Colóquio discute relação entre o imaginário e a informação
Palestra que antecede o evento integra programação de atividades complementares noturnas
A relação das pessoas com a informação é permeada por elementos simbólicos e afetivos que mudam a forma como elas interpretam e dão sentido à realidade. A relevância desses elementos para os estudos dos fenômenos infocomunicacionais será discutida em palestras e conferências, nos dias 16 e 17 de agosto, no campus Pampulha, no 1º Colóquio Informação e Imaginário.
Segundo Cláudio Paixão, professor da Escola de Ciência da Informação (ECI) e um dos coordenadores do evento, esses fenômenos caracterizam a chamada sociedade da informação, na qual as pessoas estão “hiperconectadas 24 horas por dia”. A facilidade de comunicação tem produzido alterações nas relações pessoais, enfatiza o professor.
“Essas mudanças vão desde uma espécie de ‘cultura da urgência’, em que as pessoas são cobradas por respostas instantâneas às demandas que lhes são apresentadas, até uma ‘realidade nova’, na qual a espetacularização das informações acaba se tornando mais importante do que a correção ou a verdade veiculadas por elas”, descreve Cláudio Paixão, que ilustra o fenômeno da espetacularização citando o advento do conceito de “pós-verdade”, o fenômeno das fake news e o aumento de seguidores e disseminadores de crenças absurdas, como a da “terra plana”.
Assim, alerta o professor, as relações das pessoas com a informação não são tão racionais como sugerem a maioria dos modelos que descrevem a comunicação e o compartilhamento de informações. “Aparentemente, a relação das pessoas com a informação e a sua comunicação é matizada por uma série de elementos simbólicos e afetivos que, por serem muitas vezes inconscientes, acabam mudando radicalmente a forma como elas interpretam e dão sentido à realidade”, complementa Paixão.
A proposta do colóquio é trazer convidados de diferentes áreas que trabalhem com ferramentas capazes de investigar a interferência do inconsciente e do imaginário, relacionados à comunicação, ao compartilhamento e à interpretação da informação.
O evento terá a presença dos professores Heloisa Juncklaus, da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), Eda Tassara, da Universidade de São Paulo (USP), Danielle Perin Rocha Pitta, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marco Heleno Barreto, da Faculdade Jesuíta (Faje) e Eliane Pawlowski, da UFMG.
As inscrições para o I Colóquio Informação e Imaginário são gratuitas e se encerram no dia 15 de agosto. O evento será realizado no auditório A104 do Centro de Atividades Didáticas de Ciências Humanas (CAD2), no campus Pampulha. O evento é organizado pelo Gabinete de Estudos da Informação e do Imaginário (Gedii), da ECI. Mais informações sobre a programação podem ser obtidas no site do evento.
Pré-colóquio
No dia 13 de agosto, às 19h, na Sala 1000 da ECI, será realizado o pré-colóquio, que vai compor a programação das Atividades complementares, destinadas sobretudo aos alunos dos cursos noturnos. No evento, a palestra Autonomia popular, pluralidade e imaginário: a suposta contradição entre tradição oral e contemporaneidade será ministrada por Frei Chico van der Poel, que compartilhará suas experiências nas comunidades do Vale do Jequitinhonha.
Frei Chico abordará o conceito de autonomia popular. Segundo o professor Cláudio Paixão, “para o Frei, mesmo que sofrendo ‘colonização’ por parte das mídias e da tecnologia contemporâneas, as comunidades encontram, no seio de suas tradições, força e elementos para subverter a dominação e recriá-la”. Nesse contexto, o palestrante apresentará a cultura, a vida e o imaginário nas comunidades do Vale do Jequitinhonha, abordará a riqueza da pluralidade cultural e étnica e a importância da tradição oral na relativização do poder formal das instituições nas comunidades contemporâneas.
As inscrições para o pré-colóquio se encerram no dia 12 de agosto. Como o evento vai integrar a programação das Atividades complementares do noturno, as inscrições para os alunos da UFMG devem ser feitas na página de Gestão de Eventos pelo Minha UFMG. Para quem não é aluno, as inscrições serão realizadas no site do 1º Colóquio Informação e Imaginário.
Informação e Imaginário
O grupo de estudos Gabinete de Estudos da Informação e do Imaginário (Gedii) conta com a parceria da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, das universidades do Minho e do Porto, ambas de Portugal. “Acreditamos que entender o indivíduo em seus processos de significação do mundo, de busca e uso da informação, sob uma perspectiva simbólica, pode ampliar o foco das pesquisas sobre o fenômeno infocomunicacional, ao abordar vertentes até então pouco exploradas”, descreve Cláudio Paixão.
Dessa forma o grupo pretende contribuir para a reflexão sobre o uso da dimensão simbólico-afetiva na Ciência da Informação, visando formar um corpo teórico de sustentação para estudos dessa área ainda pouco explorada.
Segundo os integrantes do Gedii, “por baixo” da sociedade da informação e seus suportes tecnológicos e interconectados, existe outra sociedade, a “sociedade do imaginário”, que sustenta, alimenta e estimula, com emoções, as relações que se estabelecem na sociedade interconectada. “Simbólica, invisível e capaz de provocar compaixão e empatia para com refugiados e garotos presos em cavernas, por um lado, e, por outro, estimular o desprezo, o ódio, o racismo, a misoginia e a homofobia”, explica o professor.
Em setembro, o Gedii vai receber os pesquisadores portugueses Armando Malheiro, que cumprirá programação do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT), por meio das cátedras Fundep, e Alberto Filipe de Araújo, convidado do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação.