Danilo Miranda, do Sesc SP: transversalidade da cultura é essencial para compreender a realidade
Em palestra no Festival de Inverno, gestor ressaltou que pandemia acentuou a desigualdade; ele também defendeu a atuação indutora do Estado no setor
A criatividade e a liberdade devem ser valorizadas como elementos fundamentalmente vinculados a um processo cultural emancipador e ético, e a cultura tem de ser compreendida em seu sentido mais amplo, próprio do processo de desenvolvimento da sociedade. Isso é necessário para que as pessoas entendam melhor sua própria realidade e a do outro.
Essa reflexão norteou a palestra do diretor do Sesc/SP, Danilo Miranda, na noite desta terça-feira, dia 15, no âmbito da programação do Festival de Inverno UFMG. Segundo Miranda, que tem formação em filosofia, é comum que tal posicionamento seja defendido “da boca para fora”, configurando aquilo que chamou de “discurso vazio”. O pensamento que prioriza a cultura só faz sentido, em sua visão, se for incorporado em ações políticas efetivas, já que a transversalidade da ação cultural é indispensável para entender a realidade à nossa volta. “Seja na elaboração de um plano econômico para mudar o país ou de uma campanha para combater a pandemia, por exemplo, deve-se chamar especialistas das áreas da educação e da cultura para participar do processo e fornecer os recursos suficientes”, ilustrou.
Acentuação da desigualdade
Danilo Miranda dissertou sobre os reflexos da atual pandemia no cenário de promoção cultural no Brasil. Segundo ele, ocorre um “abalo profundo”, de características amplas, que extrapola o aspecto sanitário e se expande para as dimensões cultural, econômica, política e diplomática. “Uma das consequências imediatas desse processo é a percepção sobre a imensa desigualdade social existente. Na pandemia, isso fica acentuado. Observamos que as reações e os desdobramentos da crise são muito diversos na população, determinados conforme a condição de sobrevivência e de acesso à tecnologia”, argumentou.
A questão da desigualdade, para o gestor cultural, desperta para a necessidade de revisão e análise do nosso processo civilizatório. Ele lembrou que, no Brasil, prevalece uma “tradição de proposição para a desigualdade, muito antiga e profunda em todos os sentidos". “Sempre tivemos desigualdade educacional, cultural e social. Isso tem raízes na colonização, na prática escravocrata, na exploração e no massacre de indígenas”, retomou.
De acordo com Danilo Miranda, o cenário atual “clama pela solidariedade”, e é do Estado a responsabilidade de promover a justiça social – a cultura e a educação têm função central nesse processo. “O Estado tem obrigações, sobretudo, em dois campos: o da infraestrutura, que significa dar suporte material, e o do fomento, que diz respeito a incentivar, dar condições, acompanhamento efetivo e suporte técnico”, definiu.
Danilo Santos Miranda estudou filosofia e ciências sociais e se especializou em gestão empresarial no Internacional Institute for Management Development, na Suíça. Como gestor cultural, tem participado de conselhos, fóruns e ações como o Fórum Cultural Mundial (2004) e o Ano da França no Brasil (2009).
A íntegra da palestra do diretor do Sesc São Paulo ficará disponível no canal UFMG Cultura no You Tube até as 19h desta quarta-feira, dia 16. A programação do Festival de Inverno UFMG segue até 23 de setembro, com palestras que integram o Seminário Culturas em Pensamento, rodas de conversa e apresentações culturais.