Modelo asiático deve ser seguido pela América Latina, defende Clélio Campolina
Em encontro realizado nesta manhã no Centro de Atividades Didáticas de Ciências Humanas (CAD 2) da UFMG, no campus Pampulha, reitores de universidades que integram a Associação de Universidades Grupo Montevideo (AUGM) se reuniram para a abertura do 7º Seminário Internacional Universidade, Sociedade, Estado. O evento, que neste ano aborda O papel das universidades públicas no cenário atual, integra as comemorações dos 90 anos da UFMG.
O professor emérito e ex-reitor da UFMG, Clélio Campolina, foi o responsável pela conferência de abertura Mudanças na ordem global e o papel das universidades públicas na América Latina. Economista, o professor focou sua apresentação na nova ordem mundial, destacando que o papel desempenhado pela China e por outros países asiáticos deve servir de modelo para os latino-americanos.
“Os países da América Latina precisam investir mais em educação, pesquisa e tecnologia, que são a base do desenvolvimento de uma nação. Isso só pode ser alcançado por meio das universidades, uma vez que formam cidadãos e funcionam como espaço para a crítica e para o debate”, disse.
O professor apresentou dados econômicos de alguns países para ilustrar a sua argumentação. Segundo ele, enquanto o Brasil hoje investe menos de 1% de seu produto interno bruto (PIB) em pesquisa, a China investe mais de 4%. “O capitalismo está em uma crise profunda, e o mundo precisa buscar um novo paradigma organizacional. Investir em ciência é essencial para um crescimento sustentável, e os países asiáticos já perceberam isso. Esse deve ser o desafio dos países da América Latina", defendeu.
Integração
Sobre as universidades da região, Campolina destacou que eles precisam atuar numa perspectiva de integração. “As universidades públicas latino-americanas devem se unir em pesquisas integradas sobre temas comuns. Falta essa integração universitária na América Latina, seja por meio de mobilidade de professores, pesquisadores e alunos, seja por meio de pesquisas conjuntas”, afirmou.
Reitor da UFMG de 2010 a 2014, Clélio Campolina apontou as dificuldades enfrentadas pelas universidades públicas no atual momento econômico e político brasileiro. Para ele, é assustador o fato de que o país, que registrou aumento de 2 milhões para 7 milhões de alunos no ensino superior durante o governo Lula, esteja passando, pela primeira vez nos últimos 10 anos, por uma queda no número de alunos matriculados no ensino superior. “É uma regressão perigosa, que atenta contra o desenvolvimento da nação”, afirmou.
Jaime Ramírez acrescentou que o papel das universidades públicas é fundamental nesse cenário conturbado. “As universidades reafirmam os valores sociais. Além de servir como meio de enfrentamento das crises, elas têm papel fundamental na sociedade contemporânea, uma vez que formam cidadãos capazes de lutar por uma sociedade mais justa.”
Para o presidente da AUGM, Waldo Albarracín, reitor da Universidad Mayor de San Andrés, na Bolivia, as instituições de ensino superior ocupam lugar destacado como organismos de Estado, uma vez que são responsáveis pela formação da sociedade civil e pela identidade de um povo. “As universidades da América Latina devem estar ligadas à identidade de seus povos. Além de formar bons profissionais, temos que formar pessoas com sensibilidade social e humana, preocupadas com temáticas que afetam a vida das pessoas. Aí reside a diferença entre universidades públicas e empresas que vendem ensino superior.”
A afirmação foi corroborada pelo secretário executivo da AUGM, Alvaro Maglia. “Neste seminário, queremos pensar em políticas públicas para uma educação superior de qualidade e que abarque toda a América Latina. É importante conseguir chegar a conclusões, mas sempre pensando a educação superior como um direito”, concluiu.