Arte e Cultura

Ficção, ensaio, tradução: Editora UFMG lança três novos títulos neste sábado

Evento de lançamento será das 11h às 14h, na Livraria da Rua, com sessão de autógrafos

Neste sábado, 14 de maio, a UFMG lança três novos títulos na Livraria da Rua, em Belo Horizonte: uma ficção póstuma de Angelo Machado, uma tradução de Ângela Vaz Leão e um ensaio de João Antonio de Paula.

A Livraria da Rua fica na rua Antônio de Albuquerque, 913, na Savassi, e o evento de lançamento – que incluirá sessão de autógrafos – vai das 11h às 14h. 

Editora UFMG faz lançamento conjunto neste sábado, 14
Os autores dos novos volumes são todos vinculados à UFMGImagem: Reprodução de capas

Um 'libelo pacifista' para este tempo de guerra
O tratado de guerra é um livro póstumo do escritor, dramaturgo e professor emérito da UFMG (nas áreas de neuroanatomia e entomologia) Angelo Machado, falecido em abril de 2020. A obra de ficção é inspirada nos poemas homéricos, mas com um novo protagonista, o herói Papandreu, cuja biografia é narrada desde seu nascimento até sua morte.

Para Flávio de Lemos Carsalade, diretor da Editora UFMG, o livro é um verdadeiro “libelo pacifista”: trata-se, como ele define na nota de abertura do volume, de uma ficção que “nos transporta a uma dimensão ética e humana da qual a humanidade tanto tem se afastado em tempos consumistas, agressivos e pouco fraternos [como os atuais]”.

A intervenção da Virgem Maria pela ressurreição
Em Milagres de ressurreição nas Cantigas de Santa Maria, de Afonso X, o Sábio, a professora emérita da Faculdade de Letras da UFMG Ângela Vaz Leão – que completa 100 anos em outubro próximo – dá sequência ao seu trabalho de reunião, organização e tradução (do galego-português para o português) das 427 Cantigas de Santa Maria compostas por Dom Afonso X na segunda metade do século 13. Nesse novo volume, a pesquisadora traduz, anota e analisa 28 desses manuscritos medievais que têm como tema o milagre da ressurreição, providenciado através da intervenção da (e da devoção à) Virgem Maria.

No prefácio, o doutor em literatura latina e professor da PUC Minas Johnny José Mafra explica que se trata do “sexto livro de uma série cujo objetivo é tornar conhecida a poesia medieval galego-portuguesa, em especial os poemas notáveis do Rei poeta Dom Afonso X, e se soma às inúmeras teses e dissertações de mestrado e doutorado sobre o assunto, elaboradas e defendidas sob a orientação da professora, no Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas, nos últimos 20 anos”.

De fato, Ângela Vaz Leão inaugurou na PUC Minas um grupo de pesquisa centrado na obra poética do monarca espanhol, como ela explica na apresentação do volume. “O grupo compõe-se de sete ex-alunas que, na sua quase totalidade, concluíram o mestrado e o doutorado sob minha orientação e que, após o meu afastamento do Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas, me deram a honra e a alegria de continuar comigo o estudo das Cantigas de Santa Maria, em minha própria residência”, detalha.

Dois livros de Ângela Vaz Leão se destacam na série referida por Johnny Mafra. Em 2016, Ângela publicou, pela própria Editora PUC Minas, Cantigas autobiográficas de Afonso X, o Sábio, obra centrada nas cantigas afonsinas de perspectiva autobiográfica. O livro reúne 34 poemas cujos textos, traduzidos nos encontros semanais do grupo de pesquisa coordenado por ela, revelam episódios da vida de Dom Afonso X ou de alguém de sua família ou de seu convívio. Antes, em 2007, ela já havia publicado Novas leituras, novos caminhos: Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio, pela editora Veredas & Cenários, uma coletânea de ensaios que situam as Cantigas de Santa Maria em seu contexto histórico e cultural.

