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Jogador Robinho é condenado na Itália por violência sexual

Em entrevista, programa Conexões aborda naturalização da violência contra a mulher e atuação das justiças italiana e brasileira no caso

Constituição Brasileira não permite a extradição de brasileiros e ainda há dúvida se o jogador poderá cumprir a pena em uma penitenciária nacional
Constituição Brasileira não permite a extradição de brasileiros e ainda há dúvida se o jogador poderá cumprir a pena no BrasilDivulgação

Robinho é um nome bem conhecido, dentro e fora da bolha do futebol, por ter representado a seleção brasileira nas Copas do Mundo de 2006 e 2010 e por sua passagem por times nacionais (Santos e Atlético) e internacionais, entre eles Real Madrid e Manchester City. Na última semana, o jogador foi condenado a nove anos de prisão, por um tribunal italiano, em um caso de violência sexual em grupo. O crime ocorreu em uma boate da cidade de Milão, na Itália, em 2013, época em que Robinho jogava pelo campeonato italiano. A vítima, uma mulher albanesa de 23 anos, preferiu se manter em anonimato durante o processo. O jogador já havia sido condenado em primeira instância, em 2017, mas estava desde então questionando, na Justiça, a condenação. 

A decisão da semana passada partiu da Corte de Cassação de Roma, a última instância da justiça italiana. Ou seja, não há mais como contestar a condenação e a execução da pena se torna obrigatória. Entretanto, Robinho atualmente está no Brasil. A Constituição Brasileira não permite a extradição de brasileiros e ainda há dúvida se o jogador poderá cumprir a pena em uma penitenciária nacional. Vale ressaltar que essa não é a primeira acusação de violência sexual contra Robinho. Em 2009, autoridades da Inglaterra chegaram a publicar uma denúncia de estupro contra o jogador, mas o caso não teve continuidade. No momento, há expectativa de que Robinho seja incluído na lista vermelha da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol). 

Para falar sobre o assunto, o programa Conexões desta quarta-feira, 26, entrevistou a professora do Departamento de Sociologia e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (Crisp), Ludmilla Ribeiro. A entrevistada partiu da importância de tipificar a violência contra a mulher e destacou que, apesar dos avanços, há ainda um grande número de subnotificação de casos: apenas 8% de toda a violência da qual as mulheres são vítimas chegam ao conhecimento das autoridades públicas. Além disso, como explicou a professora, estima-se que um número igualmente baixo de casos acaba realmente se transformando em processo na justiça, depois de relatado. 

Sobre ocorrências como a de Robinho, com nomes de peso, especialmente jogadores de futebol brasileiros, envolvidos em denúncias de violência sexual, Ribeiro afirmou que não se relacionam necessariamente à dinâmica de poder, mas a uma naturalização da violência contra a mulher no Brasil. “O que esses casos indicam é que esses homens são fruto da cultura brasileira, eles se comportam como os outros homens no Brasil se comportam, porque a gente tem uma naturalização dessa violência contra a mulher. A gente tem uma enorme culpabilização da vítima. O que o caso do Robinho traz de novidade, inclusive da forma como opera o sistema de justiça, é que o sistema de justiça italiano não culpabilizou a vítima”, explicou a docente. 

A entrevistada revelou acreditar que há uma dúvida de em que medida os tribunais brasileiros serão capazes de quebrar com a tradição machista de proteger os agressores e efetivamente levar o jogador ao cumprimento de pena. Baseando-se no histórico de decisões que vêm sendo apresentadas nos últimos tempos, a professora declarou que é pouco provável que isso aconteça.

Ouça a entrevista completa no Soundcloud.

No momento, também há expectativa de que o nome de Robinho seja incluído na lista vermelha da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), o que representaria maior dificuldade para que o jogador se desloque entre países. Casos de violência contra a mulher podem ser denunciados pelo telefone 180. 

Produção: Carlos Ortega, sob orientação de Luiza Glória
Publicação: Enaile Almeida, sob orientação de Hugo Rafael