'Evita dengue' inicia segunda fase de testes com participação de 3,5 mil crianças
Pesquisa vai analisar incidência de arboviroses em bairros onde houve soltura de mosquitos infectados com a bactéria 'Wolbachia'
O projeto Evita dengue, implementado em Belo Horizonte no ano passado, entra na segunda fase de investigação, a partir da próxima segunda-feira, 14 de junho. As 3,5 mil crianças de 6 a 11 anos parceiras do projeto participarão de nova coleta de dados e testagem clínica para avaliação da incidência de dengue, zika e chikungunya. As crianças são estudantes de 58 escolas municipais, das quais 29 estão localizadas em regiões onde houve soltura do Aedes aegypti infectado pela bactéria Wolbachia.
O método de inserção da bactéria no mosquito, desenvolvido em 2011 pelo World Mosquito Program (WMP), está sendo testado em 11 países para avaliar a redução da capacidade de transmissão de arboviroses, como dengue, zika e chikungunya, pelos mosquitos infectados. Em Belo Horizonte, a aplicação é feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com autoridades locais de saúde e com financiamento do Ministério da Saúde.
Uma vez liberados no meio ambiente, os mosquitos com Wolbachia se reproduzem com os mosquitos nativos e começam a transmitir a bactéria para seus descendentes, o que faz aumentar naturalmente a proporção de mosquitos com menor capacidade de transmitir o vírus.
O coordenador do projeto, Mauro Teixeira, professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB, explica que o objetivo da pesquisa é testar a eficácia do método na redução da incidência de arboviroses, como ocorreu com o ensaio experimental conduzido na cidade de Yogyakarta, Indonésia, onde houve queda de 77% na incidência da dengue em comunidades tratadas com a bactéria. “Como a geografia e o clima em Belo Horizonte são muito diferentes dos de Yogyakarta, e essas diferenças têm impacto significativo na transmissão de infecções por arbovírus, esse estudo será fundamental para a compreensão da aplicabilidade geral do método em larga escala", afirma o professor.
A opção pelas crianças justifica-se por ser um público que fica mais restrito aos ambientes domiciliar e escolar, o que facilita o controle da incidência nas regiões onde circulam. Outra razão é que a participação da Faculdade de Educação da UFMG, da Secretaria Estadual de Saúde e da Prefeitura de Belo Horizonte na pesquisa prevê a realização de ações educativas para a promoção do pensamento científico, juntamente com o corpo pedagógico das 58 escolas participantes.
Para o pesquisador e líder do WMP no Brasil Luciano Moreira, mais informações epidemiológicas, como as do ensaio Evita dengue, poderão apoiar os resultados do estudo também em Niterói, Rio de Janeiro, “onde dados observacionais preliminares mostram redução de 60% no número de casos de chikungunya com o uso do mesmo método”.
Além da coordenação do professor Mauro Teixeira, responsável também pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Dengue (INCT Dengue), o projeto conta com a colaboração dos pesquisadores Srilatha Edupuganti, da Universidade de Emory, Derek Cummings, da Universidade da Florida e Albert Ko, da Universidade de Yale, todas nos Estados Unidos. Também participam dos estudos o Laboratório de Pesquisa em Virologia, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, a Prefeitura de Belo Horizonte, a Secretaria de Saúde de Minas Gerais e o Ministério da Saúde.
Saiba mais sobre o Evita dengue neste vídeo produzido pela TV UFMG.