No vídeo abaixo, Ângela Vaz Leão fala à TV UFMG sobre sua história na Universidade.

Epidemias e capitalismo

Antes de ser um evento isolado, a atual pandemia é uma manifestação contundente da crise estrutural do capitalismo em relação ao meio ambiente, crise que se reflete no aquecimento global, na perda da biodiversidade, na expansão da desertificação, na crise hídrica. Essa é a premissa de que parte João Antonio de Paula em História, epidemias e capitalismo, livro escrito sob o impacto da pandemia de covid-19, em que o autor reconstitui panoramicamente o histórico humano de grandes pestes e a apreensão feita delas pela literatura e pelas artes ao longo da história.

[Leia aqui: em entrevista de setembro de 2020, João Antonio já introduzia as reflexões sobre a atual pandemia que ensejariam o livro que agora vem a público.]

'História, epidemias e capitalismo', de João Antonio de Paula
'História, epidemias e capitalismo', de João Antonio de Paula Foto: Raphaella Dias | UFMG

O livro está organizado em cinco capítulos: após a Introdução, segue-se A peste na história, em que João Antonio busca reconstituir a trajetória das pandemias ao longo do tempo com base em registros historiográficos; no capítulo As representações da morte triunfante, o autor repassa as pandemias com base em suas representações filosóficas, literárias e iconográficas; A peste no Brasil trata – em perspectiva historiográfica e literária – das pandemias que ocorreram no território brasileiro; em Epidemias e capitalismo, por fim, João Antonio “busca pensar uma agenda de questões que se abrem a partir da atual pandemia”, como ele mesmo anota na introdução do volume.

Ao fim da introdução, esta anotação do autor sintetiza o tom da obra: “Com efeito, a [atual] pandemia mostrou a completa indiferença da globalização globalitária quando se trata da vida e do bem-estar coletivo e põe em xeque o individualismo, o privatismo, a competição, o imediatismo, característicos do capitalismo. Instalada uma crise que solicita coordenação, cooperação, solidariedade, o capitalismo fracassa rotundamente e incita a retomada de projetos sociais alternativos comprometidos com a plena emancipação humana e social.”

De fato, como afirma o professor emérito da Faculdade de Letras Jacyntho Lins Brandão na apresentação que faz ao volume, João Antonio faz no livro um “exame cuidadoso das circunstâncias que cercam a epidemia em curso”, epidemia/pandemia que “se diferencia de todas as outras por se dar no contexto do capitalismo contemporâneo, mergulhada em todos os seus impasses e contradições”. Sob esse mote, continua Jacyntho, o livro oferece “uma reflexão em perspectiva que lança mão da experiência histórica sobre esse tipo de surto, sem esgotar na simples contemplação do passado seu objetivo”.

História, epidemias e capitalismo inaugura a coleção Tempos Presentes, criada na Editora UFMG sob a inspiração do ciclo de conferências homônimo que a Universidade realiza já há alguns anos. A meta da coleção é tratar de problemas próprios do contemporâneo – como o aquecimento do planeta, o aumento da desigualdade, as migrações forçadas, o desemprego estrutural, a persistência das discriminações, a erosão da democracia – de forma sucinta e clara, alcançando inclusive o público leigo, sem perda de profundidade.

João Antonio
João Antonio: globalização e capitalismo são indiferentes às demandas por bem-estar coletivo e emancipação humana e social Foto: Foca Lisboa | UFMG

Livro: O tratado de guerra
Autor: Angelo Machado
Editora UFMG
R$ 60 / 199 páginas

Livro: Milagres de ressurreição nas Cantigas de Santa Maria, de Afonso X, o Sábio
Autora: Ângela Vaz Leão
Editora UFMG
R$ 80 / 231 páginas

Livro: História, epidemias e capitalismo
Autor: João Antonio de Paula
Editora UFMG
R$ 54 / 135 páginas

Ewerton Martins Ribeiro