Extensão

Educadores constroem portal sobre o bicentenário da independência

Desafio de ser professora negra no Brasil será debatido nesta quinta em atividade de pré-lançamento

O Portal do Bicentenário, em construção, está aberto a novos colaboradores
Em construção, o Portal do Bicentenário está aberto a novos colaboradores Divulgação

No dia 7 de setembro de 2022, o Brasil completa o bicentenário de sua independência. Nesses dois séculos que se passaram após o marco simbólico do grito “independência ou morte”, às margens do rio Ipiranga, na primavera de 1822, algumas personagens tiveram destaque, mas outras tantas, não menos importantes, ficaram de fora das narrativas históricas, especialmente das registradas nos materiais e livros didáticos utilizados pelas escolas brasileiras.

São mulheres, pessoas com deficiência, negras, pobres, indígenas, quilombolas, LGBTQ + e tantas outras, cujos enfrentamentos e resistências tiveram papel fundamental e pioneiro em vários campos desse processo de independência, mas que ainda não aparecem na historiografia brasileira de maneira equânime e justa.

A análise é da professora Raylane Andreza Dias Navarro Barreto, da Universidade Federal de Pernambuco, que integra a rede formada por professores da educação básica e ensino superior, de grupos de pesquisa, de instituições de ensino e de representações sindicais de estudantes e docentes para a criação do Portal do Bicentenário da Independência.

“Nossa expectativa é que o Portal seja um canal para congregar, além dessas personagens secundarizadas na história, elementos para que os brasileiros, especialmente os professores e os jovens estudantes da educação básica, possam se identificar ao buscar referências no passado para mudar seu presente”, explica a professora, que integra a rede junto com Adriana Maria Paulo da Silva e Arnaldo Martin Szchachta Júnior, colega do Grupo de Estudos e Pesquisa Interdisciplinar em Formação Humana, Representações e Identidades (GEPIFHRI). 

Dia do Professor
Nesta quinta-feira, 15 de outubro, data em que se comemora o Dia do Professor, o Portal do Bicentenário, em uma das atividades de pré-lançamento, que vêm sendo publicadas em suas redes sociais (Facebook, Instagram e Twitter), promove a roda de conversa O que é ser professora negra no Brasil: memória, história e desafios atuais. A transmissão do evento será a partir das 16h30, pelo canal do Portal do Bicentenário no You Tube.

Professora emérita da UFMG, Nilma Lino Gomes, é convidada do evento do Dia do Professor
Nilma Lino Gomes é uma das convidadas do evento do Dia do Professor Foca Lisboa/UFMG

A convidada, a professora emérita da UFMG Nilma Lino Gomes, conversa com os colegas Fabiana Garcia Munhoz, da educação básica do município de Rio Claro (SP), e da rede estadual de educação João Victor Oliveira. Também participam Marcelo Silva, da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc-BA), e Claudio Nunes, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e da Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação (Amped).

“Mais do que celebrar uma efeméride, o Portal do Bicentenário da Independência pretende se constituir em espaço para pluralizar os diversos sentidos da independência, promover a participação dos professores da educação básica, pesquisadores e cidadãos nas disputas de narrativas da educação, nesse contexto das discussões sobre o tema”, afirma o professor da Faculdade de Educação da UFMG Luciano Mendes de Faria Filho.

No entanto, o desafio “é tornar possível a autoria dessas colaborações, de forma a oferecer informação confiável e com qualidade, que ajude, não somente problematizar os grandes limites desses 200 anos de independência, mas propor utopias, projetos e possibilidades para inventar novos futuros”, acrescenta.

Formação cidadã
Segundo o professor Luciano Mendes, para a formação de uma cidadania crítica e ativa, os cerca de 2 milhões de professores e 40 milhões de estudantes brasileiros da educação básica precisam ter acesso não somente à história organizada nos livros e materiais didáticos, mas também aos conhecimentos das diversas áreas e saberes relacionados à realidade brasileira. “Não só conhecimentos acadêmicos e científicos, mas também saberes tradicionais e populares produzidos por todo cidadão que queira colaborar para que a educação básica e universitária e a própria formação de professores fomentem uma cidadania ativa", propõe Luciano Mendes.

O portal terá seções de planos de ensino, materiais didáticos e paradidáticos, programas de áudios e vídeos, podcasts, bibliotecas, espaços para o leitor, diferentes colunas para textos acadêmicos, resenhas, jornais, além da coluna O bicentenário em foco, já divulgada pelo jornal Pensar a Educação, Pensar o Brasil. 

Arnaldo Pinto Júnior da Unicamp:
Arnaldo Pinto Júnior, da Unicamp: retrocesso preocupaArquivo pessoal

Outro integrante da rede, o professor Arnaldo Pinto Júnior, do Departamento de Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que há uma grande variedade de materiais que abordam, de forma adequada, questões como memória, patrimônio, história e cultura. No entanto, ele ressalva que, em meio a essa variedade, existem produções didáticas e paradidáticas “com visão muito fechada, alinhada com setores conservadores e liberais, que apresentam a educação como um serviço mercadológico, para uma formação homogeneizadora”.

Arnaldo, que atuou por mais de 20 anos na educação básica e há mais de 10 trabalha com estudos relacionados ao material didático e à formação de professores, vê a atual conjuntura com preocupação. “Há uma grande preocupação entre os educadores em relação ao retrocesso das propostas de abordagem do currículo ou de construção curricular em salas de aula, orientadas pela BNCC (Basse Nacional Comum Curricular). Entendemos que estamos caminhando para orientações e práticas de ensino que não concorrem para a formação de uma cidadania crítica, plena, alicerçada nos princípios de uma sociedade democrática”, afirma ele.

O docente também tem ressalvas em relação ao processo de formação de professores no Brasil. “Uma das precariedades diz respeito à oferta das formações por instituições privadas e à educação a distância e semipresencial. Também preocupa o fato de a formação que orienta os futuros profissionais seguir manuais e livros didáticos construídos por quem não conhece as realidades escolares”, analisa.

A participação de voluntários nos diversos Grupos de Trabalho (GTs), em especial na produção de conteúdos, permanece aberta a novos colaboradores, que podem solicitar mais informações pelo e-mail portaldobicentenario@gmail.com.

  

Teresa Sanches