa de experimento sobre cultivo do trigo em Minas Gerais

Iniciativa da Epamig tem o objetivo de identificar potencial para produção do cereal em diversas regiões do estado

..
Foram semeados 21 tipos de trigo e dois cereais híbridos em 2,5 hectaresFoto: Ingrid Stéfany | UFMG

O Instituto de Ciências Agrárias da UFMG está entre as instituições participantes de um experimento de adaptabilidade e estabilidade realizado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). O plantio foi realizado na manhã desta terça-feira, 9 de maio, no campus da UFMG em Montes Claros.

Na área de 2,5 hectares foram semeados 21 tipos de cereais de inverno: 19 trigos e dois triticales, cereal que é resultado da hibridação de duas espécies distintas, o trigo (Triticum aestivum L.) e o centeio. “A ideia é mostrar que o trigo tem potencial na região. Há cinco anos, a UFMG vem trabalhando com experimentos de trigo, o que gerou dissertações de mestrado e artigos em revistas indexadas. Esperamos apresentar novas alternativas para o produtor além do milho e sorgo”, explica o professor Carlos Juliano Brant. 

O experimento de adaptabilidade e estabilidade é realizado em nove municípios mineiros de diferentes regiões. O plantio já foi feito em Lavras, Muzambinho, Lambari, Itutinga, Patos de Minas, São Gotardo, Felixlândia e Montes Claros. A próxima cidade é Unaí.

O pesquisador da Epamig Sul responsável pelo projeto, Fábio Aurélio Martins, explicou que serão identificadas as regiões do estado que apresentam melhores condições para desenvolvimento das plantas. “Quando nós temos a somatória dos dados de todas essas regiões, conseguimos rodar nas análises estatísticas um teste muito específico em que é possível detectar, em cada local, qual tipo de cereal é mais adaptado e estável”, afirma. 

Grupo de estudantes vai acompanhar o experimento sob supervisão de professor
Grupo de estudantes vai acompanhar o experimento sob supervisão de professor Foto: Ingrid Stáfany | UFMG

Alternativa para o inverno
A produção nacional de trigo ainda não é suficiente para suprir a demanda do país. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), a demanda do cereal no Brasil é de 11 milhões de toneladas, mas são produzidos cerca de 6 milhões de toneladas por ano, e é preciso importar o produto. Paraná e Rio Grande do Sul são os maiores produtores.

“Minas Gerais tinha tradição de cultivo de trigo mais forte em regiões irrigadas no Triângulo e Alto Paranaíba. Isso mudou nas últimas décadas, e hoje, as principais regiões de plantação são o Sul e o Campo das Vertentes, em cultivo de sequeiro. Isso se deve à cultura da soja, que demanda um cultivo em sucessão que nem sempre é adequado para o trigo”, conta o pesquisador da Epamig. 

No Norte de Minas, o professor Carlos Brant vê o cultivo de trigo como um aliado nas culturas de milho e sorgo. “É uma alternativa a mais. Não é a solução, mas pode entrar num sistema de produção caso o milho e o sorgo enfrentem algum problema de produtividade, como pragas e doenças, que acabe inviabilizando essas culturas. Além disso, a palha do trigo é uma referência em termos de cobertura de solo, o que é importantíssimo para a implantação do plantio direto. Palha em cima de solo é matéria orgânica, a vida do solo é favorecida”, destaca.

Irrigação necessária
Devido às condições climáticas da região, o experimento será realizado com irrigação. O período do ano para o plantio também foi levado em conta. A atividade tem início quando as temperaturas começam a cair no Norte de Minas. “Além da limitação hídrica, temos também a limitação térmica. Então, se um produtor for trabalhar um dia com trigo, ele tem que semear em abril ou maio, porque a temperatura é mais baixa. E a quantidade de água necessária é muito menor quando comparada com milho, soja ou sorgo”, detalha Carlos Juliano Brant.

Estudantes do ICA assistiram às explicações e participaram do plantio. O grupo será o responsável por acompanhar o experimento, sob supervisão de um professor, ao longo dos próximos meses. Para o estudante do 9º período de Agronomia Nailson Gonçalves, é uma oportunidade de aprimorar ainda mais o conhecimento. “É importante para complementar o que a gente já tem estudado. Nós utilizamos algumas das cultivares que eles estão usando aqui em uma outra ocasião. Agora, podemos ver na prática o que já vimos na teoria.”

Na ocasião, também foi montada uma unidade demonstrativa no campus, com 17 materiais comerciais que foram semeados em faixa para a realização de um dia de campo posteriormente.

Ana Claudia Mendes | Cedecom Montes Claros