Eleitores com sentimento partidário acreditam mais em ‘fake news’, afirma professor do DCP
Grupo que inclui Felipe Nunes, da UFMG, receberá recursos do Facebook para pesquisa sobre desinformação e polarização nas mídias sociais
Em novembro, a população brasileira vai às urnas para eleger prefeitos e vereadores. Com a proximidade da votação, um tema preocupante e muito comum, ainda mais quando o assunto é política, é a publicação de notícias falsas, as fake news. Na internet, redes sociais são usadas para a rápida disseminação de informações falsas. Para combater o problema, o Facebook promoveu concurso para selecionar e financiar pesquisas sobre desinformação e polarização política nas tecnologias de comunicação social.
Segundo o Facebook, foram inscritas mais de mil propostas, enviadas por 600 instituições de 77 países. Dois milhões de dólares serão distribuídos entre as 25 propostas selecionadas. Um desses projetos, que vai investigar os incentivos que políticos têm para publicar fake news no Brasil, conta com a participação do professor Felipe Nunes, do Departamento de Ciência Política da UFMG (DCP), que vai trabalhar com Natália Bueno, professora da Universidade Emory, dos Estados Unidos, Frederico Pereira, professor da Universidade da Carolina do Norte, em Charlotte, também nos Estados Unidos, e Nara Pavão, professora da Universidade Federal de Pernambuco.
Em entrevista veiculada no programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta sexta-feira, 21, Felipe Nunes contou que a pesquisa terá foco nas notícias falsas disseminadas por políticos brasileiros e foi idealizada com base em estudo desenvolvido pelo mesmo grupo, há dois anos.
“Desde 2018, a gente está muito preocupado com a disseminação de notícias falsas no Brasil. Essa motivação [de investigar fake news espalhadas por políticos] começou depois da eleição norte-americana em 2016. Conversando sobre nossas agendas de pesquisa, achávamos, lá em 2018, que a distribuição de notícias falsas também seria importante e significativa no Brasil”, contextualizou.
À época, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), o grupo de pesquisadores constatou, por meio de um estudo, que 30% do eleitorado no Brasil acredita em fake news. Parte da pesquisa consistiu em mostrar às pessoas algumas notícias falsas e avaliar se elas concordavam ou não.
“O mais interessante desse trabalho, que está em avaliação agora, para publicação em uma revista nos Estados Unidos, é que a gente descobriu que os mais afetados pelas fake news eram os eleitores que já tinham algum tipo de vínculo partidário”, explicou Nunes. Já as pessoas que têm menos sentimento partidário, segundo ele, são as que mais olham para as notícias falsas de maneira desconfiada.
De acordo com o professor, o trabalho suscitou uma nova questão. “Se só os partidários são de fato os que se mobilizam pelas fake news, por que os políticos usam fake news?”. Há várias hipóteses, mas a principal delas, segundo Nunes, é a de que os políticos usam informações falsas não para convencer, mas para mobilizar e engajar seus eleitores, a fim de que eles participem mais ativamente do processo eleitoral. É isso que eles vão investigar, agora, na pesquisa financiada pelo Facebook.
“Suspeitamos que o eleitor, mais do que usar a informação para atualizar o seu conhecimento sobre política, busca informação que justifique uma opinião, uma crença que ele já tenha. É como se as fake news fossem usadas como um fenômeno de confirmação daquilo que o eleitor já pensava”, ressaltou.
A pesquisa deve ser realizada entre setembro deste ano e fevereiro de 2021, incluindo o período das eleições municipais brasileiras de 2020. Depois que o trabalho for concluído, a equipe pretende divulgar os dados e encaminhá-los a jornalistas e autoridades brasileiras.