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Homens brancos da parcela 1% mais rica têm renda maior que todas as mulheres negras do Brasil

Dados são de estudo divulgado pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP

Mulheres negras representam 26% da população e possuem cerca de 14% da renda brasileira
Mulheres negras representam 26% da população e têm cerca de 14% da renda brasileira Sinpro-DF | Domínio público

Pesquisadoras da Universidade de São Paulo divulgaram um estudo que avalia a renda dos brasileiros a partir de recortes raciais e de gênero. Os dados que vieram a público na segunda-feira, 13, indicam que 705 mil homens brancos, 0,56% da população brasileira, que integram a parcela 1% mais rica, detém cerca de 15% da renda nacional. Esse percentual é maior que o de todas as mulheres negras juntas, que apesar de representarem 26% da população – ou cerca de 32,7 milhões de pessoas –, possuem apenas cerca de 14% da renda do país.

O levantamento também aponta que os negros, apesar de serem 54% da população adulta, representam 70% do décimo mais pobre do país. Ou seja, 7 em cada 10 brasileiros mais pobres são negros. Essas e outras estatísticas foram publicadas pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo, também conhecido como MADE USP, e mostram o que muitos já sabem: o topo da pirâmide de renda no Brasil tem cor e gênero.

Para trazer mais detalhes sobre o estudo Quanto fica com as mulheres negras? Uma análise da distribuição de renda no Brasil, e entender a verdadeira dimensão desses dados, o programa Conexões desta quarta, 15, contou com uma das autoras da pesquisa, integrante do MADE USP e do Levy Economics Institute of Bard College e doutora em Economia pela New School for Social Research nos Estados Unidos, Luiza Nassif Pires.

Ela ponderou que há vários aspectos a serem analisados nessa discrepância de renda entre homens brancos e mulheres negras, mas a origem do problema remete à escravidão e seus efeitos que não foram superados. A convidada explicou que o levantamento se baseou na teoria da interseccionalidade, apontando que a experiência de vida de uma mulher negra não é comparável nem à de uma mulher branca e nem à de um homem negro, pois é muito específica e acaba invisibilizada em vários estudos. Pires defendeu que políticas de redistribuição de renda e tributárias são fundamentais na redução da disparidade de renda entre brancos e negros.

“Como a gente tem essa interseção e essa multidimensionalidade entre pobreza, raça e gênero, políticas que façam transferência de renda, mesmo que sejam universais ou focadas na pobreza já tem um papel importante em reduzir a desigualdade racial. Por exemplo, o Bolsa Família já reduz um pouco, mas é claro que precisamos de políticas também focadas em raça.  Já a ação de taxar lucros e grandes fortunas tem um proposito duplo, que é tanto de arrecadar uma renda que pode ser distribuída para a base, como essa medida em si reduz essa distância porque ela aproxima um pouco o topo da base. É uma pena a gente não conseguir avançar nessa discussão da tributação dos mais ricos. Tem um obstáculo político, mas seria uma primeiro passo muito importante”, analisou.

Ouça a entrevista completa pelo Soundcloud.

O estudo Quanto fica com as mulheres negras? Uma análise da distribuição de renda no Brasil, do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo, está disponível na íntegra pelo site do MADE USP.

Produção: Carlos Ortega, sob orientação de Luiza Glória e Alessandra Dantas
Publicação: Alessandra Dantas