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Cuidados Paliativos visam melhoria da qualidade de vida e não têm relação com a eutanásia

Prática teve abordagem equivocada de senadores na CPI da covid-19 gerando reações de profissionais da área e entidades como a Academia Nacional de Cuidados Paliativos

Aliviar o sofrimento de pacientes e familiares é um dos objetivos do paliativismo
Aliviar o sofrimento de pacientes e familiares é um dos objetivos do paliativismo Pexels

Os Cuidados Paliativos compõem uma área de atuação reconhecida tanto pela OMS (Organização Mundial da Saúde) quanto pela AMB (Associação Médica Brasileira). Elas visam melhorar a qualidade de vida de pacientes e familiares, aliviando o sofrimento, seja em casos terminais, seja em situações de tratamento de doenças sem possibilidade de cura ou que ameaçam a vida, mesmo que não haja risco de morte iminente. As práticas foram alvo de desinformação recentemente, durante a CPI da covid-19, quando senadores realizaram abordagem equivocada sobre o assunto.

Em meio à investigação da operadora de saúde Prevent Senior, surgiram denúncias de médicos que trabalham ou trabalharam em hospitais da empresa de que pacientes eram transferidos da UTI para a enfermaria quando ainda não havia sinais de recuperação. O senador Otto Alencar afirmou que, na enfermaria, eram realizados tratamentos de “paliatização” com o objetivo de induzir à morte dos pacientes, procedimento associado pelo parlamentar à prática da eutanásia.

Profissionais da saúde paliativistas condenaram as referências e a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) emitiu na última quarta-feira, 29, uma carta na qual explicou o papel e a aplicação dos Cuidados Paliativos, desassociando o tratamento de práticas antiéticas e solicitou aos senadores cautela na abordagem do assunto. A nota, também assinada pela  Sociedade de Tanatologia e Cuidados Paliativos de Minas Gerais (Sotamig) foi lida na sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito do dia seguinte e gerou, inclusive, retratação de senadores.

Para trazer mais informações sobre a prática dos Cuidados Paliativos e sobre sua difusão entre os profissionais da medicina, o programa Conexões dessa sexta, 1º, apresentou entrevista com a médica geriatra, presidente da Sociedade de Tanatologia e Cuidados Paliativos de Minas Gerais e professora do Uni-BH, Camila Andrade. Ela detalhou que a especialidade não relação alguma com a abreviação da morte ou prolongamento da vida e visa um tratamento focado no paciente, como deveria ser qualquer atendimento médico, levando em conta fatores como seus valores pessoais e contexto social e familiar.

Segundo a pesquisadora, um dos principais desafios é o desconhecimento entre os próprios médicos. Ela estima que os Cuidados Paliativos são abordados em cerca de 20% dos cursos de Medicina no país. A convidada destacou que há vários cursos de pós-graduação espalhados por todo o território nacional, com maior concentração na Região Sudeste, mas que é mais vantajoso ter contato com o tema já na graduação.

“Eu me formei há 10 anos e tive a sorte de passar no internato de clínica médica com uma paliativista. Então, na faculdade eu já pude conhecer um pouco. Acredito que é muito importante porque na faculdade estamos com a mente mais aberta, acho mais fácil internalizar esses conhecimentos novos. Depois, quando já está na prática da profissão, fica mais difícil”, compartilhou.

Ela destacou avanços recentes da área, como a portaria do Ministério da Saúde publicada em 2018 que descreve como devem ser instituídos os Cuidados Paliativos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e uma lei estadual sancionada recentemente no mesmo sentido direcionada ao sistema de saúde pública de Minas Gerais. Camila Andrade também enalteceu a iniciativa do Dia Mundial de Cuidados Paliativos, comemorado em 9 de outubro. “A ideia é que mais gente saiba o que é a prática e estimular que as pessoas defendam a causa”, afirmou.

Ouça a entrevista completa pelo Soundcloud.

Não deixe ninguém para trás – Equidade no acesso aos Cuidados Paliativo é o mote do Dia Mundial de Cuidados Paliativos em 2021. A Academia Nacional de Cuidados Paliativos tem uma agenda programada até o dia 17 de outubro, com ciclos de debate gratuitos sobre o tema. O 11º Congresso Brasileiro de Cuidados Paliativos será realizado na cidade de Curitiba entre os dias 2 e 5 de novembro. Mais informações em no site da Academia. Além disso, é possível também acompanhar as atividades da Sociedade de Tanatologia e Cuidados Paliativos de Minas Gerais pela página do órgão.

Produção: Enaile Almeida, sob orientação de Hugo Rafael e Alessandra Dantas
Publicação: Alessandra Dantas