Medicina faz ‘censo’ inédito das entidades de acolhimento a usuários de álcool e drogas do país
Pesquisa indica que a regulamentação do setor e o aprimoramento dos processos de seleção e credenciamento por parte do Governo Federal tiveram impacto positivo nas entidades e no atendimento oferecido
A distribuição regional das vagas oferecidas nas instituições que atendem às pessoas com transtornos por uso de álcool e drogas do país ainda é bastante desigual. O maior percentual de vagas se encontra nas regiões Sudeste (34,06%), Sul (28,73%) e Nordeste (26,62%), e o menor, nas regiões Norte (3,3%) e Centro-Oeste (7,35%). Contudo, quando analisados relativamente, esses dados ganham mais complexidade. Isso porque, nas regiões Sudeste e Norte, os percentuais são ainda inferiores às proporções da população local, que são de 42,06% no Sudeste e de 8,41% no Norte. Ao mesmo tempo, os percentuais de vagas oferecidas são superiores às proporções da população local nas regiões Sul (14,3%), Centro-Oeste (7,44%) e Nordeste (27,8%).
Esses e outros dados constam do relatório da Pesquisa dos dados do monitoramento das entidades de apoio e acolhimento atuantes em álcool e drogas, realizada pelo Núcleo de Pesquisa em Vulnerabilidade e Saúde (Naves) da Faculdade de Medicina da UFMG, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), entre agosto de 2023 e junho de 2024. O relatório é o resultado de visitas a mais de 500 unidades de acolhimentos localizadas em todas as regiões do país. Entre outras coisas, o trabalho aponta que a regulamentação, o aprimoramento dos processos de seleção para a contratação e o processo de organização institucional das entidades avaliadas teve impacto positivo na qualidade dos serviços prestados. No estudo, foram analisadas exclusivamente as entidades oficialmente contratadas pelo Governo Federal.
Segundo o professor da Faculdade de Medicina Frederico Duarte Garcia, que coordena o Naves, o estudo é o maior já feito no país sobre o tema. “Essa pesquisa é inédita, a maior do Brasil e uma das maiores do mundo realizada in loco. Os resultados são favoráveis a essa política, a maior parte das entidades foram bem avaliadas. A normatização tem contribuído para a melhoria dessas instituições”, afirma o professor. Ele destaca o quanto a batalha para livrar os jovens da dependência química é desafiadora no Brasil. “Cada indivíduo e cada jovem que perdemos para a dependência química se torna um problema. A droga e a dependência empobrecem o país”, analisa.
Frederico destaca ainda a importância do apoio do Governo Federal para que a pesquisa fosse realizada. “É uma honra participar de um governo que acredita na ciência. Essa pesquisa foi um grande desafio porque visitamos comunidades de acolhimento de Norte a Sul. O estudo gerou um retrato muito claro do que são as unidades de acolhimento em nosso país.” Em consonância com ele, a pró-reitora adjunta de Pesquisa da UFMG, Jacqueline Takahashi, ressaltou a densidade e profundidade da investigação. “Essa pesquisa não é para ser lida, mas sim estudada. A UFMG está orgulhosa de participar desse projeto. As informações mostram a grande relevância da pesquisa científica para subsidiar decisões governamentais no aperfeiçoamento das políticas públicas”, celebra a pró-reitora.
Segundo o relatório da pesquisa, 88,1% das entidades visitadas têm infraestrutura que atende aos padrões de qualidade pré-estabelecidos. Do total de instituições monitoradas, 77,6% acolhem apenas o público masculino, 13,8% acolhem apenas o público feminino, e 8,6% são mistas. “Na avaliação qualitativa dos acolhidos sobre as entidades, a falta de atividades na rotina apareceu em quase um quinto dos relatos, a falta de contato com a família, em 15,5%, a prática de cobranças pelas entidades, em 13,6%, e a insuficiência de profissionais, em 11%”, anota-se na matéria do site da Faculdade de Medicina que divulga a pesquisa. A íntegra do relatório também pode ser acessada no site da Faculdade de Medicina.