Institucional

Minuto de silêncio por morte de aluno marca discussão de política institucional de saúde mental

Vice-reitora Sandra Almeida (ao centro): Universidade deve acolher e oferecer escuta
Vice-reitora Sandra Almeida (ao centro): Universidade deve acolher e oferecer escuta Foto: Foca Lisboa / UFMG

Um minuto de silêncio foi observado na tarde desta quarta-feira, 17, na programação da 5ª Semana de Saúde Mental da UFMG, pelo falecimento do estudante Bruno Magalhães. “É com muita tristeza que venho falar para vocês hoje – acabamos de saber que um aluno nosso, residente na Moradia, foi encontrado morto nesta manhã. Casos como esse nos fazem pensar se falhamos naquilo que deveríamos estar fazendo”, disse a vice-reitora Sandra Goulart Almeida, em referência ao acolhimento a pessoas com sofrimento mental. O comentário foi feito durante a apresentação e discussão do relatório que propõe diretrizes para a Política Institucional de Saúde Mental da e para a UFMG.

Bruno Magalhães vinha sendo acompanhado por uma assistente social e uma psicóloga da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), executora da política de assistência estudantil da Universidade. O estudante apresentava quadro de sofrimento mental e estava em tratamento em uma das unidades do Centro de Referência de Saúde Mental (Cersam). O jovem de 26 anos ingressou na UFMG em 2012 e desde então residia na Moradia Universitária. Seu corpo foi encontrado já sem vida pelos colegas por volta das 10h da manhã desta quarta-feira. Funcionários da Fump se encarregaram de comunicar e amparar os familiares e de tomar as providências necessárias junto às autoridades competentes.

A morte de Bruno repercutiu entre participantes do evento. Cristiane Rocha, ex-ocupante da Moradia Universitária e psicóloga formada pela UFMG, alertou que “a saúde mental é um problema da Universidade como um todo. A universidade contribui em muito para o sofrimento mental dos alunos: contribui para o isolamento, para a solidão, de uma forma excludente, muitas vezes, de uma forma que não cabe a diferença, não cabe a dor, o sofrimento do outro – isso tudo é suprimido aqui dentro”, disse ela, cobrando ações institucionais.

Há mais de um ano, a UFMG constrói a sua Política Institucional de Saúde Mental da e para a UFMG, resultado da atuação da Rede de Saúde Mental, ligada à pró-reitoria de Extensão. Na avaliação de Sandra Almeida, a existência da Rede é “muito importante para pensar institucionalmente os caminhos possíveis a serem trilhados”. Segundo ela, uma das questões em debate nesse evento e na Universidade é como acolher e direcionar pessoas – professores, funcionários, alunos – que precisam de atenção especial. “Esse é um papel importante: muitas vezes, são pessoas que já estão em tratamento, e cabe à Instituição dar a acolhida e, principalmente, a escuta”, enfatizou.

Ao destacar que no momento há mais perguntas do que respostas, Sandra Goulart Almeida reiterou a necessidade de construção coletiva de soluções, ainda que provisórias, “em relação a questões que nos afligem como comunidade e como seres humanos”. A vice-reitora agradeceu a atuação da Comissão de Saúde Mental (Cisme), que elaborou o relatório com grandes linhas de reflexão sobre o problema, e destacou que a Universidade deve procurar oferecer cada vez mais essa acolhida ao sofrimento alheio, por meio de ações e gestos que possam ajudar a comunidade em situações tão difíceis.

Implementação de diretrizes
O relatório conclusivo dos trabalhos realizados pela Comissão Institucional de Saúde Mental vinha sendo elaborado desde a 4ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG, realizada em maio do ano passado. O objetivo é subsidiar a atuação da Rede Saúde Mental da UFMG, de modo que ela possa se dedicar à implantação das diretrizes estabelecidas para os diversos âmbitos da Universidade.

De acordo com a pró-reitora adjunta de Extensão, Claudia Mayorga, o documento apresenta uma concepção de Universidade acolhedora, flexível, acessível, inclusiva, solidária e disposta a conferir protagonismo às pessoas que vivem a experiência de sofrimento mental. O texto, que também está sintonizado com a Política de Direitos Humanos da UFMG, defende uma atuação em consonância com o Sistema Único de Saúde (SUS) e com os dispositivos legais que compõem e orientam os programas municipal, estadual e nacional de saúde mental.