Institucional

Livro conta a história da ciência nos 50 anos do ICB

Lançamento será na próxima sexta, dia 4, com transmissão no YouTube

Capa do livro organizado por Ana Carolina Vimeiro e Rita Marques
Capa do livro organizado por Ana Carolina Vimieiro e Rita Marques Reprodução

O caráter coletivo da ciência – representado pela força e relevância acadêmica e científica do Instituto de Ciências Biológicas, reconhecido como um dos mais importantes em sua área no Brasil e no exterior – é um dos principais aspectos tratados no livro A ciência no ICB UFMG – 50 anos de história. O evento de lançamento será nesta sexta-feira, dia 4, a partir das 16h, com transmissão pelo canal do ICB no YouTube

Na ocasião, alguns trechos e “causos” serão apresentados pelas organizadoras da obra, as professoras Ana Carolina Vimieiro Gomes e Rita de Cássia Marques, do grupo Scientia, dedicado à teoria e história da ciência e vinculado ao Departamento de História da Fafich.

A obra foi produzida, nos formatos impresso e e-book, pela Fino Traço Editora, que vai sortear dois exemplares durante a live para os participantes que se inscreverem no ato do lançamento. Participarão do evento os atuais diretor e vice-diretora, Carlos Augusto Rosa e Élida Mara Rabelo, e a diretora em cuja gestão foi iniciada a obra, Andréa Macedo.

Homenagem ao idealizador
Na ocasião, o professor Tomaz Aroldo da Mota Santos, idealizador e grande responsável pela produção do livro, será homenageado. Ele será representado pela viúva, professora Yara Maria Frizzera Santos. O professor emérito Tomaz, que morreu em 18 de junho de 2020, foi reitor da UFMG (1994-1998) e dirigiu o ICB por dois mandatos (1990-1994 e 2010-2014).

Tomaz Mota Santos sentia falta do registro da história da pesquisa no ICB
Tomaz Mota Santos sentia falta do registro da história da pesquisa no ICB Foca Lisboa | UFMG

Rita Marques ressalta que a expectativa do professor era que ficassem registrados os 50 anos de história científica que deram ao ICB o reconhecimento por sua excelência. Para ele, a história administrativa do Instituto já estava muito bem resguardada no livro ICB 30 anos: Memórias do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, organizado pelo ex-diretor Ramon Moreira Cosenza. A obra relata a trajetória dos departamentos da Unidade e a evolução do curso de Ciências Biológicas, desde os tempos da antiga formação em História Natural, uma de suas origens. "Tomaz sentia falta da história mais focada no trabalho de pesquisa", diz Rita.

Um dos casos exemplares, salientam as organizadoras, é o do Grupo Interdepartamental de Doenças Endêmicas (Gide), consagrado por sua capacidade de integração de pesquisadores de diferentes departamentos em uma agenda comum, sua inserção no cenário internacional e sua importância para a criação de condições de infraestrutura e formação de mão de obra especializada para a pesquisa biotecnológica de ponta. A obra revela diversos outros casos de sucesso.

“Este livro é um convite aos leitores para que se engajem nas questões da História da Ciência e reflitam sobre como o passado tem implicações no processo de desenvolvimento científico do presente”, afirma Rita Marques. Ela revela que a ideia foi aproveitar o estudo de caso dos 50 anos do ICB para discutir a complexidade da ciência em ação e a trama complexa em que se envolve o desenvolvimento da ciência em uma instituição universitária de ensino, pesquisa e extensão.

“Os valiosos depoimentos dos professores e funcionários entrevistados, guardiões das lembranças, desvelaram muitas "estórias" dentro da história, deixando perceber como, ao longo dos anos, foi-se tecendo uma memória coletiva do ICB”, explica a historiadora da ciência.

Legados e vocações
Os depoimentos e a documentação consultada possibilitaram captar a presença de valores e afetos partilhados coletivamente, tais como o senso de oportunidade para viabilizar as pesquisas – percebidos na escolha de temas conjuntos e na construção de infraestrutura partilhada pelos vários grupos do Instituto, como o biotério e o centro de microscopia – e o desejo de cultivar legados e despertar as vocações científicas desde a graduação.

