Formas de Ingresso

Em Montes Claros, mais de 60% dos matriculados ingressam por cotas

Assistência estudantil alcança mais da metade dos discentes do ICA

Alessandro Silva:
Alessandro Silva: justificativa serve para aprimorar o sistemaAmanda Lelis / ICA-UFMG

Nos últimos três dias úteis, o Instituto de Ciências Agrárias (ICA), em Montes Claros, atendeu os novos alunos para registro acadêmico e matrícula presenciais. Foram convocados 240 candidatos. Cerca de 60% daqueles que compareceram para a matrícula ingressaram na modalidade de reserva de vagas.

A partir deste ano, os candidatos que se autodeclaram negros (pretos ou pardos) ou indígenas devem apresentar, em formulário específico, uma carta de próprio punho justificando sua autodeclaração, ou seja, seu pertencimento étnico. Alessandro José da Silva, de 21 anos, é um dos calouros do curso de Zootecnia e compareceu ao campus na última sexta-feira para entrega dos documentos. O jovem se inscreveu em uma das modalidades de reserva de vaga porque cursou o ensino médio em escola pública, possui renda familiar bruta mensal per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo e se autodeclara negro.

“Refleti muito sobre o assunto, pensando nas gerações anteriores da família. Eu sempre me considerei negro. Escrevi que a maior parte da minha família é de negros e pardos, todo mundo me vê como negro, e tenho orgulho de ser afrodescendente. Gostei da justificativa, acho que serve para aprimorar o sistema, evitar fraudes”, comentou Alessandro.

Leonardo Tuffi:
Tuffi: alunado de escola pública e de baixa rendaAcervo ICA-UFMG

O diretor do ICA, Leonardo David Tuffi Santos, reforça o esforço da UFMG para cumprir seu papel de oferecer à população acesso ao ensino gratuito de qualidade. “A Universidade tem se preparado ao longo dos anos para atender de forma ampla a comunidade. Aqui em Montes Claros, temos alunos de perfil diferente dos campi de Belo Horizonte. Isso se deve ao fato de estarmos inseridos numa região que apresenta, historicamente, maior desigualdade social. A maior parcela do nosso alunado vem de escola pública e tem renda familiar mais baixa”, enfatizou o diretor.

Tuffi Santos destaca as Ações Afirmativas da UFMG, que promovem práticas acadêmicas de acolhimento e apoio aos estudantes de grupos socialmente menos favorecidos. “Nos últimos anos, a Universidade tem promovido ações que tratam da questão da igualdade, da diversidade, do combate aos preconceitos. Isso é fundamental para que a nossa comunidade continue avançando no processo de efetiva inclusão”, comentou.

Ingrid:
Ingrid: racismo ainda existe Amanda Lelis / ICA-UFMG

Ingrid Stefany Ferreira Silva é outra candidata que se autodeclara negra. Com origem no município de Brasília de Minas, a jovem se candidatou ao curso de Administração e contou que, ao longo da vida, sofreu preconceitos em função da cor de pele e considera importante a reserva de vagas. “Mesmo que o Brasil tenha sido construído com uma mistura muito grande, o racismo ainda existe. E é um racismo velado. A gente sabe que a pessoa  negra enfrenta ainda dificuldades para conseguir emprego, por exemplo, o que não deveria acontecer. Acho que as pessoas ignoram a história do nosso país”, disse. 

De acordo com Ingrid, a reserva de vaga levanta uma questão importante para debate. “É necessário, sim, que as pessoas negras frequentem a faculdade, tenham um bom emprego. Isso contribui para que a desigualdade e o preconceito acabem. As cotas raciais contribuem muito”, completou Ingrid.

Pessoas com deficiência
Este ano foi o primeiro em que a UFMG disponibilizou reserva de vagas para candidatos com deficiência, em cumprimento à Lei 13.409/2016. Durante o processo de registro e matrícula, os candidatos são submetidos a perícia médica e devem apresentar autodeclaração e laudo médico com informações sobre tipo e grau de deficiência, nos termos do artigo 4º do Decreto 3.298/99, com expressa referência ao código correspondente da Classificação Internacional de Doenças (CID).

De acordo com Fabiano Cristóvão, médico do trabalho no campus Montes Claros, a perícia é uma forma de conferir se a documentação do candidato está de acordo com as especificações da legislação vigente. “Conferimos se a pessoa se enquadra nos termos da lei. Em alguns casos, como os do deficiente visual e do deficiente auditivo, é necessária a apresentação de exames complementares para comprovar a situação”, reforçou o médico.

Deraldo:
Deraldo: universidade é "bom desafio"Amanda Lelis / ICA-UFMG

Deraldo Vinícius Lopes se inscreveu para o curso de Administração na reserva de vagas para deficientes. Ele tem uma deficiência congênita: sua mobilidade é limitada em razão de má-formação nos pés. “Há cerca de um ano fiz uma cirurgia, porque sentia muita dor. Tenho dificuldades de me locomover em longas distâncias, principalmente. A universidade é um bom desafio, penso que estudando a gente pode ter ideias para ajudar outras pessoas, como outros já fizeram para as pessoas com deficiências”, comentou.

As documentações dos candidatos de reserva de vagas são avaliadas pela UFMG antes da efetivação da matrícula.

Permanência
Mais de 50% dos alunos atualmente matriculados no ICA são atendidos pela assistência estudantil, que é prestada por meio da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump). “Nos últimos anos intensificou-se, com a criação da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis e novas ações da Fump, o apoio aos estudantes alunos de baixa renda. Este é um trabalho fundamental para a permanência dos nossos alunos, e efetivamente tem diminuído a evasão. É uma satisfação saber dos bons resultados”, reforçou Leonardo Tuffi.

Andreia Silva e Santos, gerente da unidade da Fump no campus Montes Claros, explica que os estudantes podem ter acesso a diferentes programas de assistência estudantil, como alimentação, moradia e auxílio para as despesas básicas e acadêmicas. Ao longo do curso, os alunos assistidos também recebem acompanhamento psicológico, social, médico e odontológico.

Durante registro e matrícula, os candidatos são orientados sobre o serviço. “Montamos uma estrutura para atendimento dos estudantes, que precisam passar pela análise socioeconômica. Também oferecemos orientação a respeito da assistência estudantil como um todo", esclarece Andreia. A gerente lembra que a assistência pode ser solicitada em qualquer momento da trajetória acadêmica.

Alessandro Silva, o candidato a Zootecnia, mora na zona rural de Jaíba, município mineiro que fica cerca de 200 quilômetros de Montes Claros. Ele comenta que, após a efetivação da sua matrícula, pretende solicitar assistência estudantil para apoio em sua mudança. “Venho de uma família muito humilde e busco realização pessoal e familiar por meio da educação. Iniciei um curso de Ciência e Tecnologia em 2014, mas devido a dificuldades financeiras não foi possível dar continuidade. Escolhi a UFMG porque é uma excelente universidade e porque oferece programas de assistência estudantil mais consolidados. Agora pretendo me esforçar ao máximo para conseguir me graduar”, contou Alessandro.

Amanda Lelis / Cedecom Montes Claros