Arte e Cultura

Festival de Verão lança olhares sobre as ressonâncias e 'ausências' da Semana de Arte Moderna

On-line, evento, que começa no dia 9, destacará 'modos de fazer' não contemplados pelo movimento de 1922, como as artes negra e indígena

Jaider Esbell:
Jaider Esbell, artista da etnia Macuxi, será homenageado Projeto Aulas Abertas / Centro Cultural UFMG

Com o tema Culturas em movimento: olhares da UFMG sobre a Semana de Arte Moderna, a edição de 2022 do Festival de Verão, que será realizada de 9 a 12 de fevereiro, vai propor reflexão sobre as contradições e desdobramentos daquele movimento cultural, bem como suas contribuições ao país.

Pelo segundo ano consecutivo, o Festival terá formato on-line e será transmitido pelo canal da Diretoria de Ação Cultural (DAC) da UFMG no YouTube.

O evento, que chega à sua 16ª edição, é referência em Minas Gerais e no país. A programação, gratuita, prevê palestras, rodas de conversa e uma apresentação de danças urbanas.

Homenagem
A abertura do Festival ocorrerá às 18h30 do dia 9 de fevereiro, quando a professora da Escola de Belas Artes Lúcia Pimentel conduzirá a homenagem ao artista indígena Jaider Esbell, falecido em 2 de novembro de 2021.

Na ocasião, o público poderá assistir novamente à palestra Rever Makunaíma, proferida pelo artista da etnia Macuxi, em 2021, durante o 53º Festival de Inverno UFMG. 

Em sua fala, Jaider tratou das origens do personagem mítico “Macunaíma”, nascido em uma tribo amazônica e que, em sua opinião, poderia representar “os sujeitos indígenas que despertam e advertem sobre o ato-reivindicação de um outro lugar para o mito, que seria, também, um outro lugar para a autoria, ilustrando, por tantos meios as apropriações, os deslocamentos e também as invisibilidades”.

De acordo com Lúcia Pimentel, a homenagem se justifica pela significativa contribuição de Jaider Esbell para a arte indígena – tanto no aspecto estético quanto da luta dos povos originários. “A atividade se propõe a ressaltar a necessidade de reconhecimento e, mais do que isso, de respeito pelas artes dos índios”, reflete.

Ayanne Sobral:
Ayanne Sobral: circulação de palavras e afetosDivulgação

O que 'ficou de fora'
A primeira palestra do Festival está marcada para quinta-feira, 10 de fevereiro, às 19h, sobre o tema Psicanálise literária: o campo do fora. A atividade será ministrada pela professora da UFMG Lucia Castello Branco  – autora do conceito de psicanálise literária – e pela psicanalista Ayanne Sobral, que é mestre em Psicologia Clínica.

De acordo com Ayanne, a apresentação vai tratar daquilo que, há um século, “ficou de fora” das discussões da Semana de Arte Moderna e do modernismo brasileiro. “A psicanálise e a literatura buscam circunscrever outros modos de escuta e de escrita, atravessados por posicionamentos éticos, políticos e poéticos. Neste momento de crise política e sanitária, buscamos demonstrar que a psicanálise e a literatura – e a psicanálise literária – representam o direito e a reivindicação à circulação livre, e tão necessária em nossos tempos, de palavras e afetos”, reflete a psicanalista.

Descolonização
Uma das atividades previstas para a sexta-feira, dia 11, é a roda de conversa Emergências: ver com os olhos livres, da qual participarão os professores Ana Cláudia Assis, da Escola de Música, e Marcos Alexandre, da Faculdade de Letras, além da artista Gabriela Guerra, doutoranda na Faculdade de Educação (FaE).

Gabriela Guerra explica que sua exposição será fundamentada nas investigações de que participa, desde 2010, com o Coletivo Black Horizonte, com o qual realiza trabalhos que têm como base as culturas afrodiaspóricas, em diálogo com as tecnologias digitais de som e imagem. Ela também trará para a roda as discussões empreendidas no âmbito do grupo de estudos Ciberterreiro, da FaE.

“Nesse grupo, refletimos sobre a descolonização dos currículos, interrogando como as diferentes disciplinas podem ser postas em diálogo e não ser entendidas apenas isoladamente. E, ainda, como as diversas linguagens artísticas podem ser experimentadas conjuntamente e em relação com cada campo de conhecimento, tendo como referencial teórico-metodológico as culturas afrodiaspóricas e indígenas", afirma a artista.

Fernando Mencarelli:
Fernando Mencarelli: olhares de pensadores e artistasSomos UFMG

Catalisadora das pautas modernistas
O coordenador do evento, professor Fernando Mencarelli, lembra que a Semana – como marco importante dos movimentos culturais brasileiros e catalisadora das pautas modernistas – será tema de inúmeros seminários, livros e debates que ocorrerão este ano.

Segundo o professor, no ano passado, ainda durante o Festival de Inverno, teve início uma ampla discussão sobre os projetos culturais que atravessaram os últimos 100 anos no Brasil e que “ressoam 1922”. “Faremos agora, no Festival de Verão, um desdobramento dessa discussão, reunindo os olhares dos pensadores e artistas”, informa.

Para a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, a Semana é emblemática do processo de valorização e afirmação da cultura brasileira, e seus desdobramentos são sentidos até hoje. “Esse centenário é muito mais do que uma efeméride. Refletir sobre a Semana de Arte Moderna é, sobretudo, refletir sobre os impasses de um Brasil que se modernizou, mas que ainda guarda traços de um país arcaico e desigual”, analisa.

Nuances
A coordenadora-adjunta do Festival, Mônica Medeiros, conta que os quatro dias de evento serão divididos por temáticas que exploram as nuances do movimento modernista.

No primeiro dia da programação, as ressonâncias da Semana no cenário contemporâneo guiarão as reflexões. No segundo dia, pesquisadores farão uma revisão sobre os grupos, as comunidades e os “modos de fazer” que não foram contemplados pela Semana de Arte Moderna de 1922, como as artes negra e indígena.

Serão exploradas, no terceiro dia do evento, as emergências no âmbito cultural contemporâneo, a partir das provocações expressas no manifesto da poesia pau-brasil, do escritor Oswald de Andrade. No quarto e último dia, será abordada a multiplicidade de saberes que constituem o campo de conhecimento das artes.

“Existe atualmente um movimento de abertura para outros conhecimentos e saberes na academia. Já é possível a coexistência dos saberes científicos com as artes e com os saberes da tradição, configurando uma pluriepistemologia. Durante esta edição do Festival, vamos realçar essas várias vozes que compõem a Universidade que desejamos”, afirma Mônica.

A 16ª edição do Festival de Verão também é destacada neste vídeo da TV.


Sobre o Festival
Nascido em 2007, o Festival de Verão UFMG é realizado anualmente pela Diretoria de Ação Cultural. O evento oferece ao público e à cidade de Belo Horizonte um vasto e significativo programa cultural durante as férias de verão.  A proposta é reconhecer e promover o processo de interação dinâmica entre cultura e educação.

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