“É no ICB, por exemplo, que nasce a Semana de Iniciação Científica”, recorda Rita Marques, lembrando também o valor da extensão para o desenvolvimento do conhecimento integrado à sociedade, a ênfase na biotecnologia e na aplicação dos conhecimentos, o apreço pelo ambientalismo e pela educação ambiental e a valorização das funções administrativas como frente de ação para se fazer política científica e universitária.

Ana Carolina Vimieiro observa, por sua vez, que a história do desenvolvimento científico do ICB é atravessada pelas conjunturas sociais, políticas e econômicas da segunda metade do século 20, representadas, por exemplo, pela ditadura militar no Brasil e a Guerra Fria.

Ela menciona também que o pioneirismo do ICB como agregador de graduação, pós-graduação e pesquisa em ciências biológicas e biomédicas se relaciona estreitamente com a trama de políticas científicas e educacionais e apoio financeiro de organismos internacionais dirigidos aos países do Terceiro Mundo. Foi o caso da Fundação Rockefeller, que fomentou formação e treinamento de muitos professores do ICB nos Esados Unidos.

“O programa de modernização conservadora do governo militar teve como efeito a reorganização institucional das universidades brasileiras na Reforma Universitária, em 1968, e muitos docentes do Instituto souberam explorar as condições políticas em benefício de suas atividades científicas, tornando-as mais centradas nos modelos moleculares e biotecnológicos”, observa Ana Carolina.

Relatos

Estes são alguns trechos de relatos dos entrevistados que mostram os esforços coletivos nos primórdios do Instituto de Ciências Biológicas.

Concentração das disciplinas básicas
O espaço amplo que as disciplinas básicas ocupavam na Faculdade de Medicina foi incorporado ao novo Instituto. A mudança gerou dificuldades e, com elas, também insatisfações, tanto de professores como de técnicos.

"A criação do ICB foi um ‘feito histórico’, vamos falar assim. Mas que assustou muito a muita gente. Desde o pessoal docente até o corpo administrativo. Por quê? De repente, aquele prédio da Medicina, que tem 10 andares, virou uma cidade, com a chegada do pessoal [do ICB], e foi agrupando todo mundo. (...) Teve muito colega nosso, administrativo, que pediu remoção para algum setor da Medicina. Eles não quiseram ficar no ICB."
Darcy Santos, servidor aposentado do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB, que vivenciou a transição. Na época da entrevista, ele tinha 75 anos de idade.

Busca de soluções de integração
“Desde o início, um grupo de professores se destacou na busca de soluções para o ensino integrado e a criação de disciplinas integradas de primeiro nível. Pensar em um ou dois anos de estudos em comum para todos os cursos das áreas biológica e da saúde; pensar em disciplinas e em como acomodar os alunos; como acomodar tantos alunos em uma só disciplina? E a prática nos laboratórios? E como avaliar tantos alunos ao mesmo tempo? O grande e moderno prédio da Faculdade de Medicina não era suficiente para tudo isso. Era preciso buscar alternativas. A aplicação das provas é um bom exemplo de como o ICB precisava de uma logística diferente daquela a que todos estavam acostumados. Outros espaços e outros horários precisaram ser pensados: Escola de Engenharia sábado de manhã, auditórios das faculdades de Direito e das Ciências Econômicas, auditório da Secretaria de Saúde, sexta à noite. Foi um processo muito trabalhoso, complicado e frequentemente gerador de atritos.”
Professor José Carlos Nogueira

Provas e logística de outros tempos
“Dávamos provas (...) na Escola de Engenharia, nos sábados de manhã. (...) Aulas e provas. E também usávamos o auditório da Secretaria de Saúde que hoje é lá o Minascentro. Ficavam 600 alunos, tinha 30, 40 professores tomando conta deles. Imagina a logística daquela época, sem internet, sem..., que era um problemão. E com gente insatisfeita, que saiu do seu cantinho, sem querer. [Ia] obrigado.

— Amanhã você tem que estar lá na Medicina.
— Ah, eu não quero.
—  Mas você tem que estar lá.

(...) Enquanto outros brigavam para ir, uns brigavam para não ir, para ficar nas suas origens."
Professor Hugo Godinho

Vista parcial do prédio do ICB:
Vista parcial do prédio do ICB: valores e afetos partilhadosLucas Braga | UFMG

Com Assessoria de Comunicação Social e Divulgação Científica do ICB